sexta-feira, 3 de abril de 2009

Lenda da Nora da Herdade dos Padres

Na Freguesia de São Sebastião da Giesteira, Concelho de Évora, contaram-me, em 1983, a seguinte lenda, da tradição oral local:

Na Herdade dos Padres há uma nora muito antiga, quiçá do tempo dos mouros... Com largos muros e águas negras e profundas, com lodo que a uns escassos metros da superfície esconde eficazmente as suas profundezas, os seus habitantes e os seus tesouros...
Conta-se que realmente existirá no fundo desta nora um tesouro, um grande tesouro que fará muito rico quem tiver a sorte de o encontrar, se tiver a coragem para o procurar. Isto porque o tesouro é guardado por uma enorme serpente pronta a resistir a quaisquer profanações.
Assim, aquele que à meia-noite conseguir ir ao fundo da nora e encarar com o tesouro, aparecer-lhe-á a serpente, vigilante desde há muitas eras, que subirá pela espinha do aventureiro atrevido e lhe irá dar um beijo na testa. E eis que acontece o momento supremo da lenda e decisivo para o protagonista arrojado: se ele se arrepiar, ficará encantado no fundo da nora de onde não mais sairá, mas se vencer a serpente e não se arrepiar, ganhará o tesouro e usufruirá das suas imensas riquezas.


Lenda com um conteúdo simbólico muito particular e a merecer uma reflexão aturada. Lenda imbuída de um orientalismo expresso a ser estudada teosoficamente, no âmbito das religiões e filosofias comparadas.

1 comentário:

Isabel José António disse...

Percurso alquímico e de despartar do Kundalini, fico espantada que as nossas lendas populares tenham estas curiosas vertentes... Por outro lado, essa característica de "não se arrepiar" faz lembrar a aprendizagem (tão recomendada por Krishnamurti) de sabermos OBSERVAR sem juízos de valor... neste caso, de sermos capazes de aceitar o "beijo da serpente" sem fazer comentários (sentor aversão).

Profundo e novo...

Obrigada!

Isabel e José António