AS BRINCAS EM MACHEDE
Depois da formação e da entrada no Largo ou na Rua, o Mestre da Brinca dirige-se à pessoa mais representativa desse lugar – o dono da rua. Neste caso concreto, o Sr. Marcos referido era, em 1959, o Sub-Regedor da Freguesia de Nª Sª de Machede, ferreiro de profissão e morador na rua da Igreja. O Regedor era o Sr. José Baptista, lavrador. Autoridades a quem a Brinca deveria apresentar-se em primeiro lugar para ter lugar a apresentação da censura... para poder ser apresentada posteriormente à população em geral.
A informação e os excertos de fundamento – fórmula inicial do mesmo – foram da autoria de Bernardino Manuel Pereira Piteira, já falecido, e a quem deixo as minhas mais respeitosas homenagens.
I
Senhor Marcos faça favor
Venho aqui à sua rua
Para pedir autorização sua
Porque o dono é o senhor
Quero-lhe pedir com amor
A sua boa licença
Quero que os que estão em nossa presença
Minha obra possam ouvir
Faz favor de me decidir
Para apresentar a pouca inteligência.
II
(Depois do dono da rua dar autorização para o desenrolar da função):
Quero lhe agradecer
Com um aperto de mão
Por saber que é o patrão
E a licença me ceder
Já lhe vou esclarecer
A minha pouca inteligência
Esta minha ’devertência
Vai agora observar
Não sei se irá gostar
E se não gostar tenha paciência
III
(O Mestre da Brinca dirigindo-se ao Grupo referindo que têm licença do dono da rua para apresentar e pedindo-lhes que se portassem bem):
Rapazes do coração
Não sei se estão a reparar
No que estive a publicar
Vejam lá o que farão
Reparem tomem atenção
Em tudo que vamos fazer
É isto que lhe quero dizer
Não se deixem distrair
É para todo o povo os ouvir
Ouvir e ficar a saber
IV
(Começa o Mestre da Brinca por se dirigir ao público explicando a sua intenção e qual o argumento, enredo, que irão desenvolver):
Sim senhor vou começar
Porque tenho a licença dada
Agradeço em nome da rapaziada
Porque me veio a calhar
Terão que me desculpar
Se fiz alguma coisa mal
Eu não sou profissional
Nem vivo com essa mania
É só para lhe dar alegria
Nos dias de Carnaval
V
O meu dito fundamento
Quero a todos esclarecer
Para no fim lhe dizer
O fundo é o casamento
Isto é neste momento
Que nós podemos pensar
Para uma relação tirar
Como se cai neste engano
Vamos todos ver este ano
Se por acaso tivermos vagar
VI
Um rapaz que não namora
Passa a vida sem alegria
Até que chegou o dia
Uma rapariga arranjou
Tudo para ele se voltou
Entrou então na mocidade
Teve aquela felicidade
De viver sempre enganado
E já não pára calado
Agora que não tem idade
VII
Para lhe esclarecer
De um rapaz não namorar
Se calha uma a aceitar
O que vai acontecer
Há logo muitas a querer
Porque ele já namora
Isto é a mocidade de agora
Só pendem para a vaidade
Não olham para quem tem bondade
Vão ver já pouco demora.
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