terça-feira, 22 de setembro de 2009

A TEOSOFIA E O QUOTIDIANO

Dizia Almada Negreiros que “Quando eu nasci, as frases que hão-se salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade”.
Com a Teosofia, com a Sageza Universal, passa-se uma coisa semelhante – a Sua essência é a mesma após milénios de evolução espiritual humana. O que foi transmitido pelas Vedas, pelo Tao, pelos Upanishads, pela Kabala, pelo Talmude, pela Bíblia, pelo Corão, etc., etc., etc., poderá ser sintetizado pelas palavras de Mestre Jesus, o Cristo, no Evangelho Segundo São João, XIII-34:

“Um mandamento novo eu vos dou: amai-vos uns aos outros.
Como eu vos amei, vós também amai-vos uns aos outros.”

A Sabedoria Antiga tem sido transmitida em círculos mais ou menos fechados ao longo de eras, até H. P. Blavatsky a ter divulgado aos homens e às mulheres do Século XIX, através da publicação da sua obra teosófica, nomeadamente “A Doutrina Secreta”. Esta sua obra de cariz erudito, marcou realmente o mundo numa época em que a Ciência e a Religião estavam em choque, em grande confrontação, situadas em campos inconciliáveis.
A “Doutrina Secreta” veio dar ao mundo uma nova perspectiva de filosofia, de ciência e de religião. Veio oferecer uma visão sintética e completamente nova que marcou fortemente o pensamento do Séc. XX.
Contudo, se a Doutrina Secreta era oferecida ao mundo, outros escritos eram reservados para círculos de estudantes mais restritos, tal como o foi a colectânea de máximas denominada por “The Golden Stairs”, que H. P. Blavatsky (Collected Writings, XII, p.591) nos legou para que mais directamente pudéssemos compreender a importância, a dificuldade mas também a Possibilidade de percorrermos o Caminho da Sageza e da Libertação.
Diz-nos esse pequeno texto, constituído por treze máximas espirituais que a transformação do mundo começa unicamente e tão só em nós… Observa a Verdade diante de ti:

1. Uma vida limpa,

2. Uma mente aberta,

3. Um coração puro,

4. Um intelecto sedento,

5. Uma clara percepção espiritual,

6. Uma fraternidade universal,

7. Uma prontidão para dar e receber conselho e instrução,


8. Um leal sentido do dever perante o Mestre,

9. Uma firme obediência ao serviço da Verdade [uma vez nela colocada a nossa confiança, e acreditando que dela o Mestre é possuidor],

10. Uma corajosa perseverança da injustiça pessoal,

11. Uma valorosa declaração de princípios,

12. Uma destemida defesa daqueles que são injustamente atacados,

13. E uma constante vigília do ideal da progressão humana e da perfeição [retratadas pela Ciência Secreta (Gupta-Vidya)].

Estes são os Degraus Dourados para o alto dos quais todo o aprendiz poderá subir em direcção ao templo da Sabedoria Divina. Se os aprendizes da Vida e da Teosofia que afinal todos somos, formos capazes de apreender a mensagem ética subjacente naquelas palavras simultaneamente de inspiração e instrução.

O primeiro degrau dessa Demanda começa em nós.

Deus, Vida, Atman, o fim último da Iniciação, a Luz, o Grande Arquitecto do Universo, Aquilo-que-se-quiser-chamar… Aquela Realidade inefável mas adivinhada, tão procurado, tão aspirada, reside, de facto, em nós próprios.
Como é afirmado no Chandogya Upanishad (1) (III-14): “Este Atman que reside no coração, é menor que um grão de arroz, menor que um grão de cevada, menor que um grão de alpista; este Atman, que reside no coração, é ao mesmo tempo, maior que a Terra, maior que a atmosfera, maior que o céu, maior que todos os mundos reunidos.”
Também Paracelso o afirmou. “Trazemos em nós o centro da natureza.”
Cada um de nós é realmente um centro, um misto de físico e de espiritual, que efectua a ligação do Céu à Terra, através da nossa própria escada mística, mais ou menos conscientemente, com mais ou menos intensidade, mas em contínua evolução, em permanente busca, onde impera o sofrimento ou a felicidade, a paz ou a guerra, o amor ou o ódio, ou então achamo-nos subitamente num estado onde não é possível encontrar quaisquer referências para se compararem os complementares, para se olharem as contradições, para se apontarem os conceitos antagónicos, é através desse estado, é através desse insight, como diria Krishnamurti, que acontece a autêntica percepção da Totalidade, no sentido da autêntica consciencialização da Unidade, da Vida e da Morte.
A Busca, a Demanda, autênticas, são Solidão... mas são igualmente estados de União e Comunhão. Ao nível da relação humana e da relação do Homem com o Universo, nos estados de consciência atrás referidos, não existem um sujeito e um objecto separados e isolados um do outro, não existe a separatividade ilusória, mas onde a cada um é conferido (implícita e objectivamente) um Estatuto de Ser e de Ser dotado de Palavra simultaneamente Criadora e Libertadora...
A Lei das Complementaridades, a ilusória Lei das Dualidades, mais não são do que a manifestação de uma Unidade Inefável.

A Teosofia aplicada à vida quotidiana é afinal viver de acordo com os ditames da Natureza, esta sim suma criadora de tudo quanto existe, vibra, movimenta, pensa, sente e é! A Unidade da Vida é a palavra-chave para a compreensão e vivência da Sabedoria Divina.
Paz a todos os Seres!


Nota:
(1) Os Upanishads, livros de carácter sagrado que, na Índia, são comentários explicativos dos Vedas.

Rui Arimateia
“Textos Teosóficos XIII”
Évora Ramo “Boa-Vontade” da Sociedade Teosófica de Portugal

Sem comentários: