Curiosidades sobre as Brincas de Entrudo de Évora: As peles dos bombos e caixas
Há muitos anos atrás, muito antes dos relativamente generosos apoios das autarquias para a realização das "brincadeiras" de carnaval, os participantes destes grupos de folgazões tinham de puxar pela imaginação para resolverem as dificuldades muito concretas que existiam. Uma delas era a de fazerem com que as peles das caixas e dos bombos, muitas vezes emprestados, outras vezes velhos instrumentos que passavam de geração em geração, estivessem operacionais de uns anos para os outros. A dificuldade principal era a de arranjarem algum dinheiro a mais para recuperarem aqueles instrumentos. Como este recurso era escasso e como, por vezes, surgiam dificuldades aparentemente insuperáveis sem ele, tinham os rapazes que dar voltas e reviravoltas à cabeça no sentido de as ultrapassarem.
Imaginemo-nos nas vésperas do tão ansiado "ensaio da censura" (ou "baile da censura", que coincidia com o baile do sábado de Carnaval), em que os velhos das brincas de outros tempos tinham o privilégio de ver e criticar o que estava mal no fundamento, na dicção [no cante] das décimas, nos enfeites das roupas e nas interpretações dos figurantes e, principalmente dos palhaços.
Imaginemos, pois, que mesmo nesta altura a pele de uma das caixas ou de um bombo se rompia e punha em causa a saída que para breve estava prevista. Era o desastre total! Contudo, imediatamente se delineavam alternativas para se superar as dificuldades aparentemente irresolúveis. Ainda durante aquela noite os rapazes espalhavam-se pelas redondezas a fim de conseguirem um gato ou um cão, conforme precisassem de peles para a caixa ou para o bombo! Nestas noites que antecediam o Carnaval e durante os três dias de festas, era ver as velhas a guardarem muito bem guardados os seus bichos de estimação, ainda assim não fosse a sua pele servir de bombo ou de caixa para a rapaziada. E ainda por cima escarneciam da desgraçada no dia da saída da brinca, pois que, quando passavam em frente da casa da dona do infeliz animal, os brincalhões não se coibiam de fazer uma grande algazarra a chamar pelo bicho, miando ou ladrando conforme fosse o caso, para grande desespero da dona do até aí desaparecido animal: tinha sido encontrado o seu destino!
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1 comentário:
Parabens pela crónica,adorei relembrar os tempos idos,em que eramos felizes com tão pouco.Faltou aqui salientar tambem as antigas trupes da cidade bem como:"Os tirones"que ensaiavam e saiam da rua dos peneireiros, "Os divertidos",esta composta por elementos da banda dos amadores de musica eborense,e outras que já não lembro o nome.
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