Ontem à noite a Praça do Giraldo encheu-se de eborenses para em conjunto comemorarem uma data que tem ainda um grande sentido para Portugal e para os portugueses - o 25 de Abril de 1974. Dia em que um movimento de capitães pôs fim a um regime totalitário e injusto, à guerra de África, ao isolamento político, social e cultural a que estávamos constrangidos.
Ontem os cravos reergueram-se bem alto na Praça do Giraldo, em gestos harmoniosos, como que a afastarem alguma ameaça pressentida, como que a insurgirem-se contra alguma força estranha àquele viver em liberdade que conquistámos naquele já longínquo dia 25 de Abril...
Évora estava em festa, também a música, a poesia e as vozes estavam bem presentes a cantarem a Grândola Vila Morena e soaram bem alto...
São momentos como estes que nos fazem pensar na Liberdade, quanto preciosa ela é e que diferentes significados terá para cada um de nós que a aclama, a defende, a grita e a canta!
Contudo ela só existe realmente se a soubermos construír e acarinhar dentro de nós próprios. A Liberdade é muito frágil, contudo poderá ser inspiradora de mudança, de transformação e de sensibilidade perante o mundo, os outros e principalmente perante nós próprios.
Ouçamos a inspiradora palavra de Miguel Torga:
LIBERDADE
— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga, in 'Diário XII'
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário