domingo, 16 de agosto de 2009

HISTÓRIA E INFRA-HISTÓRIA

Hoje partilho convosco um texto de Fidelino de Figueiredo, uma das grandes figuras da cultura, da história e do humanismo Lusitano.
Muitas vezes, demais talvez, esquecido tal como muitos outros humanistas e filósofos desta nossa terra lúcida… mas tão abandonada pelas actuais medíocres classes políticas dirigentes, que não sabem orientar o Povo na direcção da Luz!...
O problema da História é o facto de ser escrita por quem detém o poder temporal… Umas vezes (raras) investido de autoridade outras enganando, burlando e escamoteando a realidade do que é ao Povo que em Democracia conferiu essa Autoridade ao político, ao que deveria gerir a res publica de maneira equilibrada e honesta…
Olhemos para as nossas democracias para vermos que a coisa não se passa assim… Existe poder e abuso de poder…
Mas, reflictamos com Fidelino de Figueiredo, sobre a história e a infra-história:

«A história que se ensina e que baseia a governação e os comentários jornalísticos, outrora matéria oficial dos cronistas régios e ainda hoje departamento predilecto da erudição académica, está para a história integral como a espuma suja da superfície para as fermentações de um líquido, ou como a queda outonal da folhagem e o seu apodrecimento sob a chuva para a evolução biológica das plantas: uma parte, e parte miserável, de um nobre conjunto […]. A história integral possui outro plano oculto, o da subterrânea acção criadora – subterrânea como a das raízes daquele arvoredo que no Outono se despiu das suas frondas que lhe sobem das ocultas raízes. A essa história enganosa e ruidosa da superfície opõe-se a verdadeira e silenciosa, a das fermentações profundas, a das raízes invisíveis, a infra-história – zona em que a inteligência estimulada por todos os anseios labuta, não pelo domínio do homem sobre o homem, sim pelo domínio do homem sobre a Terra, com toda a fenomenalidade que o envolve e todo o cenário do Cosmos que o defronta. Essa infra-história é que determina a agitação da história aparente. Assim a realidade profunda e invisível do mundo vibratório do átomo determina a aparência enganosa e bela do mundo empírico das sensações […] como em boa verdade coexistem os dois mundos, o das sensações de perímetro humano e o da vibração atómica de perímetro universal, assim coexistem os dois planos da história, o da aparência superficial e o da realidade profunda.»

Fidelino de Figueiredo
Entre Dois Universos (1959)

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