quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ÉVORA TERRA MISTÉRICA

Uma História...

Terá sido por altura dos primórdios do Renascimento Eborense que eventualmente terão sido produzidas as cenas iconográficas das assim denominadas "Casas Pintadas", mais concretamente do Claustrim, cuja entrada se faria pela antiga Rua do Coudel-Mor (hoje Travessa das Casas Pintadas). É interessante referir que as pinturas que deram origem ao topónimo Rua das Casas Pintadas (hoje Rua de Vasco da Gama) já nos finais do século XIX eram memória segundo nos referiu Felipe Simões, que já não as viu in loco.

Há uns tempos estando eu numa das frequentes visitas àquele local mágico, apreciando mais uma vez as pinturas a capela, o jardim o ar que se respira, o silêncio, a paz..., aparece uma outra visita. Era um senhor de uma certa idade já avançada, de rosto e postura nobres mas de uma simplicidade a toda a prova, que constatei quando me dirigiu a palavra e estivemos um bom bocado a conversar sobre aquele tesouro que se desocultava perante nós.
Sabe – disse-me ele –, para a fundação de Évora, criou-se um mundus onde a terra dos antepassados dos fundadores ficou depositada o que por sua vez transformou a Évora-em-devir num espaço sacralizado. Nesse mundus ficaram igualmente concentradas todas as forças anímicas, benéficas e maléficas, que são parte constituinte daqueles fundadores míticos – materializadas e manifestadas nos seus desejos mais íntimos, nas suas aspirações mais profundas, nas suas crenças e mais sinceras convicções, na sua força interior, para o bem e para o mal.
Com o decorrer dos séculos – continuou o intrigante personagem – aquele espaço sagrado de criação e de construção foi profanado e do mundus libertaram-se forças poderosas e terríveis. A Acrópole continuou a receber e a assumir os espaços sagrados e sacralizados das diferentes religiões – naturalistas, deístas, muçulmanos e pagãos – e todas privilegiaram daquele espaço. Até aos nossos dias chegaram-nos o Templo Romano profanado, mas também a extraordinária obra dos construtores medievos, que é a Catedral de Santa Maria.
Contudo, com as forças, anteriormente concentradas no mundus, libertadas e em livre movimentação pela cidade, os hierofantes cristãos conseguiram dominar e fixar pictoricamente estas energias elementais num pequeno claustro, que nos séculos XV e XVI foi património dos Coudeis-Mor e Capitães da Cidade de Évora, da família Silveira-Henriques, cujo brasão ainda podemos observar num fecho de abóbada existente na capela anexa ao claustrim. Visão extraordinária a daqueles bestiários cristalizados no local - desde a hidra a monstros alados até ao bestiário tradicional do Alentejo.

1 comentário:

Criptex disse...

Saudações,

Bonita historia.
Interessante.

Algumas fotos?

Ab