quarta-feira, 29 de abril de 2009

JOVEM POETA PROMISSOR


Este espaço serve também para partilharmos preciosidades há muito escondidas dos olhos do mundo. Refiro-me ao facto de José Carlos Ary dos Santos, então apenas com 14 anos de idade ter escrito ao director da revista de cultura e arte "Horizonte" editada em Évora em 1951, a mostrar-se interessado em publicar os seus versos ali. A surpresa do Director da revista, Manuel Madeira, foi grande, não tanto pela ousadia de uma criança de quatorze anos mas sim pela grande qualidade da escrita. Aqui ficam então os dois sonetos de José Carlso Ary dos Santos:

ALTÍSSIMUS!

Mais astros, mais azul e o mar maior,
Que a minha alma não cabe nesta vida,
Inda mais alto o rumo do condor,
Que eu ainda o ultrapasso na subida!

Maior angústia e mais intensa a dor,
Que entre o meu pranto enorme está perdida,
Mais rubro o Sol e mais viçosa a cor,
Numa campina grácil e florida.

Inda mais fundo o abismo dos rochedos
Mais escondida a chama dos segredos!
Que em nossos corações andam dispersos!

Mais vida, mais montanhas, mais espaços,
Que a vida é um foguete nos meus braços
E o espaço é uma rima nos meus versos.

José Carlos Ary dos Santos


CRUZ

Ter asas e pesarem-nos os braços,
Ter sonhos e morrer nesta ansiedade,
Vivermos nos azuis e nos espaços
Caindo nos abismos da maldade!

Sabermos que envenenam aos pedaços
Nosso anseio de paz e de bondade,
E que espiam de noite os nossos passos,
Fugindo-nos depois na claridade!

Sofremos um inferno em cada hora,
Tendo a alma fechada, incompreendida,
Eternamente à espera duma aurora.

Não vejamos, por isso, mal algum
Que o Senhor Deus, quando nos deu vida
Deu-a em forma de Cruz a cada um!

José Carlos Ary dos Santos

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