segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A GEOGRAFIA POSSÍVEL DO ARCAICO RITUAL DO BOIZINHO DE SÃO MARCOS


A geografia possível do antigo ritual da entrada do Boizinho de São Marcos nas igrejas e nas ermidas do Alentejo no dia da sua devoção – 25 de Abril

 
Rui Arimateia[1]

 
Identidade e Tradição

 

A Identidade Cultural de um povo manifesta-se e pode compreender-se através das suas tradições mais enraizadas, mais profundas. Assim, para entendermos o Mistério Religioso mais profundo das nossas antigas tradições culturais, vindas muitas vezes dos alvores da civilização humana, só o poderemos compreender minimamente se estivermos munidos de três ferramentas metodológicas muito especiais de abordagem e de interpretação simbólicas, para a desocultação dos significados mais profundos do Espírito Religioso de que se encontra imbuído.

As três ferramentas, são:

1.ª- A Poesia – pois esta permite-nos falar a língua dos Deuses;

2.ª- A Imaginação Criadora – permite-nos ouvir e entender a voz dos Deuses;

3.ª- A Analogia – permite-nos compreender a intenção mais profunda nas diversas manifestações dos Deuses.

Os ritos e os mitos são transmitidos entre os homens através de símbolos, de gestos e de palavras; são autênticas mensagens vivenciais que formam a tradição, a identidade, o sentimento colectivo, o legado da família, o património, etc. Contudo, estão em risco de já não se lhes compreender o sentido mais profundo… o significado mais íntimo, mais essencial, tornando-se necessariamente a dramatização manifesta menos sentida e mais superficial.

Uma pergunta impõe-se – o que é a Tradição?

Procurar saber o que realmente significa a palavra tradição não será parecido com o gesto de descascar uma cebola à procura da cebola?

As realidades dos termos – Tradição, Mito, Identidade, Símbolo – são, nos nossos dias, conceptualmente muito semelhantes.

O que mais me satisfaz para explicar o seu significado mais operacional e me leva a melhor entender a essência dessas palavras é o facto de todas elas funcionarem como que uma espécie de TRANSPORTADORA! Uma vez que, ao longo dos tempos e dos espaços, transportam consigo, na sua essência, EXPERIÊNCIAS, MENSAGENS e SENTIMENTOS, mais ou menos crípticos, mas passíveis de serem entendidos e transmitidos pelas diferentes gerações, ao longo de séculos e séculos de relações comunitárias. Uma vez que sem comunidade não existe transmissão…

No fundo, a Tradição é o passado tornado vivo no nosso presente que construímos aqui e agora, conforme nos ensina magistralmente o Prof Javier Marcos Arévalo num dos seus trabalhos de reflexão sobre estas matérias da Tradição, do Património e da Identidade:

“A tradição seria algo como que o resultado de um processo evolutivo inacabado com dois pólos dialecticamente vinculados: a continuidade recriada e a mudança. A ideia de tradição remete para o passado, mas também para um presente vivo. Aquilo que do passado permanece no presente isso é a tradição. A tradição seria, então, a permanência do passado vivo no presente.” [Arévalo, 2004]

 

Os Povos e o Território

 

Inúmeros e diversificados, com as suas idiossincrasias, foram os povos que habitaram o território que hoje constitui Portugal, e particularmente o território alentejano, apresentando cada qual as suas especificidades culturais e religiosas, os seus costumes e mentalidades próprios.

Desde os tempos pré-históricos que as populações autóctones do Alentejo, foram continuamente contactadas e influenciadas por migrações de incontáveis tribos do Centro e do Norte da Europa e também Norte de África. Enquadradas civilizacionalmente por Romanos, por Visigodos, por Judeus, por Muçulmanos e por Cristãos.

Todos estes povos e civilizações teriam, em última análise, um anseio comum – o de sobreviverem e o de legarem aos seus descendentes modos de vida menos austeros e menos adversos do que aqueles que eles teriam suportado ao longo das suas peregrinações e estadias pelos diferentes territórios atravessados e habitados.

 
Afirma José Leite de Vasconcelos no seu opúsculo denominado «Sur les Religions de la Lusitanie» [Vasconcelos,1938] que:

 “Ao paganismo lusitano-romano sucedeu o Cristianismo; (…).

 A Igreja, impotente para extinguir completamente o paganismo, santificou numerosas crenças; (…). Os simpáticos deuses tópicos, tão queridos do povo simples, transformaram-se em “santos patronos”, a quem os devotos não deixaram de render o antigo culto, embora sob uma outra forma; (…).

Herdeira de inúmeros sistemas religiosos tão diferentes, a nossa religião popular é propriamente uma amálgama; descobre-se nela ainda elementos naturistas, animistas e politeístas.

As ideias, e sobretudo as ideias religiosas, raramente se extinguem: uma vez adquiridas pela alma humana, podem experimentar mil mudanças, sofrer e confranger-se, mas resistem levantando-se sempre contra o inimigo que as ataca.”

 

Nos primórdios do Cristianismo a maioria das comunidades, principalmente as que viviam fora do termo das grandes cidades, nos campos e nas aldeias, subsistiam através da prática da agricultura e da criação de gado. Consequentemente foram por elas reinventadas, renomeadas e reutilizadas ao longo dos séculos, diversas Entidades Divinas Protectoras (os deuses tópicos, segundo José Leite de Vasconcelos), substituídas, no catolicismo popular, pelos Santos Oragos que, responsáveis pela produtividade e fertilidade das terras e dos animais, beneficiavam, em última análise, as populações que lhes erigiam templos e altares, celebrando, ao longo do ano, festas e romarias e oferecendo-lhes ex-votos e orações… numa corrente infindável de ofertas e de promessas… em troco de favores de saúde e longevidade para pessoas, animais e plantas…

O Papa Gregório I, no século VII, reconhecendo a maneira de sentir das populações, nomeadamente das populações rurais e aldeãs, instruiu o clero no sentido de, se se encontrasse entre aquelas populações simples, crenças pagãs profundamente enraizadas, as quais não pudessem ser eliminadas facilmente, fossem transformadas em práticas cristãs:

“(…) e como eles têm um costume que consiste em sacrificar muitos bois ao Diabo, substituam-no por qualquer outra solenidade, como um dia de Consagração ou os Festivais dos santos mártires… nessas ocasiões podem construir abrigos de ramos para si próprios à volta das igrejas que dantes foram templos, e celebrar a solenidade com festividades devotas. Não devem sacrificar mais animais ao Diabo, mas podem matá-los para comer e em louvor de Deus, e agradecer ao que concede todas as dádivas a abundância de que gozam.”    [Bancroft, 1991]

 

No caso das Festas e Romarias dedicadas a São Marcos, foi criada, pelo espírito humano, toda uma dramatização ritual, podendo nós descobrir nela os resquícios das grandes Mitologias do passado pagão, tornadas mais persistentes e duradoiras enquanto os homens permanecessem com a sede do Sagrado e com o grande desejo de viverem e de sobreviverem, por mais vicissitudes que eventualmente pudessem ter sofrido, ao longo de um punhado de milénios de evolução, na construção de civilizações e culturas com as mais diversificadas tonalidades e colorações. [Arimateia,1992,1993]

 

A distribuição geográfica da Festa de São Marcos no território do Alentejo  

 

No território português, a Festa do Touro de São Marcos concentra-se preferencialmente no nordeste alentejano, junto à raia extremenha espanhola. Uma Festa quase clandestina… proibida pelas Constituições e Visitações eclesiásticas mas, apesar de tudo, realizada em diversos lugares do Alentejo… Assim como eram proibidas as festas com touros nos adros das igrejas… Costume muito comum por todo o Alentejo.

 
Passo a referir os locais onde, no Alentejo, se conhece notícia da existência do culto a São Marcos:

Montalvão, Póvoa e Meadas, Nisa, Amieira, Tolosa, Santo António das Areias, Gáfete, Aldeia da Mata, Portalegre, Alter do Chão, Alter Pedroso, Chancelaria, Seda, Avis, Elvas, Pardais, Evoramonte, Évora, S. Marcos da Abóbada, Serpa, Vila Nova de S. Bento, Alvalade, Sines, São Marcos da Ataboeira.

Em algumas localidades não há senão pequenas referências num ou outro autor clássico da Etnografia, sendo necessárias pesquisas locais mais aprofundadas.

 No Alandroal não foi encontrada qualquer referência relacionada com o culto de São Marcos, contudo, no texto de uma Visitação à Igreja de Santa Maria do Alandroal, datada de 22 de Julho de 1534, apareceu uma proibição no sentido de não se fazerem corridas de touros no adro da igreja sob pena de excomunhão, uma vez que a população subia para os telhados da igreja, provocava-lhe danos e fazia muito barulho, o que não se coadunava com o serviço de Deus e da Igreja. [Proemça, 1534]

 Muito importante foi, e ainda é, a Festa de São Marcos em Santo António das Areias, no concelho de Marvão. O ritual da entrada do boizinho de São Marcos na Igreja Matriz, ainda se fazia com regularidade nos anos de 1920. [Arimateia/Oliveira, 2016]

O milagre da mansidão do touro de São Marcos e o rito da entrada do touro ou bezerro na igreja de Santo António das Areias e de outras igrejas e ermidas do Bispado de Portalegre aconteceu regularmente até 1924. Interrompendo-se pela intervenção coerciva do Bispo de Portalegre, D. Domingos Maria Fructuoso.

Apesar de tudo, no dia 25 de Abril de 1997, nas Festas de São Marcos em Santo António das Areias, aconteceu a reactualização do ritual da entrada do boizinho na Igreja Matriz. A devoção popular a São Marcos continuava viva na memória e nos sentimentos mais profundos da população das Areias.
 
Terra de criadores de gado, onde a transumância acontecia por rotas milenares, região farta de águas e cruzamento de antigos caminhos viários a partir nomeadamente do século V da nossa Era. Condições mais do que suficientes para terem dado origem a tradições religiosas arcaicas relacionadas com a Religião Popular criada, vivida e interiorizada pelas populações do território das Areias. Com a sacralização do Espírito do Lugar – local onde acontece o encontro, a dramatização ritual, a festa, a troca, a partilha e a consequente reprodução da Vida – a Romaria, a Festa e o culto a São Marcos foi acontecendo e crescendo mantendo-se activa ao longo dos séculos…

A transição do paganismo para o cristianismo, reorganizando os cultos ancestrais… foi muito bem apresentada, como atrás citámos, por José Leite de Vasconcelos: Ao paganismo lusitano-romano sucedeu o Cristianismo (…). A Igreja, impotente para extinguir completamente o paganismo, santificou numerosas crenças. [Vasconcelos,1938].

 

A principal característica do rito do tourinho de São Marcos, é a transformação do temperamento bravio do animal em manso, a partir do momento em que ele incorpora as invocações do sacerdote.

Era através da voz, e empunhando firmemente o hissope, que o sacerdote lhe ordenava:

 – Entra Marcos! Entra Marcos!

O bezerro é intimado a parar à porta do templo e de seguida a dirigir-se pacificamente para o seu interior.

Era este o milagre de São Marcos: fazer com que um bezerro bravo, convidado a entrar no templo pela água benta e pelo nome do Santo, se acalmasse e que, apesar da multidão, febril de excitação e altitroante o rodeasse e o comprimisse, este obedecia prontamente às palavras e aos gestos rituais do sacerdote.

Transformava-se num boi bento, que não era sacrificado in situ mas que no fundo retinha e manifestava, durante um curto período de tempo, propriedades de cura… pelo menos para as crianças mais bravas. Em certos locais (em Gáfete), o boizinho, após entrar na ermida, era benzido com água benta e o sacerdote batia-lhe na cabeça com uma cruz de madeira. Mais tarde a mesma cruz era usada para acalmar os meninos também com uma batida nas suas cabeças…

 
É enorme a diversidade cultural da Festa de São Marcos, nomeadamente em Portugal (Alentejo) e em Espanha (Extremadura e Andaluzia). Contudo, encontramos a devoção a São Marcos, com outras manifestações formais e performativas, por toda a Península Ibérica, Açores, Canárias, por toda a América Latina de língua castelhana e ainda no Brasil.

Como curiosidade refiramos que, particularmente na Estremadura espanhola, este culto a São Marcos, com a entrada do touro na igreja, teve um grande desenvolvimento, com a notícia de muitos prodígios e milagres. Esta Festa foi proibida em Espanha, por real provisão, a 6 de Abril de 1753. Mas foi tão somente em meados do Século XIX que o costume do touro de São Marcos, foi suspenso definitivamente. Anteriormente foi muito festejado nas localidades de Brozas, Casas del Monte, Casas de Don Gómez, Pozuelo de Zarzon, Mirabel, Talayuela, Trujillo e muito possivelmente naquelas povoações de Badajoz pertencentes ao Priorado de S. Marcos.

 
Ainda hoje se organizam as festas, com romaria e procissão na pequena ermida de S. Marcos de Seda/Chança, concelho de Alter do Chão, onde ainda nos inícios do século XX se celebrava intensamente o culto do boizinho de S. Marcos.

Por informação de Susete Antunes, residente em Chancelaria (Concelho de Alter do Chão), é referido que no dia 25 de Abril, se organizava todos os anos uma tradicional festa e romaria no local da ermida de S. Marcos de Seda ou de Chança.

Antigamente cumpriam-se promessas ao Santo, em que se ofereciam, para leilão: vitelos, borregos, galinhas, bolos, folares, dinheiro, bordados, etc. A romaria começava com a celebração da Missa às 12:00, de seguida todos merendavam e conviviam no campo ao redor da ermida. Pelas 15:00 saía a procissão e contornava o cruzeiro, voltando de novo para a ermida onde as oferendas eram benzidas e depois leiloadas. Todos os anos era oferecido um vitelo que entrava na ermida, onde era benzido junto ao altar, e entregue depois aos caseiros, (que viviam numa pequena casa junto à ermida, hoje em ruínas) que o engordavam até ao ano seguinte, sendo depois leiloado e vendido, revertendo esse dinheiro para a manutenção da ermida. Estes caseiros viviam duma pequena horta, de algum gado e ainda de esmolas. Deslocavam-se, habitualmente, uma vez por semana, às aldeias próximas com uma pequena imagem de S. Marcos (que hoje se encontra recolhida na sacristia na Igreja Matriz de Chança) para dá-la a beijar e pedir esmola para o seu sustento. Esta imagem também era tradicionalmente requisitada pelos criadores de gado quando este adoecia e necessitava do auxílio sobrenatural do Santo Protector! [Antunes, 2011]

 
Corre um ditado por terras de Alter que diz: “És como o vitelinho do S. Marcos, só fazes o que queres!”. Como todos consideravam o boi benzido, como protegido, deixavam-no comer em todas as pastagens ao redor, e, ele fazia o que queria sem ninguém o incomodar.

  Pesquisando sobre a festa de São Marcos encontrei, ainda, uma descrição deliciosa sobre Alter do Chão e do seu costume ancestral num livro denominado “Os Miseráveis do Alentejo” [Cruz, 1863] onde se pode ler uma descrição do que teria sido a festa de São Marcos em Alter do Chão, no dia 25 de Abril do ano de 1838:

 “Já foram a Alter do Chão, e viram, ao passar, abandonando Fronteira, a fonte dos bonecos, próxima áquella antiquissima povoação?

Admiraram por acaso o seu lago, ou dormiram na estalagem que fica no rocio mesmo ante a ermidinha de S. Marcos?

Estamos no dia vinte e cinco de Abril do ano de 1838.

O povo, o senhor povo, a patulêa, o pé fresco, ainda n’esse tempo assim não eram denominados; haviam somente dois partidos: setembristas e chamorros!

A concorrência era extraordinária. Grupos e grupos de povo paravam cheios d’enthusiasmo ao pé da ermida do santo. Do lado de Alter Poderoso – Altieri, dos já corrompidos vocábulos latinos – descem pela antiga via dos romanos, que de Merida atravessava as povoações extinctas das raças primitivas indígenas, e das invasoras da Lusitânia. Conduzindo o boisinho, que tinha de fazer n’esse dia o milagre de beijar o evangelho, feito pelo mesmo santo, nos cornos de um toiro; e a seu turno de receber os ósculos de milhares de pastores vindos de longas terras, e mesmo de muitos cidadãos da localidade.

E até da antiga Amae Júlia era numerosíssimo o concurso.

Porem, todos os povos, desde a vetustíssima Scalabis Castrum procuravam a Ponte de Sôr, e Villa Formosa, atravessando suas bellissimas pontes – tambem da via latina – onde ainda actualmente se descobrem os vestígios de minas exploradas – parando só em Altieri – Alter do Chão – para admirarem o boisinho.

Lá toca á festa.

As senhoras de Alter do Chão, com suas riquíssimas saias pretas, talhadas com primor e gesto, coucas feitas de papelão – similhante aos chapéus, que se usaram em 1836, cobertas de lucto eterno; com suas mantilhas curtas da mesma cor, e seu véo também negro; voavam para a ermidinha. As mulheres do povo, quasi todas lindíssimas, e de formas inimitáveis, trajavam do mesmo modo, e assim, como por descuido, desejavam, que os seus amores as vissem.

É hoje pois dia de S. Marcos – do senhor San’Marcos, honra que lhe concedem n’este dia – pois não ficaria contente se lhe não dessem uma senhoria. – Quase iamos rimando.

Uma musica tocava – se aquilo era tocar, e esperava a entrada do boisinho, no meio da numerosíssima chusma de espectadores!

Os foguetes, que restrugiam desde a vespora á noite, e que extasiaram os admiradores com seu estridolo estourar, ainda n’este momento eram as delicias da mor parte do auditório.

Que lindissima loucura!

Só um espectador manêta ria internamente de tanto brilho!

Era sceptico: morreu sem o ser em 1862, dia de S. Bartholomeu – dia em que o diabo anda á sôlta!

Vamos ao que importa, e os leitores e leitoras saberão cruelissimas atrocidades que este phenomeno commetteu.

«Entra Marcos, entra, em louvor do senhor S. Marcos!»

E o povo, com varinhas, tocava o boisinho milagreiro, e acompanhava cada dóse com as palavras acima ditas.

O maneta ria constantemente.

O povo desesperado bramia surdamente, e de uns para outros, pela bocca pequena, diziam:

«Quebramos a este faz formas, faztudo, o outro braço?!...»

A prudencia de alguns moderou os mais exaltados, pois não prestaria o milagre se houvesse desordens.

O santo effectivamente foi bastante festejado, praticando o boisinho bruscamente o milagre, e isso mesmo devido aos impulsos do povo, e seus devotos.

As senhoras da coucas sahiram do templosinho.

O povo resmungou todo o dia contra o maneta, por mangar esturdiamente dos seus crédulos costumes.

Houve á tarde os invariáveis touros – vaquinhas mansas da localidade – as quaes foram brutamente espicaçadas, concedendo a competente auctoridade, licença com a innocentissima intenção de se respeitarem os usos, e de se arranjarem alguns vinténs a favor dos estabelecimentos de caridade!

Gostâmos d’isto.

Falleceram dois insignes toireiros no hospital – ‘entre aquelles que beberam mais vinho.

A culpa não foi d’elles. É dos que apregoam civilização e consentem que se pratiquem d’estas e de outras scenas barbaras.

No entanto que, os filhos dos lavradores, fazem, pelas maxima parte, galla em não saberem ler nem escrever!

Não moralisâmos, porque estas idéas que aqui estampâmos laboram em muitos cérebros!...”

 

As proibições eclesiásticas

 
As proibições Eclesiásticas em Espanha (Extremadura e Andaluzia), embora tivessem existência anterior, foram somente eficazes a partir de meados do século XIX e, no Alentejo, a partir de 1924, mais concretamente a partir da Diocese de Portalegre, por imposição episcopal. Embora o Doutor Manuel Valle de Moura já se tivesse pronunciado a partir da Inquisição de Évora, no ano de 1620, com a publicação do livro “Incantationibus Seu Ensalmis”. [Arimateia, 1992].

Este rito religioso foi de facto proibido por todo o território da Diocese de Portalegre em 1924, através de um aviso efectuado a todos os párocos das freguesias, por D. Domingos Maria Fructuoso, com a finalidade de “suprimir abusos condenáveis que com o correr do tempo se teriam introduzido na celebração” da festa de São Marcos. O caso de Gáfete, foi paradigmático, demonstrando uma grande tensão e confronto entre as populações locais e a hierarquia religiosa. [Arimateia, 1992]

Enquadrou juridicamente as proibições anteriores a publicação de Breve do Papa Clemente VIII a 10 de Março de 1598, dirigido a uma Diocese de Bispo Civitatense (de Ciudad Rodrigo), respondendo a solicitação deste último prelado. O Papa condenava a prática do Rito de São Marcos, por considerá-la: uma prática Supersticiosa, uma prática Escandalosa e uma prática Indecente. [Feijóo, 1755]

A evolução das mentalidades e a Inquisição em Espanha (embora defensora do milagre de São Marcos ainda durante o século XVI) bem como as polémicas que se fizeram sentir ao longo dos séculos XVII e XVIII, levaram à irradicação definitiva de terras de Espanha da Festa e Culto de São Marcos, por prática supersticiosa e contra os Mandamentos da Santa Madre Igreja.

Os espanhóis davam o nome de aldeia de “São Marcos” à povoação de Santo António das Areias, devido à fama das festas ao Santo que provocava uma enorme ocorrência dos vizinhos da raia extremenha, para presenciarem a entrada do boizinho na igreja e para assistirem às touradas e arraial.

 

O Santo     origens, atributos e virtudes

 

Sobre o Apóstolo São Marcos, podemos ler na obra “Vidas e Paixões dos Apóstolos” [Brihuega, 1989], o seguinte:

“Sam Marcos, evangelista, ante que se convertesse, foi sacerdote dos judeus.

Mais converteu-o, depois, Sam Pedro, e bautizou-o, e foi seu discipolo, bem como Sam Lucas, de Sam Paulo.

E, ao tempo que Sam Pedro foi a Roma, foi Sam Marcos com el, ouvindo sempre a sua preegaçom, e parando muito mentes em nas cousas que preegava, e contava / muito do feito de Nosso Senhor Jesu Cristo.

E el reteve-as mui bem em seu coraçom. E, porque Sam Marcos screvera já os seus Evangelhos em Terra de Judea em na lingoagem dos judeus, rogaram-lhe todolos cristãos qye eram em Roma que el screvesse um Evangelho de todo aquelo que ouvira dizer a Sam Pedro e do que aprendera del. E el screveo seu Evangelho mui pequeno e mui breve. E, dês que o houve scripto, mostrarom-no a Sam Pedro, e el leu-o e deu-lhe sua outoridade e seu outorgamento, que devia a seer leudo bem come aquela scritura em que nom havia senom verdade.”

 

Em relação ao “nosso” São Marcos, o do boizinho, em termos de referências bíblicas e eruditas ao boi, estas são inexistentes a não ser uma muito rápida referência, na obra atrás citada de Brihuela. Assim, no capítulo 263.º, às páginas 362 e 363, “De como Sam Marcos foi arrastado e açoutado, e apareceu-lhe Nosso Senhor e morreu”, poderemos ler:

“(…).

E enton veo un dia de Pascoa, sete dias por andar d’Abril, e em aquel dia faziam eles festa a un dos seus ídolos. E todos aqueles que o buscavam eram ali ajuntados, e andarom-no tanto buscando que o acharom u stava cantando Missa.

E deitarom-lhe bem ali un baraço na garganta, e levarom-no, fazendo-lhe muito mal. E tragiam-no pela cidade, e doestando-o muito, e diziam:

- Levemos este boi ao / lugar u matam os bois!

(…).

E a manhãa sacaram-no do carcer e deitarom-lhe outra vergada o baraço na garganta, e fezeram-no restrar, e, tragendo-o assi rastrando de ca e de la, iam bradando empos el, e diziam:

- “Trahite babulum ad loca buculi”, que quer dizer: “Levade esse boi ao lugar u matam os bois”. (…).

Nesta referência parece-me interessante sublinhar o facto do martírio de São Marcos ocorrer em Abril, durante a Páscoa e o facto de certo modo haver a coincidência entre a morte do santo e o terem levado para o “lugar u matam os bois!”, lugar de sacrifício onde o taurobólio acontecia…

Existem ainda outras referências, digamos assim, eruditas, referindo o facto de São Marcos ter tido igualmente a autoria de “milagres”. Segundo reza a obra Acta Sanctorum, citada por Pedro A. D’Azevedo [1989] e que passo a citar o resumo por este apresentado:

“(…). Causava admiração aos habitantes da Apúlia, na Itália meridional, não chover havia cinco annos no paiz, até que lhes foi revelado por certos religiosos, que isso era motivado por não observarem a festa e São Marcos. Reuniram-se então todos na Igreja por ocasião da mais próxima festa do santo onde “impetraram” com orações os benefícios de São Marcos: e logo choveu com mais abundância do que havia esperança, cessando a esterilidade da terra.            

(…).”

As origens nebulosas das tradições de São Marcos foram influenciadas pela arcaica religião Pagã (de pagus, relativo à aldeia, ao campo).

Marte Silvanus foi deus romano da agricultura. Posteriormente, São Marcos foi, por sua vez, o protector das colheitas, das vinhas e das madeiras.

Será o rito do Boizinho de São Marcos, originário dos antigos cultos romanos de Marte ou de Diana, ou de quaisquer outros Deuses de outros Panteões? Este culto teve, e tem ainda nas suas formas mais modernas, nas suas reminiscências, como finalidade última a constituição e a construção da Romaria, onde desde sempre o Sagrado e o Profano se juntavam e confundiam, e onde aquela se constituía como forte factor de coesão social, garante, ao longo dos tempos, da sobrevivência física, psíquica e espiritual do homem e da comunidade…

A Festa de São Marcos, a 25 de Abril, coincide com a antiga Festa Romana Rubigalia, que era celebrada para pedir a protecção contra o rubigus – ferrugem – do trigo. Nesse mesmo dia, no âmbito do ritual dos Mistérios de Isis, procedentes do Egipto e fortemente implantados tanto na Grécia como em Roma – através da Alexandria, local onde segundo os hagiógrafos cristãos se terá dado o martírio de São Marcos – se celebrava a festa mistérica de Serapis. Era esta uma divindade sem mito, puramente salvífica (de sôter, salvador, um cognome de Júpiter), que vinha unir-se ao mito de Isis e Osíris, tomando a personalidade do Deus despedaçado e as qualidades solares do boi Ápis e note-se que Serapis, enquanto nome próprio, é uma união Osíris-Ápis. Serapis era a divindade propiciatória da fertilidade da Terra – a deusa Mãe – e, através dos ciclos agrários, da morte e da ressurreição do ser humano. Há que fazer notar que os cultos Isíacos, como praticamente a totalidade dos ritos mistéricos, tiveram na Hispânia uma enorme difusão. E cabe aqui recordar que o serapeu mais importante de entre os que se descobriram na Península é o de Panóias, referido pelo Dr. José Leite de Vasconcelos na sua obra “Religiões da Lusitânia”, e não longe dos lugares extremenhos onde Feijóo e o Padre Coria confirmavam a presença activa do rito festivo do touro de São Marcos em obra publicada em pleno Século XVIII. Tal como pode, pois, deduzir-se de todos os dados dispersos surgidos nas festas que se celebram em torno de São Marcos, o Evangelista teria passado a substituir, na data precisa, uma divindade serápica que teria sido provavelmente venerada nos lugares onde posteriormente se renderia culto ao santo. [Feijóo, 1755]

Várias virtudes possuía o Santo e, além de padroeiro dos gados (das reses), pois tinha como missão a de livrar os gados dos lobos e de moléstias…

Em algumas localidades, no dia da Festa, enfeitava-se o altar de São Marcos com espadanas que, depois de benzidas pelo pároco, eram dadas aos lavradores para que as pendurassem nas árvores ou as espetassem no chão das searas ou das hortas a fim de que as plantas prosperassem.

Hoje ainda, sob a invocação de São Marcos, São Mamede, São Luís, Santo António ou outro santo, os camponeses e lavradores levam o seu gado junto às capelas respectivas, fazendo-o dar certo número de voltas às mesmas, antes de serem benzidos pelo sacerdote.

Outros atributos de São Marcos: protector dos campos, das colheitas e do gado vacum. O apaziguador de pragas (lagostins); o amansador de meninos bravos; o propiciador da chuva…

No Brasil, diz-nos Câmara Cascudo que não houve culto de São Marcos (tal como o conhecemos em Portugal), mas a sua figura está presente no devocionário supersticioso de orações fortes, dedicadas justamente à doma de touros bravos. Contudo, na tradição popular brasileira, as orações ao santo foram utilizadas não só apenas para amansar animais bravos mas também para “laçar” pessoas desejadas como amantes (para amansar corações…).

 
 
O Touro, o Homem e a Cultura ao longo das Civilizações

 
A importância cultural e civilizacional do Touro/Boi, na sua relação com o Homem, impõe-se desde as mais recuadas manifestações artísticas da Pré-História – em Lascaux, em Cuenca e no Vale do Côa… O Touro sempre esteve ligado à própria sobrevivência física do homem…
 

A representação escultórica de um eventual antigo culto do touro no III Milénio a.C. manifesta-se abundantemente na Arte Antiga que chegou até aos nossos dias, no Egipto e em Creta…

 
O boi Ápis no Egipto, antiga divindade agrária, simbolizava a força vital da natureza e a sua força geradora; e as representações de jogos com os Touros nas Civilizações pré-helénicas de Creta.

 
A Civilização Greco-Romana deixou-nos um extraordinário legado mitológico sobre o Touro. O rapto de Proserpina, por Plutão, assim como a representação dos mitológicos trabalhos de Hércules (na imagem vemos a luta do Herói capturando o touro de Creta, o Sétimo trabalho de Hércules), são dos exemplos mais representativos.

Por outro lado, o Deus Mitra dos Romanos, através da religião mitríaca, deixou vestígios por todo o território português, nomeadamente no Alentejo.

 
O Mito de Teseu e Ariadne descreve-nos o herói enfrentando e vencendo o Minotauro do Labirinto de Creta.

Simbólica e mistericamente, o Labirinto foi construído de modo a chegarmos sempre ao seu Centro. A questão de encontrarmos ou não o Minotauro no Caminho para o Centro e a questão de o dominarmos ou não durante a nossa Demanda é outra conversa! A natureza do Minotauro confunde-se com a nossa própria natureza e a escolha é única e exclusivamente nossa, e como na fábula: teremos de decidir se alimentamos o touro/lobo mau ou o touro/lobo bom... para, mais uma vez, conseguirmos sobreviver!...

 
Denominamos vulgarmente por Presépio (palavra de origem latina que significa "local onde se recolhe o gado") aquela representação lúdica da cena do nascimento do Menino Jesus, com todo um enquadramento poético e bucólico. Nomeadamente descrevendo a presença do Menino, entre dois animais (boi e burro) acompanhado de Sua Mãe e por José e, perante eles, pastores, anjos e Reis (Magos) a adorá-Lo e a oferecer-Lhe presentes.

Diz-nos José Leite Vasconcelos: “Quando se lançam as sementes à terra, chega-se ao focinho do boi a cesta que as contém, para este as bafejar, e a sementeira produzir, porque o boi bafejou Cristo no presépio (passim no Minho e Douro).” [Vasconcelos, 1986]

 
O Milagre de Santa Maria narrado por Afonso X na Cantiga n.º 144 – “Como Santa Maria guardou de morte un ome bõo, en Prazença, dun touro que vera polo matar.”    O costume do Touro Nupcial, na Idade Média, resumia-se ao seguinte: o noivo tinha de tourear um touro junto à casa da noiva colocando-lhe bandarilhas decoradas por esta e sacrificando-o. A prenda da noiva, associada ao sangue do touro bravo, garantiria a fertilidade do matrimónio…

 
Representações pictóricas do touro na Arte Zen (Japão) e em Picasso (Guernica). O touro na Astrologia – a Constelação de Touro. Manifestações artísticas dos nossos tempos que reactualizam o significado essencial do antigo animal mítico.

 
Nos trabalhos da lavoura: no arar os campos, no carrego do cereal, por todo o Portugal foram utilizados bois. Na faina da pesca de mar – a arte xávega tradicional com o carrego dos barcos para o mar… um sem acabar de relações entre homem e boi/touro.

 
As chegas de bois no Minho e em Trás-os-Montes. A capeia arraiana no Sabugal. As touradas e as garraiadas como festas eminentemente populares por todo o país. A festa, a terra, o sangue, a força, a fertilidade… tudo relacionado e atado pelas arcaicas religiões tradicionais e que chegaram de modo mais ou menos profano aos nossos tempos.

 
 
Conclusão

 
O tempo longo do Rito/Mito do Touro [de São Marcos] ainda permanece inscrito nas memórias e nos genes das populações das aldeias e das vilas por esse Alentejo fora… e manifesta-se pela aceitação das práticas possíveis para as mentalidades dos tempos de hoje…

A problemática da Religião Popular foi abordada de modo a permitir uma outra abordagem que foque de um modo integrado essa Realidade nos seus diferentes mas complementares factores constituintes: a Romaria, o Templo, o Mito, o Sacerdote, o Crente, a Fé, a Unidade, o Deus, a Vida, os Santos, os Ritos, a Tradição…

Realidade multifacetada cujo fio condutor tem o poder de a dominar, de a compreender e de a transformar, fio esse que é afinal o próprio Homem…

Afinal o que é a Religião senão a “técnica” que o homem encontrou ou inventou para ultrapassar a sua própria efemeridade e atingir a imortalidade?! Isto é, encontrar um factor de coesão grupal que permita dar continuidade à própria espécie humana, à sua memória, ao seu Ser, que no fundo se encontra ligado a tudo o que constitui o Universo…

Em épocas primevas o homem não se considerava em absoluto a medida de todas as coisas. Sabia que a sua vida era enquadrada, assim como a das plantas e flores e animais, por “estações”, por ritmos e pulsações, por ciclos de grandeza cósmica, ontem conhecidos e respeitados, mas hoje já praticamente esquecidos ou ignorados. A estes ritmos cósmicos ajustava ele, inteligentemente, a sua actividade criadora e a sua vida em comunidade.

 
 
 
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Rui Arimateia – Centro de Recursos da Tradição Oral e do Património Imaterial do Concelho de Évora, 17 de Março de 2017 [ rui.arimateia@gmail.com ].

Texto completo com as ilustrações publicado in  CADERNOS DO ENDOVÉLICO - 3 (Da Arqueologia à Etno-Botânica e da Etnografia à Etno-Literatura), Edições Colibri/Centro de Estudos do Endovélico - Câmara Municipal do Alandroal, Lisboa, 2017.


[1] Centro de Recursos da Tradição Oral e do Património Imaterial do Concelho de Évora
 

A MORTE É A CURVA NA ESTRADA

Relembrando Fernando Pessoa:

A morte é a curva na estrada.
Morrer é só não ser visto.
Se escuto eu te oiço a passada.
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.