Houve um tempo em que não havia nada, só o vazio, um vazio insensível e cego. O vazio insensível e cego gostava de pensar de vez em quando, só de vez em quando e, de cada vez que pensava, os pensamentos ficavam suspensos, flutuando no vazio; e os pensamentos foram-se somando e no vazio encontraram-se e puseram-se a brincar. A brincar, a brincar, foram criando novos pensamentos. No vazio começaram a nascer como turupes, isto é, como bossas, e essas bossas rebentaram e formaram palavras, porque o vazio era insensível e cego, mas não mudo. As palavras rapidamente se ergueram e começaram a diferenciar-se. Umas tornaram-se em árvores, trepadeiras, arbustos e florezinhas. Outras transformaram-se em água, e aconteceu que algumas se puseram a nadar e se tornaram peixes e as que se sentaram a descansar converteram-se então em pedras. As palavras a «pairar no ar» tornaram-se pássaros. Até que as palavras, fartas de serem elas a dar nomes, decidiram querer ser nomeadas e disseram Mulher e disseram Homem e as palavras Mulher e Homem caminharam até se encontrarem, nomearam-se e amaram-se. Eles deram nomes às palavras. Apareceu a palavra Casa e a mulher e o homem habitaram-na; disseram Mesa e tiveram onde se sentar para comer. Com a palavra Palavra apareceu a primeira ferramenta e, sentados em redor da palavra Fogo, a mulher e o homem contaram um ao outro, as primeiras histórias.
In Cuando el hombre es su palabra y otros cuentos. Mitos de Créación, de Nicolás Buenaventura Vidal. Editorial Norma, Bogotá, Colômbia 2002.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Para este texto só tenho uma palavra: "Criação" e com essa palavra o Poeta cria o mundo para nele habitar. Por vezes em silêncio do excesso de palavras para cantar e contar o que acontece e, sobretudo, meu amigo, o que não acontece... ou acontece de outro modo...
Um abraço de Saudades.
Enviar um comentário