quarta-feira, 9 de setembro de 2009

VERSOS ÁUREOS PITAGÓRICOS

Em tempo de grandes decisões e grandes responsabilidades como é o caso: eleições à porta, em que os cidadãos são chamados a exercer o seu direito de voto. Há que escolher de entre uma plêiade de candidatos das diversas forças políticas concorrentes.
Um valor muito importante encontra-se em jogo - o valor da Autoridade. Uma vez que o(s) candidato(s) mais votado(s) ser-lhe(s)-á conferida a Autoridade, democraticamente conseguida, para que o Poder seja devidamente exercido.
Deverão os Cidadãos procurar saber se os políticos concorrentes estão devidamente munidos da aptidão para exercerem esse poder... Deverão os Cidadãos procurar saber qual a Política que os candidatos se propõem desenvolver na Cidade em caso de sucesso eleitoral no sufrágio que se aproxima.
Estaremos aptos para votar e para ser votados? Temos trinta e poucos anos de vida livre e democrática... Teremos atingido a maioridade democrática para votarmos e sermos votados em consciência? Estaremos aptos éticamente para assumirmos a Autoridade conferida pelos nossos Concidadãos e para exercermos o Poder com equilíbrio, equidade e justiça?
Proponho a todos a reflexão de um antigo texto atribuído a Pitágoras que nos ajudará a reflectir e a viver uma vida verdadeiramente livre e democrática:


Preparação

Presta a Deus imortal o culto consagrado;
Conserva a tua fé; dos vultos do passado,
Ou santos ou heróis, louva a divina acção.

Purificação

Sê bom filho e bom pai; sê justo como irmão;
Amável como esposo; escolhe como amigo
Aquel’ que tiver luz pra repartir contigo
E dê conselhos bons que o porte não desminta.
Se o fogo das paixões for cinza nele extinta,
Imita o seu exemplo, escuta o seu conselho,
Sê tu, pra o reflectir, um voluntário espelho;
Jamais te afastes del’ por fútil discrepância;
Enjaula dentro em ti a fera da arrogância.

Sê sóbrio, activo e casto; evita a irritação;
À raiva fecha a alma, ao ódio o coração.
Em público ou privado o mal jamais pratiques;
A quem te der lições escuta e não critiques.
Respeita-te a ti próprio; o sábio verdadeiro
Nada diz, nada faz sem reflectir primeiro.

Sê justo. As más acções são catacumbas frias
Pra sepultar, na morte, os bens e as honrarias;
Toda a riqueza é vã se foi contra um dever,
O fácil de ganhar é fácil de perder.

O cálix de amargura imposto pela sorte
Aceita-o resignado; el’ te fará mais forte.
Em mil, fiéis ao erro, um só busca a verdade,
Mas Deus protege o sábio e livra-o da maldade.

O filósofo aprova ou condena sem tédio
E onde encontrar o erro incapaz de remédio,
Afasta-se e espera. «Afasta-se e espera!»
Grava bem esta lei, medita-a, considera
Quanta inútil pendência ela pode evitar-te.

Com todos sê cortês, sê nobre em toda a parte,
Não dês exemplos maus nem os sigas tão-pouco;
Agir sem fim nem causa é proceder de louco.
Olhos e ouvidos cerra a todo o preconceito,
A todo o fanatismo ou julgamento feito
Preconcebidamente e só por teimosia;

Seja tua e só tua a razão que te guia.
Não pretendas fazer o que a tua ignorância
Não permitir; o tempo, a atenção e a constância
Hão-de trazer-te um dia o poder que te falta.
Aprender a Servir, eis a ambição mais alta
Que deve nortear a tua vida inteira.
Cuida bem do teu corpo; o trabalho aligeira
Quando ele se queixar, mas não lhe satisfaças
Apetites boçais; as dores e as desgraças
Começam quando o corpo ordena mais que a alma;
Se o serves uma vez, já nunca mais se acalma.
Do luxo ou da avareza os males são iguais,
Dif’rentes na aparência, irmãos em tudo o mais.
Procura encontrar sempre o justo médio termo,
Pois nenhum corpo é são ‘stando o mental enfermo.
Formula, ao despertar, o teu programa honesto
E nunca pra amanhã deixes ficar um resto.

Perfeição

Antes de adormecer, repassa no mental
As acções que fizeste ou pra bem ou pra mal.
Não repitas as más, insiste só nas boas,
Estende a compaixão aos animais e às pessoas;
A cada novo esforço, a cada prova rude,
Acenderás em ti a luz duma virtude.
Assim sublimarás a Tétrada sagrada,
A tua quaternária e cósmica morada,
Alma, espírito e corpo – um embrião de deus.

Procura com fervor abrir os olhos teus
À luz que vem do Olimpo; o teu esforço é vão,
Se o céu te não cobrir da sua protecção;
Só el’ pode acabar as obras que começas
E dar-te, para o bem, o auxílio que lhe peças.
Estuda a Natureza, aprende a lei sublime
Que rege a imensidade e que à matéria imprime
A vida universal. Perante estudos sérios,
Abrem-se pouco a pouco as portas dos Mistérios.
Então descobrirás a luz do teu destino
Que, por divino amor do nosso Pai Divino,
É vir colaborar no plano do Universo,
Com Deuses de quem tu és «Uno», mas diverso.

Então desprezarás todo o desejo fútil;
Verás que o sofrimento é criação inútil
Dos erros e do vício e da maldade crua,
Da torva insensatez dos outros e da tua.
O homem vive e morre a procurar um bem,
Sem nunca reparar nos bens que em si contém.
Quem não souber ser bom não sabe ser feliz,
É náufrago num mar de praias sempre hostis;
E entre o fraguedo atroz que a riba lhe apresenta,
Não pode resistir nem ceder à tormenta,
Porque não descobriu que transporta consigo
Um farol pra o guiar a salvamento e abrigo.
Por entre os vendavais dessa jornada ignota
Tem cada qual de abrir a sua própria rota.
Uma extirpe divina impõe à humanidade
Buscar no mar do erro o porto da Verdade;
A Natureza ajuda o homem no caminho,
Nunca o desamparou, nunca o deixou sozinho.

Homem sábio, homem bom, tu que já penetraste
Os mistérios da vida e mediste o contraste
Entre o Bem e o Mal, concentra-te um momento
E medita que Deus, ao dar-te o Pensamento
E muitos outros dons que reflectem os Seus,
Fez-te um Ser Imortal, porque és tu próprio um Deus.

(Tradução: Félix Bermudes)

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