quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ÉVORA CIDADE - O PRINCÍPIO, ONDE A REALIDADE E A FANTASIA SE ENCONTRAM...


Não esqueçamos nunca que, quem faz a história oficial da Cidade é a classe dominante; em determinada época a constitui e a tenta reproduzir a fim de justificar a sua permanência no poder…

Antes de se entrar em aspectos mais concretos sobre a evolução histórica da Cidade de Évora em si, façamos uma rápida abordagem, digamos assim, antropológica, sobre a Fundação de uma Cidade.

A realidade Cidade aparece como o resultado da complexificação das estruturas sociais e humanas. Da família ao clã, do clã à tribo, da tribo à Fundação da Cidade... Nesta co-existem os indivíduos, livres, estratificados numa hierarquia de valores, de direitos e de deveres. É na Cidade que acontece o exercício da lei e do poder (a política), é na Cidade que acontece o exercício da Religião e dos Cultos... A Cidade enquanto suporte físico da Autoridade e da Ordem...

A Fundação de uma Cidade era sempre um acto religioso, como resultado do facto disso acontecer como consequência da união de diversas famílias sob o mesmo culto (Autoridade) e sob o mesmo santuário...

Lembremos um Ritual ancestral de Fundação de uma Cidade, nomeadamente na Antiga Grécia: o herói fundador teria de cavar um pequeno buraco circular, o “mundus”, e aí lançar um punhado de terra "sagrada", terra em que os seus antepassados estão sepultados...
Da antiga Grécia a Roma e de Roma à Évora primeva. Conceitos e ideias a ter em conta: o Circular, a Sacralização do Espaço (do Caos ao Cosmos), o acto volitivo e de poder. O arquétipo.

A Fundação de uma Cidade, neste caso Évora, data de tempos imemoriais, ofuscados pela lenda... Cidade erigida nos tempos míticos dos heróis e dos deuses... Tempos em que a Cidade era vista como Pátria... como a terra dos antepassados...

Através da História, percebe-se que Évora foi local de encontro e de encruzilhada de diferentes civilizações e culturas.
Citada por vários escritores Romanos, de certo modo biógrafos do Império Romano: Plínio, Pompónio Mela, Antonino Pio, Estrabão...
No ano 700 a. C. teria sofrido uma "invasão" de tribos da Germânia denominadas por Eburones.
Viriato, no ano 144 a. C. terá derrotado o general romano Caio Plácio às portas da cidade.
Sertório designou-a como sede do seu governo no ano 81 a. C..
Júlio César, em 30 a. C. chamou-lhe "Liberalitas Julia", criando em Ebora (assim se denominava nessa altura) o município do antigo direito latino, considerando os residentes enquanto cidadãos romanos.
Por outro lado, e pouco antes da nossa Era, Évora foi crismada com "Felicitas Julia", em honra de César. Segundo o historiador Jorge Alarcão, "Ebora era a cidade da Lusitânia (portuguesa) onde habitava maior número de famílias de origem romana", existindo no seu termo numerosas "villas" rústicas.
Em 413 d. C. outras tribos ocuparam Évora, desta feita foram os Alanos, igualmente provenientes do Norte da Europa.
Por sua vez os Godos conquistaram a Cidade em 612.
Os Árabes tomaram-na em 716 e denominaram-na nas suas Crónicas por Yabburah. Edrici, um dos maiores geógrafos árabes, situa e descreve assim Évora: "Desde Alcácer ao mar há 20 milhas e de Alcácer a Évora duas jornadas. Esta última cidade é grande e povoada. Rodeada de muros, possui um castelo forte e uma mesquita-catedral. O território que a rodeia é de uma fertilidade singular; produz trigo e gado e toda a espécie de frutas e hortaliças. É um lugar excelente, donde o comércio é vantajoso, quer de exportação, quer de importação".
Foi pelos Cristãos conquistada aos Mouros em 753 pelo rei de Oviedo, D. Fruela I, e reconquistada por aqueles em 760 com o auxílio dos moradores, sob o comando de Abd-el-Ramon, Califa de Córdoba.
Fernando magno, rei de Oviedo e de Leão, tornou a apossar-se de Yabburah em 1097, para a perder alguns anos depois.
D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, conquistou-a em 1159 (juntamente com Beja), mas foi forçado a abandoná-la por pressão de forte exército Almôada.
Só em 30 de Novembro de 1165, Geraldo Geraldes a reconquistou definitivamente para a recém criada Coroa portuguesa.
A Cidade teve foral por D. Afonso Henriques a 28 de Janeiro de 1167, posteriormente confirmado por D. Sancho I em Santarém, em Janeiro de 1218.
O Rei D. Manuel I deu-lhe Foral da Leitura Nova em 1501.

O Renascimento em Évora, a capital de um Império por realizar...

A seguir há outras histórias, outras gentes e a Évora de sempre que se matiza com as cores dos seus filhos e dos filhos dos seus filhos e assim por diante até aos dias de hoje.
R.A.

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