sábado, 4 de abril de 2009

ÉVORA

Évora, repertório inesgotável dos nossos melhores poemas de granito e mármore. Diz-nos Teixeira de Pascoaes, que se sente Évora como a Catedral do Silêncio, cheia de misteriosa comoção, a cidade mais bela para os olhos, que se extasiam nos passados longínquos e ao mesmo tempo sempre presentes. Se há alguma Cidade que nos remete continuamente para o Mito do Eterno Presente, onde o sagrado e o profano se amalgam num equilíbrio estético e telúrico, uma dessas Cidades será certamente Évora.
Aqui a História está viva. E para compreendermos verdadeiramente a Cidade e a sua História, de que nós fazemos parte, olhemos Évora através de diferentes enfoques, de diferentes abordagens, quiçá distintas, mas muito complementares.
Uma dessas abordagens é a poética. Só a poesia entra em esferas inatingíveis para os estados normais e normalizados de vigília (ou adormecimento?). Só a poesia é detentora de uma linguagem que permite uma comunicação com o Todo e com o Uno, e Évora é essa totalidade que nos envolve, que nos penetra nos nossos poros, que nos alimenta como um Mãe - como a Tellus Mater...
Outra abordagem possível será a analógica. Talvez porque só analogicamente, só pesando no nosso mais íntimo Ser, realidades diferentes nós possamos ter consciência de todo o processo histórico, mítico e humano da Cidade através dos séculos. Tal como nós, também Évora vive, respira, se alimenta e precisa de Sol e Ar e Água e Luz...
Uma outra abordagem será a imaginária. A imaginação criadora realiza milagres, pequeninos milagres (haverá outros?) tais como: o desabrochar do botão de uma rosa... o sorrir de uma criança que se debruça e nos espreita... a água no profundo poço que nos devolve a nossa imagem... a sombra e as contra-sombras num claustro esquecido... um grito... uma palavra ... a Vida e o seu Mistério...
Agarremos então nestas (e porque não noutras que possamos inventar?) três ferramentas da observação e partamos em demanda da Cidade. Veremos que talvez se entreabra a porta do coração, do nosso coração, para a sentir, para a olhar, para a ver...
É uma Aventura re-descobrir Évora sempre que por ela, pelas suas ruas, praças, largos, recantos, fontes, pátios, passeios, jardins, enfim um nunca mais acabar de sítios com ambiências peculiares e que nos sussurram ao ouvido interior e nos convidam para uma Peregrinação...
R.A.
Évora, Fevereiro, 1995.

1 comentário:

Isabel José António disse...

"Évora, repertório inesgotável dos nossos melhores poemas de granito e mármore" - maravilhosa e verdadeira imagem!

Parabéns, parabéns por este blogue!!!!

Isabel