Apesar da «normalização» das Tradições nos tempos que correm, as memórias das antigas tradições desta quadra festiva ainda dinamizam algumas práticas peculiares, tais como:
– A presença lúdica do Presépio com figurinhas de barro, que tradicionalmente era costume as famílias visitarem em algumas igrejas da cidade. Embora não dispensasse a sua construção nas próprias casas.
– Ainda em algumas aldeias do Alentejo – embora seja um costume de cariz comunitário hoje praticamente inexistente – os vizinhos juntam grande quantidade de lenha normalmente no adro da igreja paroquial, acompanhada por um grande madeiro, que fazem arder durante toda a noite de Natal, aí convivendo. Em algumas residências queimava-se igualmente um grande madeiro na lareira. Os restos do madeiro do Natal guardavam-se para posteriormente acender quando fizesse trovoadas, diz-se, como protecção...
– Ainda em muitas paróquias da Cidade se celebra a Missa do Galo, por volta da meia-noite, muito concorrida era a de S. Francisco devido ao facto de se iniciar a cerimónia com a enorme nave iluminada por pequenas lamparinas de azeite, provocando um efeito estético deslumbrante.
– É tradição comum a chamada consoada, missadela, missada ou missadura: reunião familiar após a Missa do Galo, ou por volta da meia-noite do dia 24 de Dezembro, em que as pessoas se juntam para cear, consistindo tradicionalmente a Ceia de Natal por diversas iguarias próprias da época festiva: peru assado, bacalhau cozido com couves, linguiça e febras de porco assadas, filhós, rabanadas, sonhos, nógado e arroz doce. A quantidade e a qualidade das iguarias da Ceia correspondiam proporcionalmente às disponibilidades dos ganhos de cada família…
– Após a Ceia e antes de irem dormir, as crianças iam colocar o sapatinho ou a meia à chaminé para que o Menino Jesus durante a noite viesse colocar as prendas. É pena que as «lógicas» modernas dos pais natais consumistas tenham destronado este costume tão simples e poético.
– Ainda ligadas com a quadra festiva, cantavam-se, principalmente nas aldeias e bairros limítrofes da cidade, com características rurais, as Janeiras e os Reis. Tradições hoje praticamente desaparecidas, com a excepção de um grupo de homens da aldeia de Torre de Coelheiros que, resistentemente, ainda persistem na saída à rua na noite de Reis a fim de cantarem e encantarem os residentes e os forasteiros que àquela aldeia se deslocam para usufruírem de uma memória viva.
Recordo alguns Natais de Évora rebuscados nas memórias da minha infância:
Natal de Évora I
O Menino está dormindo
Nas palhinhas, despidinho,
Os anjos lhe 'stão cantando:
Por amor, tão pobrezinho.
O Menino está dormindo
Nos braços da Virgem pura.
Os anjos lhe 'stão cantando:
Glória a Deus lá nas alturas.
O Menino está dormindo
Nos braços de São José,
Os anjos lhe 'stão cantando:
Glória tibi, Dominè.
O Menino está dormindo
Um sono de amor profundo
Os anjos lhe 'stão cantando:
Viva o salvador do mundo!
Natal de Évora II
Eu hei-de dar ao Menino
Uma fitinha pr’ó chapéu
Também ele me há-de dar
Um lugarzinho no Céu.
Olhei para o Céu
Estava estrelado
Vi o Deus Menino
Em palhas deitado
Em palhas deitado
Em palhas ‘quecido
Filho duma rosa e
Dum cravo nascido.
Arre burriquito
Vamos a Belém
Ver o Deus Menino
Qu’a Senhora tem
Qu’a Senhora tem,
Qu’a Senhora adora
Arre burriquito
Vamo-nos embora.
Natal de Évora III
Eu hei-de dar ó Menino
Uma fita, uma fita pr’ó chapéu
Também ele nos há-de dar
Um lugar, um lugarzinho no Céu.
Não façam bulha ao Deus Menino
Não o acordeis que está dormindo
Em vez d’O brindar com algum mimo
Dêem-lhe leite que é pequenino.
Eu hei-de dar ao Menino
Ao Menino, ao Menino hei-de dar
Camisinha de Bretanha
Nesta noite, nesta noite de Natal.
Rui Arimateia
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário