sexta-feira, 1 de maio de 2009

APRENDER A SER... EM LIBERDADE

Todo o aprender é comunicar!
Comunicar é: estar em relação com, agir. Partindo do pressuposto de que basta estarmos presentes para estarmos a agir e, por assim dizer, a comunicar: é impossível não comunicar. A comunicação não tem antítese. Estamos constrangidos a comunicar seja qual for o tipo de comunicação que se estabeleça com o outro no quotidiano: verbal ou não-verbal, pela palavra ou pelo silêncio. O compromisso da relação encontra-se sempre presente.
Em termos pragmáticos põem-se ao homem de hoje duas questões fundamentais: o que é aprender? E, quando se aprende?
Lembremos as inspiradas e inspiradoras de Goethe, quando afirma:

“Quando se pensa em formar as crianças para uma vida mais ampla é fácil empurrá-las para o infinito, sem ter presente o que verdadeiramente lhes pede a própria natureza.
O indivíduo é muito senhor de se ocupar com aquilo que o atrai, com aquilo que lhe causa alegria, com aquilo que lhe parece útil; mas o estudo mais essencial à humanidade é o homem.”

Para permitir uma autêntica aprendizagem da Vida, através da relação e da experiência teremos de Ter em conta três importantes vectores: a Liberdade, a Aventura, a Unicidade.
Liberdade porque só o homem autenticamente livre poderá aprender ou ensinar a ciência da relação e da interrelação humana. Aventura, porque ser livre e querer aprender pode considerar-se hoje um desafio, uma autêntica Demanda, em que o homem terá de encontrar o Caminho através do Labirinto de si próprio e da sociedade onde se encontra frequentemente encerrado. Unicidade porque será a Unidade de Vida o fim último de toda a aprendizagem humana, no sentido de que Unicidade significa conferir ao homem uma visão global da Vida, olhando o outro e os outros enquanto sujeitos, enquanto pertencentes legitimamente ao mesmo Todo, do qual ele próprio faz parte integrante.
Todo o processo vivencial de experimentação em relação, permitirá, em última análise, ao homem, evoluir e assumir a sua espiritualidade mais autêntica, ocasionando simultaneamente a sua auto-expressão. Caso contrário esta permanecerá “enegrecida” pelo medo, pela limitação e pelo condicionamento, agentes-travão da experiência, da vivência e causadores de conflito.
No quadro social que conhecemos e em que estamos mais ou menos inseridos, a Escola encontra-se divorciada da Vida, funcionando aquela instituição tão só como agente de domínio e repressão, permitindo e viabilizando toda a reprodução da ideologia dominante, limitadora e castradora das vivências e do autoconhecimento do indivíduo.
A Escola deveria ser um espaço de disponibilidade. Só que esta disponibilidade de relação deveria conferir ao educador a humildade suficiente e necessária para, também ele, aprender, para melhor poder ensinar.
A Escola, a Educação e a Família tradicionais assentam no pressuposto de que existem sujeitos – detentores da palavra, do saber – e “objectos” ou “meio-sujeitos” que pretendem (possuem esse direito) ter o direito à palavra e ao saber, encontrando-se à partida desprovidos de ambos.
No momento actual o “saber” cristalizou, a palavra já não é detentora de criação, a relação sujeito-objecto estabelecida substituiu a relação entre sujeitos, a vivência estagnou, a experiência rotinizou-se, a Escola e a Sociedade encontram-se em ruptura – afinal as premissas onde os esquemas tradicionais se baseavam estavam erradas!...
É neste quadro social que a Integração e o holismo (ou perspectiva holística) aparecem. Fora do Tempo, introduzindo novas formas de relação humana – apresentando o Homem Novo e um Novo Humanismo como alternativa – onde a totalidade e a unicidade da Vida são fundamentais. O Homem é livre para Ser e daí advém a enorme responsabilidade do autoconhecimento.
Afinal o indivíduo só existe e só se realiza, enquanto ser humano, em relação, relação essa que, para ser realmente libertadora e transformante, terá que se construir conscientemente pelos próprios sujeitos intervenientes e autores da comunicação.
Afinal, “O problema do mundo é fundamentalmente o da compreensão nas relações humanas. Os homens têm de descobrir e compreender a sua unidade fundamental”.


Rui Arimateia / "Textos Teosóficos III"
Évora / Ramo "Boa-Vontade" da Sociedade Teosófica de Portugal

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