terça-feira, 5 de maio de 2009

A PEDRA ANGULAR

A pedra angular é, na terminologia simbólico-maçónica, a base fundamental dos edifícios. Todo o edifício terá a sua pedra fundamental. O nosso corpo, a nossa sensibilidade, a nossa mente, a nossa intuição enquanto edifícios construídos ao longo da nossa vida terrena - a que conhecemos minimamente - todos eles têm a sua pedra angular.
A estabilidade de um edifício depende da colocação equilibrada e correcta daquela pedra! Olhemos em nós e rebusquemos no nosso interior em demanda das nossa pedras fundamentais. Procurar ver se foram bem talhadas e se estão colocadas no devido local do nosso imenso edifício vital.
Segue-se uma história contada por Daniel BeresniaK. Ela fala-nos sobre a construção de um edifício e sobre a escolha da pedra angular desse edifício pelos doutos mestres-pedreiros. No fundo esta história serve para colocar a questão sobre quem estará mais preparado para contribuir para a construção e escolha da pedra angular - o aprendiz ou o mestre? E o que é ser aprendiz ou ser mestre? Passemos então à sua leitura e reflexão:


E a pedra recusada pelos construtores tornou-se a pedra angular

«Àquele que bate à porta dos construtores excelentes, é pedida uma prova da sua qualificação. Assim, o suplicante submete com humildade a sua obra aos oficiais guardiães desta Câmara de Excelentes. Esta obra , é uma pedra talhada, a imagem de si próprio, projecção mineral da sua entidade invisível, conquistada e percebida em geometria.
Os Guardiães examinam a pedra, voltam-na e tornam a voltá-la, julgam-na segundo as normas do saber de que são os depositários e por fim rejeitam-na. A pedra não está conforme. Ela não tem o seu lugar no edifício em construção e é arremessada para o refugo.
De cabeça baixa, envergonhado, o autor desta pedra falhada não opõe senão o silêncio aos sarcasmos de desprezo e às críticas pontificantes. Ele perturbou a reunião dos arquitectos. Foi rejeitado. Mas, no instante preciso em que ele ia ser posto para fora, a chegada do Mestre Arquitecto, autor do plano geral do edifício, é anunciada. Não há mais tempo para abrir a porta a fim de expulsar o intruso, pois poderia encontrar-se face a face com o Mestre Arquitecto e ofender a sua visão. Rapidamente, o intruso é dissimulado por entre os refugos do estaleiro da construção e a douta assembleia faz entrar o Mestre Arquitecto, com as honras devidas à sua posição. O Mestre Arquitecto, depois de se ter deixado honrar segundo os usos, anuncia que a construção do edifício está a chegar ao fim e pergunta se o fecho de abóbada já foi talhado. De seguida, após ter escutado por um instante o silêncio embaraçado da assembleia, o Mestre anuncia aos oficiais guardiães que essa pedra existe e que convinha procurá-la.
Todos procuram, mas não a encontram. Então, o Mestre Arquitecto dirige-se em direcção aos refugos, onde ainda ninguém tinha procurado. Descobre o fecho de abóbada por entre a pilha de pedras rejeitadas. Examina-a e julga-a perfeita.
Esta pedra, diz ele, é aquela que felizmente concluirá o edifício; é aquela que ele esperava e com a qual ele sonhava desde o início da obra. Diferente das outras, é por ela que as outras se segurarão e é por ela que as outras foram talhadas. Como é possível que ela tenha sido rejeitada? E contudo assim o deveria ter sido porque a construção durou tempo demasiado. Os construtores perderam de vista o sentido e a finalidade do seu trabalho. Instalaram-se nos seus hábitos. A repetição dos gestos embotou-os mentalmente: confundiram o fim com os meios, esqueceram o essencial, fizeram passar por normas absolutas as normas relativas nas fases transitórias. Terrível falta contra o espírito, pecado fundamental, eis aquilo portanto em que os oficiais guardiães desta douta assembleia se tornaram culpados.
“Como se poderá construir – clama o Mestre Arquitecto – se projectamos o presente no futuro, se somos incapazes de conceber outra coisa do que aquilo que já existe?”
Depois de ter esmagado a assembleia sob o peso da sua justa cólera, o Mestre Arquitecto ordena que lhe apresentem o autor da pedra há tanto tempo esperada. Os Oficiais Guardiães trazem respeitosamente para fora da pilha de refugos, aquele que tinham condenado e por detrás da qual eles o haviam dissimulado. O Mestre Arquitecto abraça-o e lhe torna a entregar o malhete, signo de autoridade, o qual não deverá ser confiado senão ao verdadeiro detentor de um saber-fazer, sob pena de desordem prejudicial ao edifício.
– Tu presidirás a fase mais delicada da construção – diz-lhe o Mestre.
– Somente tu és qualificado para o fazeres, porque és o autor da pedra única, a do ângulo. A tua obra é aquela pela qual o desafio que lancei às leis da gravitação será vitoriosa. Somente tu, aqui, és digno do título que transporto. Assim que tiveres colocado a tua pedra, conceberás o plano de um outro edifício, mais belo, mais forte e maior do que este.»

(in "Le “gai savoir” des bâtisseurs", por Daniel BERESNIAK, Éditions Détrad,2ème Édition,Paris,1986)

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