Reflexão à volta do livro O ÚLTIMO SEGREDO, de José Rodrigues dos
Santos (Gradiva Publicações, S.A.,
Lisboa, 2011).
Esta obra que revela-nos a figura de Jesus numa
perspectiva a que não fomos tradicionalmente habituados a olhar e muito menos
encorajados a estudar no âmbito da nossa educação oficial.
A escrita deste livro revela uma grande capacidade
de análise e de síntese fazendo com que olhemos de um modo mais rigoroso não só
os Evangelhos e todo o Novo Testamento, mas também o Antigo Testamento e os
textos apócrifos, alguns de uma beleza e de um simbolismo que mereceriam uma
maior atenção pelos estudiosos das religiões e não só pelos cristãos.
Não há
Religião superior à Verdade.
Assim, a Religião, penso eu, deveria ser encarada
na sua perspectiva mais universalista e menos sectária, uma vez que a Verdade é
UNA e Indivisível, manifesta-se é de diversas maneiras, consoante a cultura, a
tradição e a mentalidade vigentes e muitas vezes controlada, demasiadas penso
eu, pelas mentalidades que detêm o poder.
A figura de Jesus o Cristo é realmente uma entidade
polémica, envolta em mistérios vários e que tem vindo a ser construída ao longo
dos últimos dois mil anos, tal como deixa pressentir, pelo menos assim o intuí,
no decorrer da sua obra acima referida.
Na
minha maneira de encarar esta personalidade, tenho tido o auxílio de
autores da área da filosofia teosófica e
que me ajudaram a olhar para a figura de Jesus o Cristo de um modo diferente e um
pouco à maneira dos gnósticos.
Cultural e tradicionalmente a minha educação foi
condicionada pela Igreja Católica Apostólica Romana, contudo há muito que se
tornou insatisfatória e insuficiente perante a minha tentativa de investigar as
questões mais profundas da mesma.
A figura histórica de Jesus não convencia!... Era
necessário estudá-la mais profundamente e este seu livro constitui, a meu ver,
uma extraordinária ferramenta para o efeito.
Contudo só me satisfez minimamente a ânsia de
procura de respostas de foro mais interior ao estudar a figura de Jesus através
de outras duas vertentes complementares: a figura de Jesus - mítico, estudado à luz de toda uma Mitologia
Universal comparada; e a figura de Jesus o Cristo - místico, construído no
interior de cada um dos seus seguidores ao longo dos últimos dois milénios.
Assim, toda a dramatização da vida de Jesus, desde
o seu nascimento até à sua morte, ressurreição e ascensão ao Pai, foi sendo
construída com contornos de uma “história maravilhosa” seguindo a tradição
milenar dos Antigos Mistérios que desde sempre maravilharam, instruíram e
educaram a Humanidade. Aqui surge o problema da metáfora e dos ensinamentos
metafóricos, das parábolas, muitas vezes detentores de diversos sentidos e
cujos sentidos mais esotéricos, mais internos, só alguns pensadores, detentores
de chave exegética, poderiam alcançar o seu significado mais profundo.
É nesta altura que o poder temporal vem confundir e
baralhar tudo. Uma vez que dominar o conhecimento é o primeiro passo para
manter o poder. Contudo o poder provém e poderá ser usufruído por quem detém a
Autoridade (Autoridade Espiritual?...) para o fazer, proveniente daquele grupo
de humanos que possui a sageza da interpretação dos Mistérios atrás referidos,
orientando os ensinamentos para a construção evolutiva de toda a Humanidade. O
problema do nosso tempo é que existem demasiados grupos humanos (igrejas, seitas
religiosas, partidos políticos, grupos económicos e financeiros, etc.) que
detêm e usam a seu bel prazer o poder sem lhe ter sido conferida ou merecida
qualquer Autoridade.
Krishna, Lao Tsé, Buda, Zoroastro, Cristo, Maomé e
talvez Krishnamurti, nosso contemporâneo, todos excelsos Seres originados do
que mais brilhante e esplendoroso possui a Humanidade no mais profundo e
inefável de si própria. A Palavra e os exemplos de Vida daqueles Avatares,
foram transmitidos para a Humanidade envoltas por um invólucro maravilhoso que
por isso mesmo é intemporal e eterno. A história aqui é de somenos importância
e o símbolo e o mito imperam fazendo-os semelhantes entre si. A mensagem que
nos trazem é Una: Amor. Não obstante os seus seguidores a maior parte das vezes
a cristalizarem em dogma e a transformarem em ódio.
Com o final do livro, “O Último Segredo”,
adivinha-se a continuação da busca e da investigação sobre os problemas da
ciência, da religião e da filosofia que no fundo animam e motivam a humanidade
a seguir em frente num caminho evolutivo de construção e de boa-vontade, numa demanda
do protagonista do romance, o Professor Tomás de Noronha.
Esperemos pela continuação.
Paz a todos os Seres!
Rui
Arimateia
Évora,
4 de Agosto de 2012
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