São Martinho de Tours, nasceu em Panonia, na Hungria, e morreu como Bispo de Tours, em França, no ano de 397. São duas as principais fontes de informação da sua vida e milagres, a de Sulpicio Severo e a de São Gregório de Tours (este último seu sucessor na Diocese).
Afirma o povo que a festa de São Martinho dura três dias:
“São Martinho Bispo (na véspera, a 10), São Martinho Papa (no dia, a 11), São Martinho Rapa (no dia imediato, a 12).”
Os trabalhos agrícolas tradicionais desta época do Outono: a vindima, a pisa das uvas nos lagares ou esmagada nas prensas, de que resultam cantes próprios, comidas e bebidas, bailes, festas antigamente denominadas báquicas, também conhecidas como festas orgíacas das lagariças… Todo este entusiasmo culminava no Dia de São Martinho, a 11 de Novembro, na festa do vinho novo.
Sejam festas em honra de São Martinho, festas Bacanais ou Dionisíacas… no fundo, só o nome muda…contudo a essência da festa permanece inalterável: a celebração da Natureza e da vida agrícola.
Organizam-se os magustos, com a fogueira onde se assam as castanhas, em assadores de barro próprios, que acompanham o vinho novo.
As orgias aconteciam naturalmente: organizavam-se as Procissões dos Bêbados, com os seus chocalhos, com os seus mordomos, os seus juízes, os seus irmãos das confrarias e das irmandades… todas estas manifestações de cultura popular já vão pertencendo a uma memória cada mais longínqua…
Os costumes de hoje – quando os há – são pálidos reflexos das manifestações comunitárias de outrora… O vinho já vem engarrafado e a água-pé até chegou a ser proibida a sua venda! Assim, não há tradição que resista!
O mês de Novembro é conhecido também como o mês das Almas. Isto é, o mês em que se concentra uma maior atenção aos entes queridos já falecidos.
Nas Grécia e Roma Clássicas esta época era marcada por grandes festivais religiosos, ligados com as colheitas, as sementeiras, a morte…porque a semente para germinar terá que primeiramente apodrecer e morrer… Espantosa analogia que poderemos fazer com a nossa própria morte e simultaneamente encararmos a hipótese da continuidade da vida.
Teremos nós, nos finais do século XX, ainda algumas reminiscências dessas épocas longínquas e desses eventos já tão distantes?
E também nesta época se pedem os Santos, tal como, na sua época própria do calendário, se pedem as Janeiras, os Reis e as Maias, características de uma tradição rural que tinha que ver com práticas de partilha e de solidariedade…
Na tradição cristã, além do Dia de Finados e do Dia de Todos os Santos, acontecem os Mistérios ligados a Nossa Senhora, como preparação para o Dia de Natal, para o Nascimento de Jesus, mas também como preparação para as festas solsticiais do Inverno, que a hierarquia católica fez com o nascimento daquele que se transformaria no Cristo, Salvador da Humanidade pelo seu auto-sacrifício.
Auto sacrifício que São Martinho também protagonizou, segundo nos contam os seus biógrafos, através do encontro com o mendigo nu em pleno Inverno e a partilha sua capa, simbolicamente, a partilha da Sabedoria ou de segredo transcendente com o outro.
As Festas Litúrgicas de São Martinho (Hagiologia Cristã) são:
· a 4 de Julho, que comemorava a trasladação dos seus restos mortais e era denominada como “Translatio Corporis Sancti Martini”;
· a 11 de Agosto, que celebrava a sua consagração como Bispo e se chamava “Sacratio Sancti Martini”;
· a 11 de Novembro, que recordava a sua morte, “Obitum Sancti Martini”.
Popularmente a última festa é a mais celebrada pelo povo, coincidente, entre outras coisa pela matança anual do porco e pela inauguração do vinho novo, como rezam os ditados populares:
· “A cada bacorinho vem o seu São Martinho.”
· “A cada porco chega o seu São Martinho.”
· “A cada porco vem o seu São Martinho.”
· “Cada porco tem o seu São Martinho.”
· “Dia de São Martinho, prova o teu vinho.”
· “Em dia de São Martinho, atesta e abatoca o teu vinho.”
· “Em dia de São Martinho, faz magusto e prova o teu vinho.”
· “Em dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho.”
· “Em dia de São Martinho, na adega prova o teu vinho.”
· “Em São Martinho mata o teu porco, assa castanhas e prova o teu vinho.”
· “Martinho bebe o vinho, e deixa a água para o moinho.”
· “No dia de São Martinho, mata o pobre o seu porquinho.”
· “No dia de São Martinho, mata o porquinho, abre o pipinho, põe-te mal com o teu vizinho.”
· “No dia de São Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho.”
· “No dia de São Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho.”
· “O Sete-Estrelo pelo São Martinho, vai de bordo a bordinho, à meia-noite está a pino.”
· “O Verão de São Martinho, são três dias e um pouquechinho.”
· “Para cada porco há o seu São Martinho.”
· “Pelo São Martinho, encerta-se o pipinho.”
· “Pelo São Martinho, fura o teu pipinho.”
· “Pelo São Martinho, mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.”
· “Pelo São Martinho, nem nado nem no cabacinho.”
· “Pelo São Martinho, prova o teu vinho; ao cabo de um ano, já te não faz dano.”
· “Por São Martinho, semeia fava e linho.”
· “Por São Martinho, nem favas nem vinho.”
· “Por São Martinho, todo o mosto é bom vinho.”
· “Quando o Inverno tem juízo e não erra seu caminho – não olheis ao calendário, tê-lo-eis no São Martinho.”
· “São Martinho bispo, vamos ao rabisco.”
· “Se o Inverno não erra caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho.”
· “Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo São Martinho.”
Rui Arimateia
11 de Novembro de 2011
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