quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A TECNOLOGIA NO MUNDO DE HOJE: PERSPECTIVAS TEOSÓFICAS

No princípio era a mão e a mão criou o cérebro e do cérebro nasceu o homem… o ser pensante.
Neste pequeno raciocínio estão subjacentes, em termos antropológicos os critérios de humanidade, que nos permitem compreender a evolução psicofisiológica do homem desde os seus princípios mais remotos.
Da libertação da mão, ao aparecimento do cérebro e à emergência da Cultura como criação e extensão do próprio homem, um relativamente pequeno passo em termos da própria evolução do Universo, contudo de excepcional importância para o desenvolvimento físico, psíquico e espiritual dos seres humanos neste planeta.
A Técnica, na sua génese, teve muito que ver com o domínio do “desocultamento”, da procura da verdade e do conhecimento pelos homens. Mas também esteve ligada a uma procura e a uma produção de sentidos, fazendo com que a actuação do homem na natureza tivesse possibilitado, por sua vez, uma liberação de energia, assim como a sua posterior utilização e acumulação, para seu próprio proveito.
Este conhecimento, através da experiência como método, iria originar o desenvolvimento da Ciência, considerada esta, para o homem moderno, como uma teoria do real, sendo realidade tudo aquilo que se encontrasse diante de si próprio, tudo o que tivesse sido produzido e realizado perante si próprio.

Hoje o homem ensaia o cérebro fora do seu próprio corpo, olhando o computador enquanto uma extensão da inteligência e da memória, duas funções fundamentais na criação da Cultura, da língua, dos ritos, etc.

Desde pelo menos há cerca de dois milhões de anos que o homem vem progredindo, vem evoluindo e com ele tem igualmente evoluído a tecnologia e a ciência, permitindo um domínio e uma compreensão do mundo não alcançável por qualquer outro animal seu companheiro de viagem neste planeta, que no fundo é tão só poeira de estrelas, isto é, um minúsculo ponto nestes confins de um Universo para nós infinito e incomensurável.

A Ciência e a Técnica, principalmente a partir do último século, evoluíram de uma maneira tão extraordinária, que nunca o homem ao longo da sua história, pensou que elas assim evoluíssem. Neste momento a progressão científica e tecnológica faz-se não de um modo contido e linear, mas “aos saltos”…
E é salutar questionar: estarão elas ao serviço da Vida? Da Evolução? Ou ao serviço de um progresso desequilibrado, a que só alguns “eleitos” poderão explorar e usufruir?

O lema da Sociedade Teosófica “Não há Religião Superior à Verdade” se olhado, reflectido e vivido com seriedade por nós, teósofos, perceberemos que a sua formulação é sem dúvida alguma altamente científica. Se o utilizarmos para nos tentarmos compreender, através do auto-conhecimento e tentarmos compreender a realidade que nos rodeia vemos que desde sempre o homem teve este instrumento de auto-regulação do seu próprio crescimento e desenvolvimento mental e espiritual, na mão.
A busca da Verdade através de um equilibrado auto-conhecimento permite-nos compreender que o Universo, a Natureza e o próprio Ser Humano são regulados por Leis Universais, as quais não nos são de modo algum desconhecidas:

a Lei da Harmonia;
a Lei da Diversidade;
a Lei da Interdependência;
a Lei da Acção e Reacção;
a Lei da Analogia;
a Lei da Evolução;
a Lei da Unidade da Vida.

Será a aplicação destas Leis que permitirão ao ser humano uma vivência verdadeiramente sã e sábia, possibilitando o estabelecimento do equilíbrio harmonioso do próprio planeta. Tenhamos consciência disso, pois que um pseudo progresso científico desenfreado, aliado a um modernismo tecnológico sem qualquer Ética levará, com toda a certeza, o nosso planeta à destruição, fará com que a Humanidade regrida para o limiar da animalidade onde a sobrevivência física da espécie será a única e última prioridade, e onde a Natureza Humana será desprovida daquela Sageza Perene que colocava o Homem no pedestal da própria divindade, fazendo justiça àquela afirmação milenar:
“HOMEM, CONHECE-TE A TI PRÓPRIO… E, CONHECENDO-TE, CONHECERÁS O UNIVERSO E OS DEUSES!”

Entretanto, a partir de meados do século XX, uma nova abordagem metodológica foi surgindo e começou a ser seriamente encarada pelos investigadores dos nossos dias – a perspectiva Holística.
Um modo de pensar abarcante, total e unitário, que olha as várias disciplinas do conhecimento do homem e da Natureza sempre em relação umas com as outras, não compartimentalizando e não separando, mas integrando o conhecimento, como um todo.
Este método revolucionário, sendo relativamente recente, não é novo pois que, a Perspectiva Holística que, por um lado significa total e por outro sagrado, contrapõe-se àquela maneira de ser que fragmenta a realidade e que toma a parte pelo todo, que prefere a análise à síntese.
Por outro lado, a perspectiva holística, para o homem, é, afinal, o acordar da totalidade dele próprio e do seu enquadramento vital criativo, no qual ele poderá desenvolver ou despertar a sua essência espiritual. Consequentemente, a consciencialização desta Unidade, em si própria, confere ao homem uma imensa responsabilidade perante a Natureza, suas Leis e Evolução.
Esta nova descoberta irá consequentemente provocar transformações radicais na ordem estabelecida anteriormente e surgirá então uma nova Cultura e uma nova Ciência.
A aproximação holística apresenta-se como um fio condutor que unirá, unificará e reunirá as várias ciências e filosofias num novo movimento com uma nova e consequente dinâmica de intervenção ao nível dos conceitos e das práticas de concepção do mundo.
Como consequência, a política, a economia e a tecnologia mudarão de carácter, assim como mudará igualmente a relação de dependência Norte/Sul, do Ocidente em relação ao Terceiro Mundo e em última análise, mudarão as relações que os homens estabeleceram entre si e o Universo.

Holismo, é portanto, um neologismo que se poderá identificar com uma perspectiva globalizante da Vida numa visão macroscópica, sistémica e ecológica.
Focando-nos na realidade Teosófica, relacionaremos obrigatoriamente o Holismo com a visão Unitária da Vida e do Homem, em que nada se encontra desligado e ou separado de nada, interpenetrando-se os conceitos, os átomos e as acções do e no quotidiano… Conceito metodológico que contém em si, subjacentes, as ideias de integração, de totalidade, numa perspectiva abarcante de toda a realidade humana que faz parte integrante das nossas relações quotidianas, enquadradas pela Natureza e pela Cultura – duas faces da mesma moeda…
Num enfoque do macro-social passamos do modelo reducionista economicista para um outro modelo totalmente novo onde a complexidade da relação humana e da sua actuação equilibrada no Cosmos acontece e se desenvolve harmoniosamente. Afinal existe uma alternativa de Intervenção para o Homem! E esta aparece através do diálogo e da mudança, através da Ecologia, da Física, da Filosofia, da Biologia… Através da tentativa de construção séria e responsável de um mundo novo, de um homem novo, que se quer dinâmico e não-dogmático, profundamente atencioso e necessariamente em transformação e em evolução contínuas.
Estarão, contudo, criadas as condições para o aprofundamento desta relação nova que aproxima inevitavelmente a parte e o todo? Entre mim e a flor à minha frente constitui-se, forma-se, existe uma Vida Única e Una – talvez esteja aqui a chave da nova relação transformante e transformadora…
Holisticamente, causa e efeito não são opostos, mas constituem um todo indivisível, reflectido na percepção individual que emerge com uma nova consciência, abarcando o Universo na sua totalidade… Será deste pressuposto que terá de brotar uma nova atitude face à Realidade e às relações humanas, complexas por natureza, quotidianamente implementadas nos vários níveis e sectores da intervenção social, cultural, científica… e durante as próprias actividades comezinhas do dia-a-dia… Mas, repito, haverá condições para aprofundar verdadeiramente a relação profunda que existe entre a parte e o todo? Entre o observador e o observado? Entre mim e a flor está a Vida Una, o Todo Indivisível, mas quiçá oculto porque ainda não despertei para a Percepção Total… onde a Voz do Silêncio e o Cântico da Criação vibram em Uníssono por todo o Universo.

Não esqueçamos nunca que os primeiros degraus para alcançarmos a Sabedoria Divina são: “Vida limpa, mente aberta, coração puro”.

Paz a todos os Seres.

Rui Arimateia - “Textos Teosóficos XIV”
Évora, Ramo “Boa-Vontade” da Sociedade Teosófica de Portugal

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