sábado, 16 de maio de 2009

A BUSCA ESPIRITUAL

A Busca Espiritual, a Demanda! — O que são? Que sentido têm nos dias de hoje? Como se equacionam em termos individuais e de grupo?...
Para procuramos o Caminho será necessário sabermos o que procurar, e sabermos o que procurar, levar-nos-á inevitavelmente a uma abordagem do real na zona do Auto-Conhecimento, onde a compreensão dos problemas da vida e da morte é indispensável para que alguém se possa situar plenamente, e de facto, na Senda de uma autêntica Busca Espiritual.
No entanto, há que sublinhar devidamente, este Conhecimento, portador da Verdade e que confere a Libertação e a Paz ao Ser Humano, "comprometido" com a Sageza das Idades, é incomensurável, omni-abarcante, não limitado, mas que poderá ser percebido pelos que o querem perceber.
Desejo, avidez e ignorância (tanha e avidya, conceitos que, no Oriente são utilizados por alguns sistemas filosóficos, tal como o Yoga, e por algumas Religiões, tal como o Buddhismo) são os grandes limitadores e condicionadores do Real Conhecimento. Assim, o primeiro degrau na Escada Espiritual é a expulsão efectiva destes elementos perturbadores, destes vendilhões do Templo e, segundo se crê, inerentes à condição humana. Contudo, não se encontrarão naquele Homem que se assume Senhor e Legislador do seu próprio destino, porque liberto das cadeias de acção e reacção, de causa e efeito, em que a generalidade da Humanidade se encontra enredada, oprimida e sofredora.
A Busca, no fundo, está em nós, o Caminho passa realmente pela nossa auto-compreensão, desde os tempos imemoriais da História do Homem, em que este conseguiu, por mérito e por direito, ter acesso ao Castelo do Graal. Aqui, onde brilha a Lanterna da Intuição poder-se-á completar a Aventura da Demanda — nesta Terra Graálica que é Évora!... — quando, ao bebermos do Cálix Sagrado, a transmutação espiritual acontecerá e o homem-em-demanda, que somos todos nós, finalmente, se transformará, se transmutará, em Homem-Crístico, o Senhor Universal da Compaixão. Então, o microcosmos e o Macrocosmos voltam a identificar-se conscientemente, então, como o afirmou o Poeta, o homem

"Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."

Mas, quando se inicia a Busca? Poderemos nós decidir conscientemente do início da Demanda? Poderemos nós querer iniciar o Caminho? Haverá métodos de procura?
Questões importantíssimas que se nos colocam, tanto mais importantes quanto nós sabermos e estarmos conscientes da ilusão que nos domina a todos os níveis — físico, psicológico, espiritual...
É necessário sentir e viver o apelo interior, mais profundo, e para além de quaisquer definições ou justificações que possamos apontar aquando do seu aparecimento. Afinal as nossas mais autênticas aspirações são a conquista da felicidade, a compreensão global da Verdade, o conseguirmos vivenciar o Deus-em-nós – esperança de Glória, segundo o grande Iniciado S. Paulo –, dependendo muito da idiossincrasia de cada um e do seu projecto de Vida, a qualidade do apelo e do impulso sentido, buscado e vivido.
A Via ou Busca Espiritual é a total disponibilidade, é a faculdade mais profunda do Ser que se predispõe a efectuar a recepção de energias espirituais no próprio momento em que se implementa e desenvolve interiormente o estado da Grande Compaixão, aquele estado de dádiva absoluta, inclusive da própria vida... tal como diz A Voz do Silêncio: "Renuncia à vida se queres viver."
A Busca começa em nós. A Unidade tão procurada, o Deus tão aspirado…, residem no mais profundo e permanente de nós. Como é afirmado no Chandogya Upanishad (III-14): "Este Atman que reside no coração, é menor que um grão de arroz, menor que um grão de cevada, menor que um grão de alpista; este Atman, que reside no coração, é ao mesmo tempo, maior que a Terra, maior que a atmosfera, maior que o céu, maior que todos os mundos reunidos."

[Os Upanishads, livros de carácter sagrado que, na Índia são comentários explicativos dos Vedas].
Dizia Paracelso que "Trazemos em nós o centro da natureza." Assim, cada um de nós é realmente um centro que efectua a ligação do Céu à Terra, mais ou menos conscientemente, com mais ou menos intensidade, mas em contínua evolução, em permanente busca, onde impera o sofrimento ou a felicidade, a paz ou a guerra, o amor ou o ódio, ou então achamo-nos subitamente num estado onde não é possível encontrar quaisquer referências para se compararem os complementares, para se olharem as contradições, para se apontarem os conceitos antagónicos… É através desse estado, de aniquilamento do eu ilusório, que acontece a autêntica percepção da Totalidade, no sentido da autêntica consciencialização da Unidade, da Vida e da Morte. Quando acontece, não a identificação do eu com o Caminho (auto-valorizando-se egoisticamente aquele), mas sim quando transparece uma autêntica Libertação, Transmutação Espiritual do indivíduo em relação à Lei de Causa e Efeito que rege o desejo de viver. Lei desencadeadora de forças, de espectativas, de tensões, num espaço e num tempo limitados e limitadores, onde o Desconhecido, o Atemporal, o Ilimitado e a Demanda Espiritual – porque não comprometidos com os prazeres comuns do quotidiano – não fazem sentido...
A Busca, a Demanda, autênticas, são Solidão... mas são igualmente estados de União e Comunhão. Ao nível da relação humana e da relação do Homem com o Universo, nos estados de consciência atrás referidos, não existem um sujeito e um objecto separados e isolados um do outro, não existe a separatividade ilusória, mas onde a cada um é conferido (implícita e objectivamente) um Estatuto de Ser e de Ser dotado de Palavra simultaneamente Criadora e Libertadora...


Rui Arimateia / "Textos Teosóficos VI"
Évora / Ramo "Boa-Vontade" da Sociedade Teosófica de Portugal

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