Com a sabedoria cresce o sentido do Mistério.
Porque tudo nos é sinal de outra Realidade. As coisas que pelos sentidos percebemos, as doutrinas que nos vêm pela mente servem para acordar-nos a uma verdade maior que a verdade dos olhos ou a verdade puramente lógica.
A Teosofia, ao mesmo tempo que nos aparece como um vasto horizonte em que a razão se espraia e purifica, no pulsar dos ritmos e na contemplação da harmonia cósmica, também nos é proposta como uma face de mistério.
Enigma que na vida se desdobra e na Vida abandona a sua máscara, perante aquele que de coração puro se apresenta para viver sua verdade.
Mas enigma que se não descobre só com os olhos da mente.
Os princípios da Antiga Sabedoria são propostos à nossa verificação individual, como experiência a viver a todas as dimensões. Não, pois, como doutrinas constituindo objecto de uma crença cega, mas como «hipóteses de trabalho». (Tal a hipótese que o cientista põe à prova, por lhe ter aparecido como explicação satisfatória dos factos observados). Autênticos guias de acção. Verdadeiras leis cósmicas e humanas, esses princípios cuja verdade vamos encontrando na experiência de todos os momentos, aprofundada em reflexão.
Mas uma mera apreensão intelectual da Teosofia não é Teo-sofia ainda. Não é ainda essa sageza (ou sophia) que se não possui mas que se é. E que apenas se é quando por nós se vive.
O conhecer da mente torna-nos seguros. Demasiadamente estáveis e seguros. É preciso, a cada instante, que a vida por nós circule. Dinamizando, inquietando. Para além desses limites do horizonte mental, por nós próprios traçados, como um círculo aprisionante.
Conhecer só com a mente não é sageza ainda, esse saber viver que transparece no olhar, na voz, no gesto.
Por muito lógicas que possam aparecer, soam a falso as palavras sem lastro de vivência. Atraiçoando o mundo, que tem sede de verdade inteira.
A «doutrina dos olhos» é apenas a dimensão horizontal de uma profundidade, coração da Vida, que só o coração pode abraçar.
Ela é apenas um roteiro. Apenas marco ou sinal dessa profundidade Vida, permeando os dias do nosso real quotidiano.
A «doutrina dos olhos» é uma ponte de passagem. Não uma terra para ficar.
Está em nós essa sageza a que chamamos Teo-sofia. Tal como tudo está em nós.
O caminho é a procura dentro, ao mesmo tempo que vivemos for a. Numa compreensão comunicante.
Doutrina do coração ultrapassando todas as doutrinas. Desfazendo as barreiras que criámos. Reconstituindo, na procura, a Unidade perdida que esquecemos, mas desde sempre nos atrai chamando, como uma Terra de Promessa.
Maria Beatriz Serpa Branco
in «Osiris», Boletim da Sociedade Teosófica de Portugal, N.º 141,
Janeiro, Fevereiro, Março de 1968.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário