OS ELEMENTOS-FORÇA CONSTITUINTES
A. O Palhaço
«A alma da brinca, para quem a representa, é o fundamento; e para quem a presencia são os palhaços», segundo depoimento de Mestre de Brinca.
É o Faz-Tudo. Serve de ponto, serve igualmente para tapar os enganos dos companheiros. A sua fala é de improviso.
Tem uma função essencialmente desorganizadora e anomista na ordem dramática decorrente durante a representação. É um provocador de situações absurdas, irracionais, cómicas...
É, por outro lado, o elemento dinâmico que intervém ao longo de todo o tempo da representação. É o grande elo de ligação entre o círculo onde decorre aquela representação e o próprio povo que assiste e que, subitamente, se encontra envolvido no processo dramático, é obrigado a isso pelas brincadeiras dos palhaços, transferindo para o referido espaço cénico os seus sentimentos mais profundos e as suas reacções mais primárias, mais espontâneas.
Inserido e simultaneamente elemento exógeno de toda a dramaturgia, o palhaço intervém para quebrar as tensões e as próprias mensagens veiculadas pelos personagens ao longo da narração e, especialmente, nos momentos críticos de grande tragédia vivencial.
«Os palhaços fazem tudo ao contrário e quanto mais ao contrário mais graça têm.»
O palhaço é o elemento, digamos assim, que retira o eventual excesso de densidade dramática da acção, conferindo-lhe uma frescura e um à vontade frequentemente excessivo, por vezes obsceno para a moralidade e o sistema de regras em vigor, o senso comum, mas, é Carnaval...
B. O Mestre
Tradicionalmente, é visto como uma autoridade assumida e reconhecida enquanto tal pelos restantes companheiros. Em princípio, terá recebido o testemunho de um mestre mais antigo.
É, regra geral, o ensaiador. A sua função é mandar a música, orientar a brinca, explicar, apresentar e agradecer ao dono do lugar durante a estadia e representação do seu grupo nesse local. É o que responde ao despique - em décimas -, com outro mestre, se outra brinca se cruzar com a dele, se não chegarem a bom termo as necessárias negociações para esclarecer e definir de qual brinca actuará em primeiro lugar em dado local.
Possui gestos estereotipados que marcam o ritmo da música, através de movimentos mais os menos bruscos, mas ritmados e cadenciados, das mãos, segurando por vezes fitas coloridas.
Ao som de um apito, manda executar as várias marcações das contradanças e das outras movimentações coreográficas.
C. A Bandeira
A brinca reúne-se [por vezes] em redor de uma bandeira, mastro ou estandarte, por vezes ostentando a bandeira nacional e o nome da brinca, enfeitado artisticamente com armações diversas, papéis coloridos, fitas de seda, etc., dependendo a decoração, em última análise, do gosto e das possibilidades dos elementos constituintes do grupo.
A bandeira é um factor de factor de coesão do grupo e emblema da Brinca, eixo-força do círculo da dramatização do fundamento.
Poderemos considerá-la enquanto manifestação simbólica do axis mundi, ainda existente em termos residuais na nossa contemporaneidade; e representação de reminiscências paradigmáticas do centro do mundo, num espaço tradicionalmente sagrado onde se observa, se faz reviver o drama da criação/recriação na natureza e no mundo; da passagem cíclica do Caos para o Cosmos... do Inverno para a Primavera.
Este conceito sagrado está antropologicamente conotado com o sentido de primordial, puro, pertencente às origens fabulosas do paraíso perdido de todos os grandes sistemas de Mitos Cósmicos. Este conceito subentende, por sua vez, e necessariamente, um centro que, em todas as actualidades, em todas as épocas, faça a ligação simbólica, transportando os participantes do rito para aquele tempo sem história em que os homens eram deuses.
D. Ornamentos tradicionais
Os chapéus possuem uma armação de arame que suporta os ornamentos, que vão das rosas de papel colorido às fitas de seda de várias cores, e que se cruzam sobre o peito dos vários intervenientes da brinca.
É claro que os palhaços possuem as vestimentas desregradas costumeiras. Por vezes até com adereços obscenos, que utilizam durante as brincadeiras. Eventualmente poderá a brinca sair com um guarda-roupa completo, de acordo com cada um dos personagens do fundamento.
E. Instrumentos musicais
Os instrumentos tradicionalmente utilizados pelas brincas são o bombo, a caixa, o acordeão e a concertina, a pandeireta, a guitarra, a ronca, os ferrinhos e as castanholas, variando de grupo para grupo, consoante os meios humanos que cada mestre consegue mobilizar para a sua brinca.
Papel de grande importância tiveram as Associações com vocações artísticas e musicais, como era o caso da Escola dos Amadores de Música Eborense e da Sociedade Recreativa e Dramática Eborense, que há cinquenta anos atrás estavam sediadas, respectivamente, na Rua do Raimundo e no Pátio de S. Miguel. Estas Associações forneciam aos músicos populares participantes nas Brincas, mediante o pagamento de pequena taxa de aluguer, instrumentos musicais diversos.
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