Falar-se de Contos e ou de Lendas Tradicionais nos tempos que correm, é falar-se de Identidade Cultural de um Povo e, paralelamente, do desenvolvimento mais ou menos harmonioso que esse Povo sofreu e sofre através dos diferentes estádios de crescimento e maturação dos indivíduos e das comunidades que o constituem.
Refiramos, por outro lado, a diferente função do Conto e da Lenda conforme se trate de uma criança ou de um adulto. Os fins de uma e de outro, no desenrolar do mesmo, são intrinsecamente diferentes.
Trata-se, enfim, de alcançar o Tesouro que se encontra oculto na gruta profunda do nosso coração ou no centro labiríntico do nosso Ser, bem defendido pelo mítico Minotauro das lendas helénicas... Deixemos Teseu e Ariadne dominarem o Minotauro do Labirinto e, com o auxílio do novelo de fio, saírem vitoriosos para a Luz do dia...
Narrações ricas de mistério e de magia são as que apresento de seguida, duas lendas populares da região de Évora (Alentejo – Portugal) cujas especificidade narratória e linguagem simbólica me pareceram valer a pena partilhá-las convosco. Foram recolhidas da tradição oral local no ano de 1983, na Freguesia (rural) de S. Sebastião da Giesteira, que dista cerca de 18 quilómetros da sede do Concelho, Évora. A primeira intitulada “A Nora da Herdade dos Padres” foi já apresentada neste blogue no passado dia 3 de Abril e a segunda “A Mina Encantada do Freixial” é apresentada de seguida.
Importa ainda referir que é precisamente na Tradição Aldeã e Camponesa que esta forma de comunicação e de educação milenares se conservam ainda, apesar de tudo... Uma aldeia possui tradicionalmente os seus ritmos/ritos e os seus tempos/templos próprios, enquadrados naturalmente por Ciclos Anuais, correspondentes às festas religiosas locais e ao calendário dos trabalhos agrícolas, onde o sagrado e o profano se (con)fundem harmoniosamente.
Em última análise, os contos tradicionais e as lendas, de modo diverso, incorporam em si uma explicação do inexplicável. São contados pelo contador e são intuídas as mensagens pelos ouvintes, estabelecendo-se entretanto, uma relação mágica, total, holística, religiosa...
Termino com a narração da segunda lenda:
A Mina encantada do Freixial
Conta-se que, no casão do Freixial existe uma mina[1]. Segundo os antigos, essa mina encontra-se numa casa subterrânea, que contém água vai até mais ao menos à metade do pé direito dessa mesma casa.
Para se tirar essa mina, a pessoa terá de cavar até encontrar umas escadas que a conduzirão até à casa subterrânea. Para isso conseguir os seus intentos terá também de levar um alqueire de milho que deixará à porta e será comido por um galo[2] saído da casa subterrânea.
Enquanto o galo come o milho, a pessoa terá que entrar, tirar a mina e sair sem que o dito galo tenha comido todo o milho, pois, caso contrário o aventureiro ficará encantado para sempre naquele local.
Conta-se também os casos de algumas pessoas que já tentaram tirar a mina e não conseguiram descobrir mais do que dois degraus, pois ao pisar o segundo degrau não conseguem ou não se atrevem a ir mais para a frente...
Rui Arimateia
Notas:
[1] O vocábulo “mina” tem aqui a significação simultânea de espaço subterrâneo e tesouro.
[2] Em S. Sebastião da Giesteira existem outras versões desta lenda, nas quais em vez de ser um galo aparece ou um touro ou uma serpente, tendo as pessoas de levar o alimento adequado para cada um deles – milho, palha ou leite. Noutros locais do Concelho aparece ainda a versão da “moura encantada”.
1 comentário:
É curioso. O meu tio-avô costumava contar essa mesma lenda, mas situava-a noutro local (arredores de Évora, no que é hoje o bairro da Malagueira).
www.patrimonios.blog.com
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