Não me inveja de quem tem
carros, parelhas e montes
só me enleva quem bebe
água em todas as fontes.
O cancioneiro tradicional e popular alentejano contém em si vestígios da sajeza das idades… aquela sabedoria oculta, subterrânea, que nos diz que todos os homens são irmãos, que todos detêm um saber que está para além da propriedade material das coisas, dos objectos. E todos poderão partilhar a sua riqueza espiritual colocando-se cada qual disponível para ouvir o outro, aprender com o outro.
O alentejano ao ouvir as modas está simultaneamente a escutar o outro e a aprender com ele; e quando canta está a partilhar, está a ensinar. Através do seu cante o alentejano está a ser ele próprio e está a interpretar aquela voz que lhe chega das entranhas da sua terra-mãe, terra onde vive e onde trabalha e onde canta.
Nos dias que correm é cada vez mais necessário que cada um de nós queira e consiga “beber água em todas as fontes” para que as diferenças de todos possam ser compreendidas e aceites por todos. Para que aquilo que diferencia os homens uns dos outros seja um factor de aproximação e não um factor de desavença e de desentendimento.
O ser humano é uno e indivisível tal como a própria Vida. Às vezes é alentejano ou beirão; é cristão ou muçulmano; é judeu ou hindu; é preto ou é branco… No fundo a essência vital que anima os corpos dos homens é a mesma e eles estarão “condenados” a entenderem-se e a interagirem como irmãos se quiserem que a Civilização continue e evolua equilibradamente ao som da Música das Estrelas que nos envolve e que nos inspira a brotarmos para fora das nossas almas de alentejanos e de cidadãos do mundo aquele grito, aquele cante, que tanto nos diz e tanto nos encanta…
R.A.
Évora, 5 de Abril de 2008
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1 comentário:
Querido Irmão,
Que profundo e maravilhoso texto com que assim nos brindas!
Não poderíamos estar mais de acordo com a VISÃO que espelhas e é também a nossa, e por isso o papel pedagógico dos blogues pode ser muito incentivado se CIDADÃOS fraternos e compenetrados partilharem as suas inspiradoras e fraternas visões! OBRIGADA.
Um abraço meu e do José António,
Isabel
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