sábado, 4 de agosto de 2012

O ÚLTIMO SEGREDO


Reflexão à volta do livro O ÚLTIMO SEGREDO, de José Rodrigues dos Santos (Gradiva Publicações, S.A., Lisboa, 2011).


Terminei a leitura de “O Último Segredo”, da autoria do prestigiado jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos.

Esta obra que revela-nos a figura de Jesus numa perspectiva a que não fomos tradicionalmente habituados a olhar e muito menos encorajados a estudar no âmbito da nossa educação oficial.

A escrita deste livro revela uma grande capacidade de análise e de síntese fazendo com que olhemos de um modo mais rigoroso não só os Evangelhos e todo o Novo Testamento, mas também o Antigo Testamento e os textos apócrifos, alguns de uma beleza e de um simbolismo que mereceriam uma maior atenção pelos estudiosos das religiões e não só pelos cristãos.

Não há Religião superior à Verdade.

Assim, a Religião, penso eu, deveria ser encarada na sua perspectiva mais universalista e menos sectária, uma vez que a Verdade é UNA e Indivisível, manifesta-se é de diversas maneiras, consoante a cultura, a tradição e a mentalidade vigentes e muitas vezes controlada, demasiadas penso eu, pelas mentalidades que detêm o poder.

A figura de Jesus o Cristo é realmente uma entidade polémica, envolta em mistérios vários e que tem vindo a ser construída ao longo dos últimos dois mil anos, tal como deixa pressentir, pelo menos assim o intuí, no decorrer da sua obra acima referida.

Na minha maneira de encarar esta personalidade, tenho tido o auxílio de autores  da área da filosofia teosófica e que me ajudaram a olhar para a figura de Jesus o Cristo de um modo diferente e um pouco à maneira dos gnósticos.

Cultural e tradicionalmente a minha educação foi condicionada pela Igreja Católica Apostólica Romana, contudo há muito que se tornou insatisfatória e insuficiente perante a minha tentativa de investigar as questões mais profundas da mesma.

A figura histórica de Jesus não convencia!... Era necessário estudá-la mais profundamente e este seu livro constitui, a meu ver, uma extraordinária ferramenta para o efeito.

Contudo só me satisfez minimamente a ânsia de procura de respostas de foro mais interior ao estudar a figura de Jesus através de outras duas vertentes complementares: a figura de Jesus -  mítico, estudado à luz de toda uma Mitologia Universal comparada; e a figura de Jesus o Cristo - místico, construído no interior de cada um dos seus seguidores ao longo dos últimos dois milénios.

Assim, toda a dramatização da vida de Jesus, desde o seu nascimento até à sua morte, ressurreição e ascensão ao Pai, foi sendo construída com contornos de uma “história maravilhosa” seguindo a tradição milenar dos Antigos Mistérios que desde sempre maravilharam, instruíram e educaram a Humanidade. Aqui surge o problema da metáfora e dos ensinamentos metafóricos, das parábolas, muitas vezes detentores de diversos sentidos e cujos sentidos mais esotéricos, mais internos, só alguns pensadores, detentores de chave exegética, poderiam alcançar o seu significado mais profundo.

É nesta altura que o poder temporal vem confundir e baralhar tudo. Uma vez que dominar o conhecimento é o primeiro passo para manter o poder. Contudo o poder provém e poderá ser usufruído por quem detém a Autoridade (Autoridade Espiritual?...) para o fazer, proveniente daquele grupo de humanos que possui a sageza da interpretação dos Mistérios atrás referidos, orientando os ensinamentos para a construção evolutiva de toda a Humanidade. O problema do nosso tempo é que existem demasiados grupos humanos (igrejas, seitas religiosas, partidos políticos, grupos económicos e financeiros, etc.) que detêm e usam a seu bel prazer o poder sem lhe ter sido conferida ou merecida qualquer Autoridade.

Krishna, Lao Tsé, Buda, Zoroastro, Cristo, Maomé e talvez Krishnamurti, nosso contemporâneo, todos excelsos Seres originados do que mais brilhante e esplendoroso possui a Humanidade no mais profundo e inefável de si própria. A Palavra e os exemplos de Vida daqueles Avatares, foram transmitidos para a Humanidade envoltas por um invólucro maravilhoso que por isso mesmo é intemporal e eterno. A história aqui é de somenos importância e o símbolo e o mito imperam fazendo-os semelhantes entre si. A mensagem que nos trazem é Una: Amor. Não obstante os seus seguidores a maior parte das vezes a cristalizarem em dogma e a transformarem em ódio.

Com o final do livro, “O Último Segredo”, adivinha-se a continuação da busca e da investigação sobre os problemas da ciência, da religião e da filosofia que no fundo animam e motivam a humanidade a seguir em frente num caminho evolutivo de construção e de boa-vontade, numa demanda do protagonista do romance, o Professor Tomás de Noronha.

Esperemos pela continuação.
 
Paz a todos os Seres!
 
Rui Arimateia

Évora, 4 de Agosto de 2012







Sem comentários: