domingo, 6 de dezembro de 2009

A ORIGEM DA ÁRVORE DE NATAL

O costume da árvore de Natal (1) foi instituído muito recentemente. É de data tardia não só na Rússia, mas também na Alemanha, onde em primeiro lugar se estabeleceu e de onde se espalhou por toda a parte, do Novo como também do Velho Mundo. Em França a árvore de Natal só foi adoptada após a guerra Franco-Germana, posterior portanto a 1870. De acordo com as crónicas Prussianas, o costume de iluminar a árvore de Natal tal como nós vamos encontramos hoje na Alemanha, foi estabelecido acerca de cem anos. Penetrou na Rússia por volta de 1830, e muito cedo foi adoptado através do Império pelas classes mais abastadas.
É muito difícil traçar historicamente este costume. As suas origens pertencem inegavelmente à mais alta antiguidade. Os abetos desde sempre têm sido colocados num lugar de honra pelas mais antigas nações da Europa. Tais como as árvores de folha perene, e os símbolos da vegetação imorredoura, eles sempre foram consagrados às divindades naturais, tais como Pan, Isis e outras. De acordo com o antigo folclore, o pinheiro nasceu do corpo da ninfa Pitys (2) (o nome Grego daquela árvore), a amada dos deuses Pan e Boreas. Durante os festivais vernais em honra da grande deusa da Natureza, os abetos eram trazidos para os templos decorados com fragrantes violetas.
Os antigos povos Nórdicos da Europa tinham uma reverência semelhante pelo pinheiro e pelos abetos em geral, e faziam grande uso deles nos seus numerosos festivais. Assim, por exemplo, é bem conhecido que os sacerdotes pagãos da antiga Germânia, quando celebravam o primeiro estágio do regresso do sol perto do equinócio vernal, seguravam nas suas mãos ramos de pinheiros muito bem ornamentados. E isto aponta para a grande probabilidade do actual costume das árvores de Natal iluminadas serem o eco do costume pagão de considerar o pinheiro como um símbolo de um festival solar, o precursor do nascimento do Sol. Faz sentido que a sua adopção e instituição na Germânia Cristã lhe comunicasse uma nova, por assim dizer, forma Cristã.(3) Daí que recentes lendas – como sempre acontece – expliquem à sua própria maneira a origem do antigo costume. Conhecemos uma dessas lendas, imbuída de uma grande poesia na sua encantadora simplicidade, a qual pretende dar a origem deste agora universal e predominante costume de ornamentar árvores de Natal com velas de cera acesas.
Perto da caverna onde nasceu o Salvador do mundo cresciam três árvores – um pinheiro, uma oliveira e uma palmeira. Naquela véspera santa quando a estrela guia de Belém apareceu nos céus, aquela estrela que anunciou ao mundo longamente sofredor o nascimento Daquele, que trouxe à humanidade as alegres novas de uma esperança abençoada, toda a natureza rejubilou e diz-se que transportou para os pés do Deus-Menino os seus melhores e mais sagrados presentes.
Entre outras a oliveira que crescia à entrada da caverna de Belém deu à luz o seu fruto dourado; a palmeira ofereceu ao Bébé a sua verde e sombria abóbada, com protecção contra o calor e a tempestade; somente o pinheiro nada tinha para oferecer. A pobre árvore permanecia em consternação e pesar, tentando em vão pensar no que poderia apresentar como prenda ao Cristo-Criança. Os seus ramos estavam dolorosamente vergados para baixo, e a intensa agonia da sua dor forçou finalmente que brotasse da sua casca e ramos uma torrente de transparentes lágrimas quentes, cujas abundantes resinosas e pegajosas gotas caíssem espessas e firmes à sua volta. Uma estrela silenciosa, cintilando no dossel azul do céu, apercebeu-se destas lágrimas; e imediatamente, combinando com as suas companheiras – olhai!, um milagre aconteceu. Hostes de estrelas cadentes caíram por terra, tal como uma grande chuvada, sobre o pinheiro até que cintilaram e brilharam em cada agulha, de alto a baixo. Então, tremendo de alegre emoção o pinheiro levantou orgulhosamente os seus ramos caídos e apareceu pela primeira vez, ante os olhos de um mundo maravilhado, no seu mais deslumbrante esplendor. Desde esses tempos, diz-nos a lenda, que o homem adoptou o hábito de ornamentar o pinheiro na Véspera de Natal com inúmeras velas acesas.


H. P. BLAVATSKY

NOTAS:

(1) Este artigo foi originalmente impresso por H .P. Blavatsky em Lucifer, em Março, 1891. A partir de um artigo do Dr. Kaygorodoff em Novoye Vremya.
(2) Uma ninfa amada pelo deus Pan e transformada em abeto. [Ed. Lucifer.]
(3) Tal como no caso de muitos outros costumes, e mesmo dogmas, emprestados e preservados sem o mínimo reconhecimento. Se a fonte não for confessada, é porque à face da pesquisa e da descoberta tal já não poder ser possível.

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