sábado, 9 de maio de 2009

HOLISMO

“Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia,
/ o olham como eu…”

Alberto Caeiro


Nos nossos dias está a pouco e pouco a despontar um novo modo de, digamos assim, investigação e comunicação entre os homens – a perspectiva Holística. Isto é, um modo de pensar abarcante, total e unitário, que olha as várias disciplinas do conhecimento do homem e da Natureza sempre em relação umas com as outras, não compartimentalizando, não separando o conhecimento, mas sim integrando-o.
Este método revolucionário não é novo pois que, a Perspectiva Holística que, por um lado significa total e pôr outro sagrado, contrapõe-se àquela maneira de ser que espartilha a realidade e que toma a parte pelo todo, que prefere a análise à síntese. Como se vê, por exemplo, no Conto Tradicional e no Mito, onde a Realidade Última é abordada, sempre o Todo está presente, em contínua transformação e harmonia. A Sabedoria Tradicional, autenticamente religiosa, no sentido de re-ligar (do latim religare), isto é, unir, juntar, olhar o Todo de preferência à parte, de preferência à separação, à desunião. São conceitos tão complexos como aqueles que quotidianamente lidamos, como por exemplo: haverá diferença entre o olhar e o ver? Entre o ouvir e o escutar? Entre o mexer e o sentir?…
Por outro lado, a perspectiva holística, para o homem, é, afinal, o acordar da totalidade dele próprio e do seu enquadramento vital criativo, no qual ele poderá desenvolver ou despertar a sua essência espiritual. Consequentemente, a consciencialização desta Unidade, em si própria, confere ao homem uma imensa responsabilidade perante a Natureza, suas Leis e Evolução.
A PERSPECTIVA HOLÍSTICA deverá ser encarada como a experimentação, pelos homens e pelas mulheres do mundo de hoje, do início de uma vasta transformação cultural fundamental, que se poderá pôr a par de outras fundamentais revoluções culturais da Humanidade na sua Evolução, através dos milénios, neste Planeta, tais como:


* o ponto de libertação da mão e do cérebro no homem;
* a descoberta do fogo, seu domínio e utilização;
* a passagem do nomadismo ao sedentarismo – a Agricultura;
* a invenção da escrita – a História;
* o antigo polo civilizacional da Índia;
* o antigo pólo civilizacional do Egipto;
* os antigos pólos civilizacionais Helenístico e Romano;
* Gautama, o Buddha e a sua mensagem reformadora no Oriente;
* Jesus, o Cristo e a sua mensagem reformadora no Ocidente;
* a Revolução Industrial do século XIX e as suas consequências;
* a aproximação Holística.

Esta nova descoberta irá consequentemente provocar transformações radicais na ordem estabelecida anteriormente e surgirá então uma NOVA CULTURA.
A APROXIMAÇÃO HOLÍSTICA apresenta-se como um fio condutor que unirá, unificará e reunirá as várias ciências e filosofias num novo movimento com uma nova e consequente dinâmica de intervenção ao nível dos conceitos e das práticas de concepção do mundo.
A política, a economia, a tecnologia mudarão de carácter e mudará igualmente a relação de dependência Norte/Sul, do Ocidente em relação ao Terceiro Mundo, em última análise, mudarão as relações que os homens estabelecem entre si e entre o Universo.

Holismo, é portanto, um neologismo que se poderá identificar com uma perspectiva globalizante da Vida numa visão macroscópica, sistémica e ecológica. Em última análise, e focando uma realidade Teosófica, há que forçosamente o relacionar com a visão Unitária da Vida e do Homem, em que nada se encontra desligado e ou separado de nada, interpenetrando-se os conceitos, os átomos e as acções do e no quotidiano… Conceito relativamente recente nos meios científicos e culturais, tem em si subjacentes as ideias de integração, de totalidade, numa perspectiva abarcante de toda a realidade humana que faz parte integrante das nossas relações quotidianas, enquadradas pela Natureza e pela Cultura – duas faces da mesma moeda…
Num enfoque do macro-social passamos do modelo reducionista economicista para um outro modelo totalmente novo onde a complexidade da relação humana e da sua actuação equilibrada no Cosmos acontece e se desenvolve harmoniosamente. Afinal existe uma alternativa de Intervenção para o Homem! E esta aparece através do diálogo e da mudança, através da Ecologia, da Física, da Filosofia, da Biologia… Através da tentativa de construção séria e responsável de um mundo novo, de um homem novo, que se quer dinâmico e não-dogmático e necessariamente em transformação e em evolução contínuas. A Nova Era, onde a Fraternidade poderá efectivamente ser alcançada e vingar no espírito e na acção dos homens de boa-vontade.
Estarão, contudo, criadas as condições para o aprofundamento desta relação nova que aproxima inevitavelmente a parte e o todo? Entre mim e a flor à minha frente constitui-se, forma-se, existe uma Vida Única e Una – talvez esteja aqui a chave da nova relação transformante e transformadora…
Holisticamente, causa e efeito não são opostos, mas constituem um todo indivisível, reflectido na percepção individual que emerge com uma nova consciência, abarcando o Universo na sua totalidade… Será deste pressuposto que terá de brotar uma nova atitude face à Realidade e às relações humanas, complexas por natureza, quotidianamente implementadas nos vários níveis e sectores da intervenção social, cultural, científica… e durante as próprias actividades comezinhas do dia-a-dia… Mas, repito, haverá condições para aprofundar verdadeiramente a relação profunda que existe entre a parte e o todo? Entre o observador e o observado? Entre mim e a flor está a Vida Una, o Todo Indivisível, mas quiçá oculto porque ainda não despertei para a Percepção Total… onde a Voz do Silêncio e o Cântico da Criação vibram em Uníssono.
Entretanto não será de ir acompanhando o Professor Agostinho da Silva quando ele vai “Com mais gosto do paradoxo do que do ortodoxo ou do heterodoxo, tão adverso e semelhante companheiro deste último.”?…

Rui Arimateia / "Textos Teosóficos IV"
Évora / Ramo "Boa-Vontade" da Sociedade Teosófica de Portugal

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