tag:blogger.com,1999:blog-76786149572611429032024-03-14T09:05:34.841+00:00EvoraOcultaEspaço de partilha e encontro sobre o que importa mas não se vê, não se sabe, não se diz de Évora; sobre as suas Histórias, sobre os seus cidadãos, sobre as suas Demandas ao longo de milénios...tendo como objectivo atingir a Pax Profunda!...Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.comBlogger279125tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-39846888537115120742018-09-10T08:03:00.002+01:002018-09-10T09:30:57.799+01:00A GEOGRAFIA POSSÍVEL DO ARCAICO RITUAL DO BOIZINHO DE SÃO MARCOS <br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt;">A geografia possível do antigo ritual da
entrada do Boizinho de São Marcos nas igrejas e nas ermidas do Alentejo no dia
da sua devoção – 25 de Abril<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Rui Arimateia</b><a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10pt;"><span style="color: blue;">[1]</span></span></b></span><!--[endif]--></span></span></b></span></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt;">Identidade
e Tradição<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 18pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i></b><o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A Identidade
Cultural de um povo manifesta-se e pode compreender-se através das suas
tradições mais enraizadas, mais profundas. Assim, para entendermos o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mistério Religioso</i> mais profundo das
nossas antigas tradições culturais, vindas muitas vezes dos alvores da
civilização humana, só o poderemos compreender minimamente se estivermos
munidos de três ferramentas metodológicas muito especiais de abordagem e de
interpretação simbólicas, <span style="mso-fareast-font-family: Calibri;">para a
desocultação dos significados mais profundos do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Espírito Religioso</i> de que se encontra imbuído. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri;">As três ferramentas, são:</span><o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri;">1.ª- A Poesia – pois esta permite-nos
falar a língua dos Deuses;<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri;">2.ª- A Imaginação Criadora –
permite-nos ouvir e entender a voz dos Deuses;<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri;">3.ª- A Analogia – permite-nos
compreender a intenção mais profunda nas diversas manifestações dos Deuses. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os ritos e os
mitos são transmitidos entre os homens através de símbolos, de gestos e de
palavras; são autênticas mensagens vivenciais que formam a tradição, a
identidade, o sentimento colectivo, o legado da família, o património, etc. Contudo,
estão em risco de já não se lhes compreender o sentido mais profundo… o
significado mais íntimo, mais essencial, tornando-se necessariamente a
dramatização manifesta menos sentida e mais superficial.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Uma pergunta
impõe-se – o que é a Tradição?<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Procurar saber
o que realmente significa a palavra tradição não será parecido com o gesto de
descascar uma cebola à procura da cebola?<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
As realidades
dos termos – Tradição, Mito, Identidade, Símbolo – são, nos nossos dias,
conceptualmente muito semelhantes.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O que mais me
satisfaz para explicar o seu significado mais operacional e me leva a melhor
entender a essência dessas palavras é o facto de todas elas funcionarem como que
uma espécie de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">TRANSPORTADORA</i>! Uma
vez que, ao longo dos tempos e dos espaços, transportam consigo, na sua
essência, EXPERIÊNCIAS, MENSAGENS e SENTIMENTOS, mais ou menos crípticos, mas
passíveis de serem entendidos e transmitidos pelas diferentes gerações, ao
longo de séculos e séculos de relações comunitárias. Uma vez que sem comunidade
não existe transmissão…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
No fundo, a
Tradição é o passado tornado vivo no nosso presente que construímos aqui e
agora, conforme nos ensina magistralmente o Prof Javier Marcos Arévalo num dos
seus trabalhos de reflexão sobre estas matérias da Tradição, do Património e da
Identidade: <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
“A tradição
seria algo como que o resultado de um processo evolutivo inacabado com dois
pólos dialecticamente vinculados: a continuidade recriada e a mudança. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A ideia de tradição remete para o passado,
mas também para um presente vivo</i>. Aquilo que do passado permanece no
presente isso é a tradição. A tradição seria, então, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">permanência do passado vivo no presente</i>.” [Arévalo, 2004]<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt;">Os
Povos e o Território<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Inúmeros e
diversificados, com as suas idiossincrasias, foram os povos que habitaram o
território que hoje constitui Portugal, e particularmente o território
alentejano, apresentando cada qual as suas especificidades culturais e
religiosas, os seus costumes e mentalidades próprios. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Desde os
tempos pré-históricos que as populações autóctones do Alentejo, foram
continuamente contactadas e influenciadas por migrações de incontáveis tribos
do Centro e do Norte da Europa e também Norte de África. Enquadradas
civilizacionalmente por Romanos, por Visigodos, por Judeus, por Muçulmanos e por
Cristãos. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Todos estes
povos e civilizações teriam, em última análise, um anseio comum – o de
sobreviverem e o de legarem aos seus descendentes modos de vida menos austeros
e menos adversos do que aqueles que eles teriam suportado ao longo das suas peregrinações
e estadias pelos diferentes territórios atravessados e habitados.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
Afirma José
Leite de Vasconcelos no seu opúsculo denominado «<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sur les Religions de la Lusitanie</i>» [Vasconcelos,1938] que:<o:p></o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p> </o:p><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Ao paganismo lusitano-romano sucedeu o
Cristianismo; (…).<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
Igreja, impotente para extinguir completamente o paganismo, santificou
numerosas crenças; (…). Os simpáticos deuses tópicos, tão queridos do povo
simples, transformaram-se em “santos patronos”, a quem os devotos não deixaram
de render o antigo culto, embora sob uma outra forma; (…).<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Herdeira de inúmeros sistemas religiosos tão
diferentes, a nossa religião popular é propriamente uma amálgama; descobre-se
nela ainda elementos naturistas, animistas e politeístas.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">As ideias, e sobretudo as ideias religiosas,
raramente se extinguem: uma vez adquiridas pela alma humana, podem experimentar
mil mudanças, sofrer e confranger-se, mas resistem levantando-se sempre contra
o inimigo que as ataca.”<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Nos primórdios
do Cristianismo a maioria das comunidades, principalmente as que viviam fora do
termo das grandes cidades, nos campos e nas aldeias, subsistiam através da
prática da agricultura e da criação de gado. Consequentemente foram por elas
reinventadas, renomeadas e reutilizadas ao longo dos séculos, diversas Entidades
Divinas Protectoras (os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">deuses tópicos</i>,
segundo José Leite de Vasconcelos), substituídas, no catolicismo popular, pelos
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Santos Oragos</i> que, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">responsáveis</i> pela produtividade e fertilidade
das terras e dos animais, beneficiavam, em última análise, as populações que
lhes erigiam templos e altares, celebrando, ao longo do ano, festas e romarias
e oferecendo-lhes <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ex-votos</i> e orações…
numa corrente infindável de ofertas e de promessas… em troco de favores de
saúde e longevidade para pessoas, animais e plantas…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O Papa
Gregório I, no século VII, reconhecendo a maneira de sentir das populações,
nomeadamente das populações rurais e aldeãs, instruiu o clero no sentido de, se
se encontrasse entre aquelas populações simples, crenças pagãs profundamente
enraizadas, as quais não pudessem ser eliminadas facilmente, fossem
transformadas em práticas cristãs:<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“(…) e como eles têm um costume que consiste
em sacrificar muitos bois ao Diabo, substituam-no por qualquer outra
solenidade, como um dia de Consagração ou os Festivais dos santos mártires…
nessas ocasiões podem construir abrigos de ramos para si próprios à volta das
igrejas que dantes foram templos, e celebrar a solenidade com festividades
devotas. Não devem sacrificar mais animais ao Diabo, mas podem matá-los para
comer e em louvor de Deus, e agradecer ao que concede todas as dádivas a
abundância de que gozam.”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>[Bancroft,
1991]<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
No caso das
Festas e Romarias dedicadas a São Marcos, foi criada, pelo espírito humano,
toda uma dramatização ritual, podendo nós descobrir nela os resquícios das
grandes Mitologias do passado pagão, tornadas mais persistentes e duradoiras enquanto
os homens permanecessem com a sede do Sagrado e com o grande desejo de viverem
e de sobreviverem, por mais vicissitudes que eventualmente pudessem ter sofrido,
ao longo de um punhado de milénios de evolução, na construção de civilizações e
culturas com as mais diversificadas tonalidades e colorações.
[Arimateia,1992,1993]<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt;">A
distribuição geográfica da Festa de São Marcos no território do Alentejo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
No território
português, a Festa do Touro de São Marcos concentra-se preferencialmente no
nordeste alentejano, junto à raia <i style="mso-bidi-font-style: normal;">extremenha</i>
espanhola. Uma Festa quase clandestina… proibida pelas Constituições e
Visitações eclesiásticas mas, apesar de tudo, realizada em diversos lugares do
Alentejo… Assim como eram proibidas as festas com touros nos adros das igrejas…
Costume muito comum por todo o Alentejo. <o:p></o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="mso-no-proof: yes;"></span> </div>
<div class="MsoListParagraph" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-add-space: auto; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Passo a referir os locais
onde, no Alentejo, se conhece notícia da existência do culto a São Marcos: <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Montalvão,
Póvoa e Meadas, Nisa, Amieira, Tolosa, Santo António das Areias, Gáfete, Aldeia
da Mata, Portalegre, Alter do Chão, Alter Pedroso, Chancelaria, Seda, Avis,
Elvas, Pardais, Evoramonte, Évora, S. Marcos da Abóbada, Serpa, Vila Nova de S.
Bento, Alvalade, Sines, São Marcos da Ataboeira.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em algumas
localidades não há senão pequenas referências num ou outro autor clássico da
Etnografia, sendo necessárias pesquisas locais mais aprofundadas.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p> </o:p><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">No Alandroal não foi encontrada qualquer referência
relacionada com o culto de São Marcos, contudo, no texto de uma Visitação à
Igreja de Santa Maria do Alandroal, datada de 22 de Julho de 1534, apareceu uma
proibição no sentido de não se fazerem corridas de touros no adro da igreja sob
pena de excomunhão, uma vez que a população subia para os telhados da igreja,
provocava-lhe danos e fazia muito barulho, o que não se coadunava com o serviço
de Deus e da Igreja. [Proemça, 1534]<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p>Muito
importante foi, e ainda é, a Festa de São Marcos em Santo António das Areias,
no concelho de Marvão. O ritual da entrada do boizinho de São Marcos na Igreja
Matriz, ainda se fazia com regularidade nos anos de 1920. [Arimateia/Oliveira,
2016]<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O milagre da
mansidão do touro de São Marcos e o rito da entrada do touro ou bezerro na
igreja de Santo António das Areias e de outras igrejas e ermidas do Bispado de
Portalegre aconteceu regularmente até 1924. Interrompendo-se pela intervenção coerciva
do Bispo de Portalegre, D. Domingos Maria Fructuoso.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Apesar de
tudo, no dia 25 de Abril de 1997, nas Festas de São Marcos em Santo António das
Areias, aconteceu a reactualização do ritual da entrada do boizinho na Igreja
Matriz. A devoção popular a São Marcos continuava viva na memória e nos
sentimentos mais profundos da população das Areias.<o:p></o:p></div>
<span style="font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Terra de
criadores de gado, onde a transumância acontecia por rotas milenares, região
farta de águas e cruzamento de antigos caminhos viários a partir nomeadamente
do século V da nossa Era. Condições mais do que suficientes para terem dado
origem a tradições religiosas arcaicas relacionadas com a Religião Popular
criada, vivida e interiorizada pelas populações do território das Areias. Com a
sacralização do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Espírito do Lugar</i> –
local onde acontece o encontro, a dramatização ritual, a festa, a troca, a
partilha e a consequente reprodução da Vida – a Romaria, a Festa e o culto a
São Marcos foi acontecendo e crescendo mantendo-se activa ao longo dos séculos…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A transição do
paganismo para o cristianismo, reorganizando os cultos ancestrais… foi muito
bem apresentada, como atrás citámos, por José Leite de Vasconcelos: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ao paganismo lusitano-romano sucedeu o
Cristianismo (…). A Igreja, impotente para extinguir completamente o paganismo,
santificou numerosas crenças. </i>[Vasconcelos,1938].<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A principal
característica do rito do tourinho de São Marcos, é a transformação do
temperamento bravio do animal em manso, a partir do momento em que ele
incorpora as invocações do sacerdote.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Era através da
voz, e empunhando firmemente o hissope, que o sacerdote lhe ordenava:<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– Entra Marcos! Entra Marcos!<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O bezerro é
intimado a parar à porta do templo e de seguida a dirigir-se pacificamente para
o seu interior.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Era este o
milagre de São Marcos: fazer com que um bezerro bravo, convidado a entrar no
templo pela água benta e pelo nome do Santo, se acalmasse e que, apesar da
multidão, febril de excitação e altitroante o rodeasse e o comprimisse, este
obedecia prontamente às palavras e aos gestos rituais do sacerdote.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Transformava-se
num boi bento, que não era sacrificado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in
situ</i> mas que no fundo retinha e manifestava, durante um curto período de
tempo, propriedades de cura… pelo menos para as crianças mais bravas. Em certos
locais (em Gáfete), o boizinho, após entrar na ermida, era benzido com água
benta e o sacerdote batia-lhe na cabeça com uma cruz de madeira. Mais tarde a
mesma cruz era usada para acalmar os meninos também com uma batida nas suas
cabeças…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
É enorme a diversidade
cultural da Festa de São Marcos, nomeadamente em Portugal (Alentejo) e em
Espanha (Extremadura e Andaluzia). Contudo, encontramos a devoção a São Marcos,
com outras manifestações formais e performativas, por toda a Península Ibérica,
Açores, Canárias, por toda a América Latina de língua castelhana e ainda no
Brasil.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Como
curiosidade refiramos que, particularmente na Estremadura espanhola, este culto
a São Marcos, com a entrada do touro na igreja, teve um grande desenvolvimento,
com a notícia de muitos prodígios e milagres. Esta Festa foi proibida em
Espanha, por real provisão, a 6 de Abril de 1753. Mas foi tão somente em meados
do Século XIX que o costume do touro de São Marcos, foi suspenso
definitivamente. Anteriormente foi muito festejado nas localidades de Brozas,
Casas del Monte, Casas de Don Gómez, Pozuelo de Zarzon, Mirabel, Talayuela,
Trujillo e muito possivelmente naquelas povoações de Badajoz pertencentes ao
Priorado de S. Marcos.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ainda hoje se
organizam as festas, com romaria e procissão na pequena ermida de S. Marcos de Seda/Chança,
concelho de Alter do Chão, onde ainda nos inícios do século XX se celebrava
intensamente o culto do boizinho de S. Marcos. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Por informação
de Susete Antunes, residente em Chancelaria (Concelho de Alter do Chão), é
referido que no dia 25 de Abril, se organizava todos os anos uma tradicional
festa e romaria no local da ermida de S. Marcos de Seda ou de Chança. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Antigamente
cumpriam-se promessas ao Santo, em que se ofereciam, para leilão: vitelos,
borregos, galinhas, bolos, folares, dinheiro, bordados, etc. A romaria começava
com a celebração da Missa às 12:00, de seguida todos merendavam e conviviam no
campo ao redor da ermida. Pelas 15:00 saía a procissão e contornava o cruzeiro,
voltando de novo para a ermida onde as oferendas eram benzidas e depois
leiloadas. Todos os anos era oferecido um vitelo que entrava na ermida, onde
era benzido junto ao altar, e entregue depois aos caseiros, (que viviam numa
pequena casa junto à ermida, hoje em ruínas) que o engordavam até ao ano
seguinte, sendo depois leiloado e vendido, revertendo esse dinheiro para a
manutenção da ermida. Estes caseiros viviam duma pequena horta, de algum gado e
ainda de esmolas. Deslocavam-se, habitualmente, uma vez por semana, às aldeias
próximas com uma pequena imagem de S. Marcos (que hoje se encontra recolhida na
sacristia na Igreja Matriz de Chança) para dá-la a beijar e pedir esmola para o
seu sustento. Esta imagem também era tradicionalmente requisitada pelos
criadores de gado quando este adoecia e necessitava do auxílio sobrenatural do
Santo Protector! [Antunes, 2011]<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Corre um ditado
por terras de Alter que diz: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“És como o
vitelinho do S. Marcos, só fazes o que queres!”</i>. Como todos consideravam o
boi benzido, como protegido, deixavam-no comer em todas as pastagens ao redor,
e, ele fazia o que queria sem ninguém o incomodar.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p><o:p> </o:p>Pesquisando
sobre a festa de São Marcos encontrei, ainda, uma descrição deliciosa sobre
Alter do Chão e do seu costume ancestral num livro denominado “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os Miseráveis do Alentejo</i>” [Cruz, 1863]
onde se pode ler uma descrição do que teria sido a festa de São Marcos em Alter
do Chão, no dia 25 de Abril do ano de 1838: <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p> </o:p><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Já foram a Alter do Chão, e viram, ao
passar, abandonando Fronteira, a fonte dos bonecos, próxima áquella
antiquissima povoação?<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Admiraram por acaso o seu lago, ou dormiram
na estalagem que fica no rocio mesmo ante a ermidinha de S. Marcos?<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Estamos no dia vinte e cinco de Abril do ano
de 1838.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O povo, o senhor povo, a patulêa, o pé
fresco, ainda n’esse tempo assim não eram denominados; haviam somente dois
partidos: setembristas e chamorros!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A concorrência era extraordinária. Grupos e
grupos de povo paravam cheios d’enthusiasmo ao pé da ermida do santo. Do lado
de Alter Poderoso – Altieri, dos já corrompidos vocábulos latinos – descem pela
antiga via dos romanos, que de Merida atravessava as povoações extinctas das
raças primitivas indígenas, e das invasoras da Lusitânia. Conduzindo o
boisinho, que tinha de fazer n’esse dia o milagre de beijar o evangelho, feito
pelo mesmo santo, nos cornos de um toiro; e a seu turno de receber os ósculos
de milhares de pastores vindos de longas terras, e mesmo de muitos cidadãos da
localidade.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">E até da antiga Amae Júlia era numerosíssimo
o concurso.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Porem, todos os povos, desde a vetustíssima
Scalabis Castrum procuravam a Ponte de Sôr, e Villa Formosa, atravessando suas
bellissimas pontes – tambem da via latina – onde ainda actualmente se descobrem
os vestígios de minas exploradas – parando só em Altieri – Alter do Chão – para
admirarem o boisinho.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lá toca á festa.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">As senhoras de Alter do Chão, com suas
riquíssimas saias pretas, talhadas com primor e gesto, coucas feitas de papelão
– similhante aos chapéus, que se usaram em 1836, cobertas de lucto eterno; com
suas mantilhas curtas da mesma cor, e seu véo também negro; voavam para a
ermidinha. As mulheres do povo, quasi todas lindíssimas, e de formas
inimitáveis, trajavam do mesmo modo, e assim, como por descuido, desejavam, que
os seus amores as vissem.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">É hoje pois dia de S. Marcos – do senhor
San’Marcos, honra que lhe concedem n’este dia – pois não ficaria contente se
lhe não dessem uma senhoria. – Quase iamos rimando.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Uma musica tocava – se aquilo era tocar, e
esperava a entrada do boisinho, no meio da numerosíssima chusma de
espectadores!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os foguetes, que restrugiam desde a vespora
á noite, e que extasiaram os admiradores com seu estridolo estourar, ainda
n’este momento eram as delicias da mor parte do auditório.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Que lindissima loucura!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Só um espectador manêta ria internamente de
tanto brilho!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Era sceptico: morreu sem o ser em 1862, dia
de S. Bartholomeu – dia em que o diabo anda á sôlta!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vamos ao que importa, e os leitores e
leitoras saberão cruelissimas atrocidades que este phenomeno commetteu.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">«Entra Marcos, entra, em louvor do senhor S.
Marcos!»<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">E o povo, com varinhas, tocava o boisinho
milagreiro, e acompanhava cada dóse com as palavras acima ditas.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O maneta ria constantemente.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O povo desesperado bramia surdamente, e de
uns para outros, pela bocca pequena, diziam:<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">«Quebramos a este faz formas, faztudo, o
outro braço?!...»<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A prudencia de alguns moderou os mais
exaltados, pois não prestaria o milagre se houvesse desordens.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O santo effectivamente foi bastante
festejado, praticando o boisinho bruscamente o milagre, e isso mesmo devido aos
impulsos do povo, e seus devotos.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">As senhoras da coucas sahiram do
templosinho.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O povo resmungou todo o dia contra o maneta,
por mangar esturdiamente dos seus crédulos costumes.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Houve á tarde os invariáveis touros –
vaquinhas mansas da localidade – as quaes foram brutamente espicaçadas,
concedendo a competente auctoridade, licença com a innocentissima intenção de
se respeitarem os usos, e de se arranjarem alguns vinténs a favor dos
estabelecimentos de caridade!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gostâmos d’isto.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Falleceram dois insignes toireiros no
hospital – ‘entre aquelles que beberam mais vinho.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A culpa não foi d’elles. É dos que apregoam
civilização e consentem que se pratiquem d’estas e de outras scenas barbaras.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">No entanto que, os filhos dos lavradores,
fazem, pelas maxima parte, galla em não saberem ler nem escrever!<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Não moralisâmos, porque estas idéas que aqui
estampâmos laboram em muitos cérebros!...”<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt;">As
proibições eclesiásticas<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
As proibições
Eclesiásticas em Espanha (Extremadura e Andaluzia), embora tivessem existência
anterior, foram somente eficazes a partir de meados do século XIX e, no
Alentejo, a partir de 1924, mais concretamente a partir da Diocese de
Portalegre, por imposição episcopal. Embora o Doutor Manuel Valle de Moura já
se tivesse pronunciado a partir da Inquisição de Évora, no ano de 1620, com a
publicação do livro “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Incantationibus Seu
Ensalmis</i>”. [Arimateia, 1992].<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Este rito
religioso foi de facto proibido por todo o território da Diocese de Portalegre
em 1924, através de um aviso efectuado a todos os párocos das freguesias, por <a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK2"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK1"><span style="mso-bookmark: OLE_LINK2;">D.
Domingos Maria Fructuoso</span></a>, com a finalidade de “suprimir abusos
condenáveis que com o correr do tempo se teriam introduzido na celebração” da
festa de São Marcos. O caso de Gáfete, foi paradigmático, demonstrando uma
grande tensão e confronto entre as populações locais e a hierarquia religiosa.
[Arimateia, 1992]<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Enquadrou
juridicamente as proibições anteriores a publicação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Breve</i> do Papa Clemente VIII a 10 de Março de 1598, dirigido a uma
Diocese de Bispo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Civitatense</i> (de
Ciudad Rodrigo), respondendo a solicitação deste último prelado. O Papa
condenava a prática do Rito de São Marcos, por considerá-la: uma prática
Supersticiosa, uma prática Escandalosa e uma prática Indecente. [Feijóo, 1755]<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A evolução das
mentalidades e a Inquisição em Espanha (embora defensora do milagre de São
Marcos ainda durante o século XVI) bem como as polémicas que se fizeram sentir
ao longo dos séculos XVII e XVIII, levaram à irradicação definitiva de terras
de Espanha da Festa e Culto de São Marcos, por prática supersticiosa e contra
os Mandamentos da Santa Madre Igreja. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os espanhóis
davam o nome de aldeia de “São Marcos” à povoação de Santo António das Areias,
devido à fama das festas ao Santo que provocava uma enorme ocorrência dos
vizinhos da raia <i style="mso-bidi-font-style: normal;">extremenha</i>, para
presenciarem a entrada do boizinho na igreja e para assistirem às touradas e
arraial.<o:p></o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt;">O
Santo <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>–<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>origens, atributos e virtudes<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Sobre o Apóstolo São Marcos, podemos ler na obra
“Vidas e Paixões dos Apóstolos” [Brihuega, 1989], o seguinte:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">“Sam
Marcos, evangelista, ante que se convertesse, foi sacerdote dos judeus.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Mais
converteu-o, depois, Sam Pedro, e bautizou-o, e foi seu discipolo, bem como Sam
Lucas, de Sam Paulo.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">E, ao
tempo que Sam Pedro foi a Roma, foi Sam Marcos com el, ouvindo sempre a sua
preegaçom, e parando muito mentes em nas cousas que preegava, e contava / muito
do feito de Nosso Senhor Jesu Cristo.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">E el
reteve-as mui bem em seu coraçom. E, porque Sam Marcos screvera já os seus
Evangelhos em Terra de Judea em na lingoagem dos judeus, rogaram-lhe todolos
cristãos qye eram em Roma que el screvesse um Evangelho de todo aquelo que
ouvira dizer a Sam Pedro e do que aprendera del. E el screveo seu Evangelho mui
pequeno e mui breve. E, dês que o houve scripto, mostrarom-no a Sam Pedro, e el
leu-o e deu-lhe sua outoridade e seu outorgamento, que devia a seer leudo bem
come aquela scritura em que nom havia senom verdade.”<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Em relação ao “nosso” São Marcos, o do boizinho, em
termos de referências bíblicas e eruditas ao boi, estas são inexistentes a não
ser uma muito rápida referência, na obra atrás citada de Brihuela. Assim, no
capítulo 263.º, às páginas 362 e 363, “De como Sam Marcos foi arrastado e
açoutado, e apareceu-lhe Nosso Senhor e morreu”, poderemos ler:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">“(…).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">E enton
veo un dia de Pascoa, sete dias por andar d’Abril, e em aquel dia faziam eles
festa a un dos seus ídolos. E todos aqueles que o buscavam eram ali ajuntados,
e andarom-no tanto buscando que o acharom u stava cantando Missa.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">E
deitarom-lhe bem ali un baraço na garganta, e levarom-no, fazendo-lhe muito
mal. E tragiam-no pela cidade, e doestando-o muito, e diziam:<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">-
Levemos este boi ao / lugar u matam os bois!<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">(…).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">E a
manhãa sacaram-no do carcer e deitarom-lhe outra vergada o baraço na garganta,
e fezeram-no restrar, e, tragendo-o assi rastrando de ca e de la, iam bradando
empos el, e diziam:<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">-
“Trahite babulum ad loca buculi”, que quer dizer: “Levade esse boi ao lugar u
matam os bois”. (…).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Nesta referência parece-me interessante sublinhar o
facto do martírio de São Marcos ocorrer em Abril, durante a Páscoa e o facto de
certo modo haver a coincidência entre a morte do santo e o terem levado para o
“lugar u matam os bois!”, lugar de sacrifício onde o taurobólio acontecia…<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Existem ainda outras referências, digamos assim,
eruditas, referindo o facto de São Marcos ter tido igualmente a autoria de
“milagres”. Segundo reza a obra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Acta
Sanctorum</i>, citada por Pedro A. D’Azevedo [1989] e que passo a citar o
resumo por este apresentado:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">“(…).
Causava admiração aos habitantes da Apúlia, na Itália meridional, não chover
havia cinco annos no paiz, até que lhes foi revelado por certos religiosos, que
isso era motivado por não observarem a festa e São Marcos. Reuniram-se então
todos na Igreja por ocasião da mais próxima festa do santo onde “impetraram”
com orações os benefícios de São Marcos: e logo choveu com mais abundância do
que havia esperança, cessando a esterilidade da terra.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">(…).” <o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">As origens nebulosas das tradições de São Marcos
foram influenciadas pela arcaica religião Pagã (de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pagus</i>, relativo à aldeia, ao campo).<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Marte
Silvanus</span></i><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> foi deus romano da agricultura.
Posteriormente, São Marcos foi, por sua vez, o protector das colheitas, das
vinhas e das madeiras.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Será o rito do
Boizinho de São Marcos, originário dos antigos cultos romanos de Marte ou de
Diana, ou de quaisquer outros Deuses de outros Panteões? Este culto teve, e tem
ainda nas suas formas mais modernas, nas suas reminiscências, como finalidade
última a constituição e a construção da Romaria, onde desde sempre o Sagrado e
o Profano se juntavam e confundiam, e onde aquela se constituía como forte
factor de coesão social, garante, ao longo dos tempos, da sobrevivência física,
psíquica e espiritual do homem e da comunidade…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">A Festa de São
Marcos, a 25 de Abril, coincide com a antiga Festa Romana <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Rubigalia</i>, que era celebrada para pedir a protecção contra o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">rubigus</i> – ferrugem – do trigo. Nesse
mesmo dia, no âmbito do ritual dos Mistérios de Isis, procedentes do Egipto e
fortemente implantados tanto na Grécia como em Roma – através da Alexandria,
local onde segundo os hagiógrafos cristãos se terá dado o martírio de São
Marcos – se celebrava a festa mistérica de Serapis. Era esta uma divindade sem
mito, puramente salvífica (de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sôter</i>,
salvador, um cognome de Júpiter), que vinha unir-se ao mito de Isis e Osíris,
tomando a personalidade do Deus despedaçado e as qualidades solares do boi Ápis
e note-se que Serapis, enquanto nome próprio, é uma união Osíris-Ápis. Serapis
era a divindade propiciatória da fertilidade da Terra – a deusa Mãe – e,
através dos ciclos agrários, da morte e da ressurreição do ser humano. Há que
fazer notar que os cultos Isíacos, como praticamente a totalidade dos ritos
mistéricos, tiveram na Hispânia uma enorme difusão. E cabe aqui recordar que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">serapeu</i> mais importante de entre os que
se descobriram na Península é o de Panóias, referido pelo Dr. José Leite de
Vasconcelos na sua obra “Religiões da Lusitânia”, e não longe dos lugares <i style="mso-bidi-font-style: normal;">extremenhos</i> onde Feijóo e o Padre Coria
confirmavam a presença activa do rito festivo do touro de São Marcos em obra
publicada em pleno Século XVIII. Tal como pode, pois, deduzir-se de todos os
dados dispersos surgidos nas festas que se celebram em torno de São Marcos, o
Evangelista teria passado a substituir, na data precisa, uma divindade serápica
que teria sido provavelmente venerada nos lugares onde posteriormente se
renderia culto ao santo. [Feijóo, 1755]<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Várias
virtudes possuía o Santo e, além de padroeiro dos gados (das reses), pois tinha
como missão a de livrar os gados dos lobos e de moléstias…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em algumas
localidades, no dia da Festa, enfeitava-se o altar de São Marcos com espadanas
que, depois de benzidas pelo pároco, eram dadas aos lavradores para que as
pendurassem nas árvores ou as espetassem no chão das searas ou das hortas a fim
de que as plantas prosperassem.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Hoje ainda,
sob a invocação de São Marcos, São Mamede, São Luís, Santo António ou outro
santo, os camponeses e lavradores levam o seu gado junto às capelas
respectivas, fazendo-o dar certo número de voltas às mesmas, antes de serem
benzidos pelo sacerdote.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Outros atributos de São Marcos: protector dos
campos, das colheitas e do gado vacum. O apaziguador de pragas (lagostins); o
amansador de meninos bravos; o propiciador da chuva… <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">No Brasil, diz-nos Câmara Cascudo que não houve
culto de São Marcos (tal como o conhecemos em Portugal), mas a sua figura está
presente no devocionário supersticioso de orações fortes, dedicadas justamente
à doma de touros bravos. Contudo, na tradição popular brasileira, as orações ao
santo foram utilizadas não só apenas para amansar animais bravos mas também
para “laçar” pessoas desejadas como amantes (para amansar corações…).<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">O Touro, o Homem
e a Cultura ao longo das Civilizações<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">A importância cultural e civilizacional do
Touro/Boi, na sua relação com o Homem, impõe-se desde as mais recuadas manifestações
artísticas da Pré-História – em Lascaux, em Cuenca e no Vale do Côa… O Touro
sempre esteve ligado à própria sobrevivência física do homem…</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">A representação escultórica de um eventual antigo
culto do touro no III Milénio a.C. manifesta-se abundantemente na Arte Antiga
que chegou até aos nossos dias, no Egipto e em Creta…<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "calibri" , "sans-serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%;"></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">O boi Ápis no Egipto, antiga divindade agrária,
simbolizava a força vital da natureza e a sua força geradora; e as
representações de jogos com os Touros nas Civilizações pré-helénicas de Creta.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">A Civilização Greco-Romana deixou-nos um
extraordinário legado mitológico sobre o Touro. O rapto de Proserpina, por
Plutão, assim como a representação dos mitológicos trabalhos de Hércules (na
imagem vemos a luta do Herói capturando o touro de Creta,<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>o Sétimo trabalho de Hércules), são dos exemplos mais
representativos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Por outro lado, o Deus Mitra dos Romanos, através
da religião mitríaca, deixou vestígios por todo o território português,
nomeadamente no Alentejo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">O Mito de Teseu e Ariadne descreve-nos o herói
enfrentando e vencendo o Minotauro do Labirinto de Creta.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Simbólica e mistericamente, o Labirinto foi construído
de modo a chegarmos sempre ao seu Centro. A questão de encontrarmos ou não o
Minotauro no Caminho para o Centro e a questão de o dominarmos ou não durante a
nossa Demanda é outra conversa! A natureza do Minotauro confunde-se com a nossa
própria natureza e a escolha é única e exclusivamente nossa, e como na fábula:
teremos de decidir se alimentamos o touro/lobo mau ou o touro/lobo bom... para,
mais uma vez, conseguirmos sobreviver!...<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background: white; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Denominamos vulgarmente por
Presépio (palavra de origem latina que significa "local onde se recolhe o
gado") aquela representação lúdica da cena do nascimento do Menino Jesus,
com todo um enquadramento poético e bucólico. Nomeadamente descrevendo a presença
do Menino, entre dois animais (boi e burro) acompanhado de Sua Mãe e por José
e, perante eles, pastores, anjos e Reis (Magos) a adorá-Lo e a oferecer-Lhe
presentes.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background: white; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Diz-nos José Leite Vasconcelos: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Quando se lançam as sementes à terra, </i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">chega-se ao
focinho do boi a cesta que as contém, para este as bafejar, e a sementeira
produzir, porque o boi bafejou Cristo no presépio (</span></i><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">passim<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> no
Minho e Douro).” </i>[Vasconcelos, 1986]<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">O Milagre de Santa Maria narrado por Afonso X na
Cantiga n.º 144 – “<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="background: white;">Como Santa Maria guardou de morte un ome bõo, en
Prazença, dun touro que vera polo</span> <span style="background: white;">matar.”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></i><span style="background: white;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span>O costume do Touro Nupcial, na Idade
Média, resumia-se ao seguinte: o noivo tinha de tourear um touro junto à casa
da noiva colocando-lhe bandarilhas decoradas por esta e sacrificando-o. A
prenda da noiva, associada ao sangue do touro bravo, garantiria a fertilidade
do matrimónio…<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Representações pictóricas do touro na Arte Zen (Japão)
e em Picasso (Guernica). O touro na Astrologia – a Constelação de Touro.
Manifestações artísticas dos nossos tempos que reactualizam o significado
essencial do antigo animal mítico.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Nos trabalhos da lavoura: no arar os campos, no
carrego do cereal, por todo o Portugal foram utilizados bois. Na faina da pesca
de mar – a arte xávega tradicional com o carrego dos barcos para o mar… um sem
acabar de relações entre homem e boi/touro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">As <i style="mso-bidi-font-style: normal;">chegas</i>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">de bois</i> no Minho e em Trás-os-Montes.
A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">capeia arraiana</i> no Sabugal. As
touradas e as garraiadas como festas eminentemente populares por todo o país. A
festa, a terra, o sangue, a força, a fertilidade… tudo relacionado e atado
pelas arcaicas religiões tradicionais e que chegaram de modo mais ou menos
profano aos nossos tempos.</span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p> </o:p></b></div>
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span><br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Conclusão<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><o:p> </o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tempo longo
</i>do Rito/Mito do Touro [de São Marcos] ainda permanece inscrito nas memórias
e nos genes das populações das aldeias e das vilas por esse Alentejo fora… e
manifesta-se pela aceitação das práticas possíveis para as mentalidades dos
tempos de hoje…<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A problemática
da Religião Popular foi abordada de modo a permitir uma outra abordagem que
foque de um modo integrado essa Realidade nos seus diferentes mas
complementares factores constituintes: a Romaria, o Templo, o Mito, o
Sacerdote, o Crente, a Fé, a Unidade, o Deus, a Vida, os Santos, os Ritos, a
Tradição…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Realidade
multifacetada cujo fio condutor tem o poder de a dominar, de a compreender e de
a transformar, fio esse que é afinal o próprio Homem…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Afinal o que é
a Religião senão a “técnica” que o homem encontrou ou inventou para ultrapassar
a sua própria efemeridade e atingir a imortalidade?! Isto é, encontrar um
factor de coesão grupal que permita dar continuidade à própria espécie humana,
à sua memória, ao seu Ser, que no fundo se encontra ligado a tudo o que
constitui o Universo… <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em épocas
primevas o homem não se considerava em absoluto a medida de todas as coisas.
Sabia que a sua vida era enquadrada, assim como a das plantas e flores e
animais, por “estações”, por ritmos e pulsações, por ciclos de grandeza
cósmica, ontem conhecidos e respeitados, mas hoje já praticamente esquecidos ou
ignorados. A estes ritmos cósmicos ajustava ele, inteligentemente, a sua
actividade criadora e a sua vida em comunidade.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p> </o:p></div>
<o:p> </o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">*<o:p></o:p></b></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">*<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>*<o:p></o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p><o:p> </o:p><o:p> </o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 18pt;">BIBLIOGRAFIA<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
ANTUNES, Susete (2011). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">São Marcos na Chança</i></b>,<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i> “Mensageiro de Alter”, Alter do Chão,
Ano LVIII, Abril.<span style="font-size: 10pt;"> <o:p></o:p></span></div>
<o:p> </o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
ARÉVALO, Javier Marcos (2004). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">La
tradición, el património y la identidade</i></b>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i> “Revista de Estudios Extremeños”, 60 (3), págs. 925-955.<o:p></o:p></div>
<o:p> </o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
ARIMATEIA, Rui (1992). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
Festa de São Marcos e a Religiosidade Popular</i></b>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i> “Ibn Maruán”, Revista Cultural do Concelho de Marvão, N.º 2,
Dezembro, Ed. Câmara Municipal de Marvão, págs. 15-49.<o:p></o:p></div>
<o:p> </o:p><br />
ARIMATEIA, Rui / OLIVEIRA, Jorge
de (2016). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Festa de São Marcos em Santo António das Areias – História e
Tradições</i></b>, Ed. Junta de Freguesia de Santo António das Areias, Abril.<o:p></o:p><br />
<o:p> </o:p><br />
ARIMATEIA, Rui (1993). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Mito de São Marcos (Breve análise)</i></b>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i>
“Ibn Maruán”, Revista Cultural do Concelho de Marvão, N.º 3, Dezembro, Ed.
Câmara Municipal de Marvão, págs. 111-119.<o:p></o:p><br />
<o:p> </o:p><br />
AZEVEDO, Pedro d’ (1982). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
Festa de S. Marcos próximo de Serpa</i></b>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in </i>“A Tradição”, Vol. I, Ano 1, N.º8, Ed. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fac-simile</i>, 2.ª Edição, Câmara Municipal de Serpa (1.ª edição de
1899).<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i><br />
<o:p> </o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
BANCROFT, Anne (1991).<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">As
Origens do Sagrado</b></i>, Col. ‘Margens’, Editorial Estampa, Lisboa [cit. pág.
156].<o:p></o:p></div>
<o:p> </o:p><br />
BRIHUEGA, Bernardo de (1989). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vidas
e Paixões dos Apóstolos</i></b>, Vol. II, Col. “Textos Dispersos”, 1, Centro de
Linguística da Universidade de Lisboa, Instituto Nacional de Investigação
Científica.<o:p></o:p><br />
<o:p> </o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
CONCÍLIO PLENÁRIO PORTUGUÊS -
MCMXXVI (1931). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pastoral Colectiva / Decretos</i></b>, Ed. Portuguesa Oficial, Tip. Da
União Gráfica, Lisboa.<o:p></o:p></div>
<o:p> </o:p><br />
CRUZ, António Marciano da (1863).
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Os
Miseráveis do Alentejo</i></b>, Edictores – Bravo Corrêa e Mello, Typ. Pharol
do Alemtejo, Évora, 1863 [Cit. II Parte, Cap. 1, págs. 93 a 96].<o:p></o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">FEIJÒO, Don Fray Benedito Geronymo (1755). </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Teatro
Critico Universal o Discursos Vario sen todo genero de matérias, para desengano
de errores comunes</i></b>, Imprenta de Don Eugénio Bieco, Madrid, Año de
M.DCC.LV.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">PROEMÇA,
Luis Aluarez de (1534). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Vysytaçam da Igreja de Samta Maria do<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Alamdroal</i></b>, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Biblioteca Pública de Évora, Códice
CXXIII-I-I, Fólios 164-165 verso.</span><o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p>S/A (1643). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Acta Santorum</i></b>, Ed.
Bollandus, Antuérpia – Paris, 1643 e ss., 67 Vols.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p>VASCONCELOS, José Leite de
(1906). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ensaios Ethnograficos</i></b>, III, Lisboa.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p>VASCONCELOS, José Leite de (1982).
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Dia de S. Marcos</i></b>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i>
“Etnografia Portuguesa – Tentame de Sistematização”, Vol. VIII, Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, Lisboa.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p>VASCONCELOS, José Leite de
(1981). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Religiões da Lusitânia</i></b>, 3 Vols., Col. “Temas Portugueses”,
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa.<o:p></o:p></div>
<o:p> </o:p><br />
VASCONCELOS, José Leite de
(1938).<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Sur les Religions de la Lusitanie</b></i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i> “Opúsculos”, Vol. V,- Etnologia (Parte I), Imprensa Nacional de
Lisboa <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>[cit. págs.130-131].<o:p></o:p><br />
<o:p> </o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
VASCONCELOS, José Leite de
(1986).<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Tradições Populares de Portugal</b>, </i>2.ª Edição, Col. ‘Temas
Portugueses’, Ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa [cit. pág.212].<o:p></o:p></div>
<o:p> </o:p><br />
_____________________<o:p></o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Rui Arimateia </b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt;">– Centro de Recursos da Tradição Oral e do Património
Imaterial do Concelho de Évora, 17 de Março de 2017 [ </span></b><a href="https://www.blogger.com/null"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt;">rui.arimateia@gmail.com</span></b></a><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 10pt;"> ].</span></b><span style="mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="mso-element: footnote-list;">
<!--[if !supportFootnotes]-->Texto completo com as ilustrações publicado <em>in</em> <strong><em>CADERNOS DO ENDOVÉLICO</em></strong> - 3 (Da Arqueologia à Etno-Botânica e da Etnografia à Etno-Literatura), Edições Colibri/Centro de Estudos do Endovélico - Câmara Municipal do Alandroal, Lisboa, 2017.<br />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.blogger.com/editor/static_files/blank_quirks.html#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt;"><span style="color: blue;">[1]</span></span></span><!--[endif]--></span></span></a> <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt;">Centro de Recursos da Tradição Oral e do
Património Imaterial do Concelho de Évora<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-size: x-small;"> </span></o:p></div>
</div>
</div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-87508411259636505972018-09-10T07:51:00.001+01:002018-09-10T07:51:33.613+01:00A MORTE É A CURVA NA ESTRADARelembrando Fernando Pessoa:<br />
<br />
A morte é a curva na estrada.<br />
Morrer é só não ser visto.<br />
Se escuto eu te oiço a passada.<br />
Existir como eu existo.<br />
<br />
A terra é feita de céu.<br />
A mentira não tem ninho.<br />
Nunca ninguém se perdeu.<br />
Tudo é verdade e caminho.Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-34596858854057512452017-08-25T09:29:00.002+01:002017-08-25T09:39:44.813+01:00O PEREGRINO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvZCvg-YbrZu4aE3OhfQ92ddvDBKca1G-sAj9nAhvUB6AbmPF503fCfcxDICvfba27rtZP5QF9BfdQ0OdCukINFRFXh0DxxCT-xmZdzrUlex4GEGyZEubTjrtrnxPCSsFflKPvFDisKWi6/s1600/O+Peregrino.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="650" data-original-width="650" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvZCvg-YbrZu4aE3OhfQ92ddvDBKca1G-sAj9nAhvUB6AbmPF503fCfcxDICvfba27rtZP5QF9BfdQ0OdCukINFRFXh0DxxCT-xmZdzrUlex4GEGyZEubTjrtrnxPCSsFflKPvFDisKWi6/s320/O+Peregrino.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-30244466613139030912017-08-25T09:26:00.000+01:002017-08-25T09:26:33.880+01:00TRADIÇÃO E MODERNIDADE ENTRE A MEMÓRIA E A REVITALIZAÇÃO DOS CULTOS - APROXIMAÇÕES TEOSÓFICAS<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;">Tenhamos
consciência de que estamos inseridos numa sociedade que se caracteriza por um
conjunto de opções e de práticas baseadas em anti-valores humanos desconstrutivos,
privilegiando o consumo extremo, o endeusamento do capital, a busca alienada e
desenfreada do prazer pelo prazer e, finalmente, postulando uma total ausência
de compromisso individual ou colectivo perante o outro ou perante a Natureza,
acrescentando o fosso entre os poucos que tudo possuem e os demasiados que nada
detêm, nomeadamente em termos de acesso à Cultura, ao Desenvolvimento e ao
direito de se viver condignamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;">Daí a
importância da realização de reflexões como a que estamos conjuntamente a
realizar nesta edição de 2015 do Congresso “Por Terras do Endovélico” no
Alandroal em boa hora organizada pelo seu Município com a colaboração do Centro
de Estudos do Endovélico. Não esqueçamos de que até a ténue luz de uma vela
afasta a mais negra escuridão!...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Este meu trabalho, agora apresentado,
encontra-se ancorado em algumas premissas que continuamente me acompanham
nestas áreas de reflexão sobre Cultura e Religião e que passo a enumerar:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">1.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;">Tudo
está ligado a tudo... ou, tal como é expresso nas palavras inspiradas de Hermes
Trismegistos: O<i> que está embaixo é
como o que está em cima, e o que está em cima é igual ao que está embaixo, para
realizar os milagres de uma única coisa</i></span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">…” </span></i><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">(ver Nota 1)</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">2.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">A <i>Unidade
da Vida</i> é uma realidade sempre presente para a evolução natural e
harmoniosa de todos os seres vivos e do próprio Planeta;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">3.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Não há Religião superior à Verdade</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">,
encarando todas as manifestações do génio humano – religiosas, sociológicas,
antropológicas, filosóficas e científicas…– numa perspectiva Teosófica </span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">(ver Anexo único)</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">4.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Considero a Palavra como uma criação
superiormente inspirada – do Espírito, do Logos, de Deus, da Natureza, da Vida
Una… – que anima interiormente o homem e a mulher esse manifesta para a realização
e compreensão de maravilhas;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l2 level1 lfo2; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">5.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sempre a ter em conta<i>: “Não separarás o teu ser do Ser, e do resto, mas fundirás o oceano na
gota de água, e a gota de água no oceano. / Assim estarás de acordo com tudo
quanto vive</i></span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">…”</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;"> (<i>ver
Nota 2)</i></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 36.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Por outro lado, considero essenciais a
utilização de três ferramentas metodológicas para a desocultação dos
significados mais profundos do Espírito Religioso:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 53.25pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">1.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">A Poesia – pois esta permite-nos falar a
língua dos Deuses:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 53.25pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">2.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">A Imaginação Criadora – permite-nos ouvir e
entender a voz dos Deuses;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 53.25pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l1 level1 lfo3; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">3.<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">A Analogia – permite-nos compreender a
intenção mais profunda nas diversas manifestação dos Deuses. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Tal como Fernando Pessoa comunicava numa
linguagem superiormente inspiradora quando nos legou o poema que de seguida se
apresenta e que nos permite a compreensão de uma Religião totalmente integrada
na Natureza:<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Oscila o incensório
antigo<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Em fendas e ouro
ornamental.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sem atenção, absorto
sigo<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Os passos lentos do
ritual.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mas são os braços
invisíveis<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">E são os cantos que
não são<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">E os incensórios de
outros níveis<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Que vê e ouve o
coração.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ah, sempre que o
ritual acerta<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Seus passos e seus
ritmos bem,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">O ritual que não há
desperta<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">E a alma é o que é,
não o que tem.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Oscila o incensório
visto,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ouvidos cantos estão
no ar,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mas o ritual a que
eu assisto<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">É um ritual de
relembrar.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">No grande Templo
antenatal,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Antes de vida e alma
e Deus...<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">E o xadrez do chão
ritual<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">É o que é hoje a
terra e os céus...<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Fernando Pessoa</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;"> (ver
Nota 3)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">*<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">* *<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">A CONSCIENTIZAÇÃO DA UNIDADE DA VIDA<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Construção de um homem novo num mundo em transformação<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Uma das preocupações centrais da
Iniciação na antiga <b>Religião dos
Mistérios</b>, ao longo dos tempos, tem sido a de potencializar e possibilitar
a procura e o encontro ou re-encontro da UNIDADE DA VIDA pelo Peregrino,
viajante em demanda…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Procura baseada no pressuposto de
que a Relação Humana, a Verdade e a Liberdade estão, de facto, contínua e
dinamicamente presentes na Busca Espiritual e na Demanda pela Verdade última e
perene da Existência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Hoje, o homem moderno perdeu ou está
a perder, a capacidade de vivenciar a mensagem mais profunda dos Mistérios e
dos símbolos da Vida e da Morte. Distancia-se mais e mais deles. O <i>stress</i> e a superficialidade dos
quotidianos, com todo o condicionalismo daí resultante, impossibilitam ao homem
actual relacionar e inter-relacionar as Grandes Verdades da Vida Una, tendo em
conta a complexidade das miríades de facetas das relações humanas que o
preenchem e o distraem daquilo que mais importa!...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Verdade, Unidade e Liberdade são,
afinal, grandes objectivos de vida que desde sempre o homem procurou alcançar
através de diferentes caminhos, de diferentes perspectivas: Religião,
Filosofia, Ciência, Arte... É essencial que, cada um por si, procure a sua
própria Via, procure escutar o acorde harmonioso que a ponha em sintonia com a
Via do Coração, representante da chave autêntica que abre a porta dos Mistérios
da Natureza, dando acesso ao Graal da Sageza das Idades a fim de nele beber e
saciar a insaciável sede do sagrado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Existem duas perguntas, fundamentais
para a consciencialização e compreensão do ser humano em demanda: de onde vimos
e para onde vamos? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Poderemos filosoficamente tentar uma
resposta: – vimos da Unidade e voltamos à Unidade. Integração e re-integração. A
premissa essencial para se colocar e tentar responder à pergunta é a
compreensão e a apresentação como hipótese de trabalho da UNIDADE DA VIDA como
um facto real e de autêntico desenvolvimento humano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Vimos de um Todo e voltamos para um
Todo. De um estado de ser potencial de pré-nascimento – para todos nós o
Desconhecido, – para um estado de ser pós-morte – igualmente o Desconhecido.
Temos contudo, e perante o atrás referido, a consciência de que no nosso estado
de evolução espiritual, o processo total da Unidade da Vida é-nos, apesar de
tudo, ainda desconhecido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Só o
Presente nos é presente!</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Podemos considerar que a criança,
desde o primeiríssimo momento da sua existência enquanto Ser Humano, se
encontra unida à Vida Cósmica. Com o desenvolvimento e a afirmação da sua
personalidade, vai-se artificialmente separando da Realidade Última da própria
Existência e “converte-se” numa entidade separada, absorta no complexo processo
de crescimento e desenvolvimento do seu ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Afinal o “pecado original” não será
outro senão o da assumpção do estado de separatividade e do
“esquecimento”/recusa da UNIDADE essencial da Vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Contudo, tendo em conta a natureza
da Iniciação aos Mistérios, a vida de um ser humano é apenas um dia na mais
vasta vida do Espírito do verdadeiro Homem – o Eterno Peregrino nestes ritmos
da Criação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Por toda a parte observamos o mesmo
Alento Criador: a manifestada múltipla diversidade procedente da Unidade e o
seu retorno à mesma Unidade da Vida Cósmica. É o canto da Criação do qual fazem
parte todos os cantos, todos os ritmos do Universo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Vem a propósito um pequeno fragmento
do poético e inspirador livro, da autoria de Mabel Collins, <i>Luz sobre o Caminho </i></span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">(ver Nota 4)</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, pérola literária da filosofia
teosófica do século XX:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">«(…) apenas fragmentos da grande
canção chegam aos vossos ouvidos. Mas se a escutais, lembrai-a bem, para que
nada que chegou até vós seja perdido, e tentai nela aprender o sentido do
mistério que vos cerca. Em tempo não precisareis de mestre. Porque, assim como
o indivíduo tem voz, também a tem aquilo em que o indivíduo existe. A própria
vida tem fala e nunca está silenciosa. E a sua fala não é, como vós os surdos
podeis crer, um grito; é uma canção. Nela aprendei que vós sois parte da
harmonia; nela aprendei a obedecer às leis da harmonia.(…).»<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Vivamos momentos de Paz e de
Solidão, “aniquilando-nos”, isto é, integrando-nos na Vida que, sem cessar,
cresce e se desenvolve ao nosso redor e em nós. Tentemos escutar e ouvir a
Canção da Vida e ousemos transmutar-nos a partir da nossa natureza interior.
Alimentemos o fogo que arde no nosso mais recôndito Santuário, tentemos fazer
com que o Sol consiga livremente iluminar a chama interna e eterna conservada
no interior do nosso Coração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Diz-nos o sufi marroquino Sheij Sidi
Hamzaque: <i>“O verdadeiro conhecimento
somente se obtém através da humildade. O modo correcto de nos dirigirmos a ele,
deverá assemelhar-se ao de uma pessoa que quer beber água de um riacho: deverá
inclinar-se para a beber. A água está sempre situada no lugar mais baixo, temos
necessidade de ser como a água.”</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O Conhecimento, por mais
incipiente que seja, implica responsabilidade. Um trabalhador que use
eficazmente a sua ferramenta de ofício é-lhe exigido socialmente cada vez mais,
maior perfeição. A Obra – de transformação de si próprio e do que o rodeia –
precisa, em cada dia que passa, de mais e de melhores trabalhadores e a Obra
inicia-se a todos os momentos em nós próprios. Para se compreender o
subjacente, o autenticamente verdadeiro na Obra, para se compreender o seu
âmago, a sua essência, há que buscar e compreender a perenidade dos símbolos e
das mensagens espirituais Nela implícitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Importa dizer que
Conhecer é viver, é ensinar, é aprender, mas também é, e sobretudo, estar em
comunhão com o outro, estar num estado de Compaixão, de solidariedade e de
dádiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Conhece-te a ti próprio… Conhecer é Ser mais e melhor…<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Nos Antigos Mistérios da Humanidade – de Elêusis, de Ataegina, de
Mitra, de Isis, de Orfeu, de Dionísio,dos Egípcios, dos Tibetanos, dos Celtas,
dos Cristãos, dos Gnósticos, dos Sufis, e de tantos outros… </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">–</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">, através de uma abordagem muito particular da
alegoria e do símbolo, os desejos mais íntimos que a Humanidade tem expressado
ao longo de toda a sua História e Evolução têm sido: a conquista do Paraíso
Perdido, ou do Jardim do Éden ou das Hespérides, ou de <i>Agartha</i> ou de <i>Shambbalah</i>,
ou das Ilhas Encobertas ou do palácio do Rei Pescador, ou do Castelo do Graal,
etc., consoante as diferentes culturas ou civilizações. Todavia, no fundo,
trata-se de conseguir uma mutação qualitativa da consciência do homem com o fim
de conseguir viver uma União com o Todo – tal qual a Parábola Bíblica do
regresso a casa do <i>Filho Pródigo</i> –,
pois o Homem sempre viveu integrado no Todo, contudo, paradoxalmente procura-O
à sua volta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Lembremo-nos da história daquele peixinho que, no mar alto, pergunta à
mãe:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> <i>–
Oh, Mãe! O que é o Mar?<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> E
a Mãe, com aquela ternura e sensibilidade que só uma Mãe sabe mostrar no
relacionamento profundo com um filho, olha-o, sorri muito suavemente e
responde-lhe:<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> –
Olha, meu filho, tu estás no mar, tu bebes o Mar, tu respiras o mar, tu és o
Mar!...</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> A união com o Todo ou com o Amado, que
os místicos ibéricos como São João da Cruz ou Santa Teresa d’Ávila tão bem
souberam cantar nos seus poemas e nos seus escritos de religião, e por vezes
tão incompreendidos e até mesmo rejeitados e perseguidos pela dogmática e
repressiva superstrutura católica da sua época.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: maroon; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Trata-se, enfim, de alcançar o Tesouro que se
encontra oculto na gruta profunda do nosso coração ou no centro labiríntico do
nosso Ser, bem defendido pelo mítico Minotauro das lendas helénicas... Deixemos
Teseu e Ariadne dominarem o Minotauro do Labirinto e, com o auxílio do novelo
de fio de luz, saírem vitoriosos para a Luz Solar...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Da luz para a Luz!<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Igualmente e também desde tempos imemoriais que os Antigos Mistérios,
detentores da Sageza das Idades, têm tido como outro objectivo essencial na sua
Demanda, a cabal compreensão da Verdade. Contudo, esta parece ser inatingível,
para o homem comum, o qual, para ultrapassar a frustração de incapacidade que
lhe (a)parece inata, vem transformando e espartilhando o que julga entender por
Verdade em miríades de dogmas, de leis, de convenções, de teorias, que o <i>ajudam</i> a <i>dominar </i>a Realidade e a Vida... segundo os seus próprios juízos e
critérios. <span style="color: maroon;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: maroon; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sempre o homem comum olha para o exterior de
si próprio quando quer compreender qualquer <i>mistério</i>
vital, sempre ele tem julgado que aquela Verdade intransponível e inacessível
se encontra encerrada algures, em algum país longínquo, em algum livro dito
sagrado, em qualquer local ou pessoa investida de autoridade. Porém, e fazendo
jus ao aforismo antigo que reza: <i>«Não me
procuraríeis se não me tivésseis encontrado já...»</i>, resta-nos a <i>possibilidade </i>de (re)encontrar algo, e
esse algo estará encerrado no nosso próprio corpo, nos nossos genes, no nosso
Ser... ou oculto no nosso Coração...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu sou aquilo que sou!<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">O grande paradoxo que enfrentamos é o facto de termos de buscar uma
coisa, um facto, uma realidade, que reside em nós próprios… E termos de
descortinar um Caminho que por mais voltas labirínticas que dê voltará
sistematicamente para o interior de cada um de nós…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Percepcionar e compreender o Real talvez seja simplesmente olhar o
outro, os outros, e identificarmo-nos ontologicamente com eles… <i>Eu sou tu e tu és eu</i> nesta demanda da
palavra perdida que nos permitirá, se encontrada, a compreensão do Real em nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Deus criou o homem para o ouvir contar contos!<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Há que
reencontrar novas metodologias, novas mentalidades, para não nos afundarmos
definitivamente nesta sociedade de consumo e de morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Sempre
me lembro de África, para muitos o berço matriz da espécie humana, quando penso
em alternativa. Sabe bem voltar à Mãe, à Raiz, à Fonte quando ameaças pairam
perigosamente no ar à nossa volta…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Diz-nos
NicolásBuenaventura Vidal após uma viagem ao País dos Griots:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.25pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">“Houve
um tempo em que não havia nada, só o vazio, um vazio insensível e cego. O
vazio, insensível e cego, gostava de pensar de vez em quando, sé de vez em
quando e, de cada vez que pensava, os pensamentos ficavam suspensos, flutuando
no vazio; e os pensamentos foram-se somando e no vazio encontraram-se e
puseram-se a brincar. A brincar, a brincar, foram criando novos pensamentos. No
vazio começaram a nascer como </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">turupes<i>, isto é, como bossas, e
essas bossas rebentaram e formaram palavras, porque o vazio era insensível e
cego, mas não mudo. As palavras rapidamente se ergueram e começaram a
diferenciar-se. Umas tornaram-se em árvores, trepadeiras, arbustos e
florzinhas. Outras transformaram-se em água, e aconteceu que algumas se puseram
a nadar e se tornaram peixes e as que se sentaram a descansar converteram-se
então em pedras. As palavras a «pairar no ar» tornaram-se pássaros. Até que as
palavras, fartas de serem elas a dar nomes, decidiram querer ser nomeadas e
disseram Mulher e disseram Homem e as palavras Mulher e Homem caminharam até se
encontrarem, nomearam-se e amaram-se. Eles deram nomes às palavras. Apareceu a
palavra Casa e a mulher e o homem habitaram-na; disseram Mesa e tiveram onde se
sentar para comer. Com a palavra Palavra apareceu a primeira ferramenta e,
sentados em redor da palavra Fogo, a mulher e o homem contaram um ao outro, as
primeiras histórias.” </i></span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">(Ver Nota 5)</span></i><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Consideremos
então a enorme importância da Palavra para a compreensão da realidade da
UNIDADE DA VIDA que tem sido transmitida pelas inúmeras gerações através dos
Mistérios e considerada por muitos como fio condutor que liga initerruptamente
a Antiguidade à Contemporaneidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As
palavras constituem, de facto, a matéria prima essencial da condição humana. É
extremamente importante consciencializarmos o seu significado mais profundo,
mais essencial e mais genésico, a fim de reencontramos a <i>Palavra Perdida </i>cuja re-utilização consciente nos dará acesso ao
Reino dos Deuses…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">E tantas
palavras importantes, tantas palavras-força, que temos à nossa disposição para
trabalharmos e re-construirmos, como por exemplo:<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Culto
| Sagrado | Natureza | Pedra | Terra | Água | Ar | Fogo | Ether | Sol | Lua |
Árvore | Erva | Fonte | Rio | Montanha |
Gruta | Luz | Trevas | Noite | Dia | Ritmos | Ritos| Tempo | Lugar | Templo |
Tradição | Religião | Ritual | Romaria | Peregrinação | Demanda | Cura | Viagem
| Morte | Vida | Símbolo | Sonho | Oráculo | Animal | Mão | Homem | Mulher |
TellusMater | Mito | Mistérios | Arquétipos | Unidade | Oferta | Sacrifício | Compromisso
| Partilha | Solidariedade | Dádiva | Compaixão | …<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Compreendamos
as palavras, desocultemos os seus símbolos e significados mais profundos para
melhor as podermos pronunciar e utilizar na transformação e compreensão de nós
próprios e do mundo do qual fazemos parte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">É
importante a partilha, tal como nos transmite uma quadra conhecida do
Cancioneiro Alentejano.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">A propósito do Cante Alentejano e da Sabedoria das Idades – uma <i>praxi s</i>e um exemplo a reflectir<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;">Não me
inveja de quem tem <br />
carros, parelhas e montes <br />
só me enleva quem bebe <br />
água em todas as fontes.<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O <b><i>cante</i></b> alentejano, através do seu
cancioneiro tradicional e popular, contém em si, adivinhamo-lo, vestígios de
uma muito antiga <i>sageza</i>, sem idade…
Uma sabedoria oculta, subterrânea, ancestral, que nos diz que todos os homens
são irmãos, que todos detêm um saber que está para além da propriedade material
das coisas, dos objectos. Como consequência directa, todos poderão partilhar e
simultaneamente usufruir as riquezas espirituais comuns, colocando-se cada qual
disponível para ouvir o outro e partilhar com ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O alentejano ao ouvir as <i>modas</i> do <i>cante</i> está
simultaneamente a escutar o outro e a aprender com ele; e quando canta está a
partilhar, está a ensinar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Através do <i>cante</i>,
o alentejano está a ser ele próprio e está a interpretar aquela voz que lhe
chega das entranhas da cultura milenar da terra-mãe, terra onde vive e onde
trabalha e onde canta, onde vive e onde morre. Deste modo o <i>cante</i> apresenta-se-nos como um fiel
retracto psicológico da identidade tradicional dos alentejanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Nos dias que correm é cada vez mais necessário que cada um
de nós queira e consiga “<i>beber água em
todas as fontes</i>” para que as diferenças de cada um possam ser compreendidas
e aceites por todos e por cada um. Para que tudo aquilo que diferencia os
homens uns dos outros seja um factor de aproximação entre eles e não um factor
de desavença e de desentendimento; seja uma razão para procurarmos e vivermos a
complementaridade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Hoje é cada vez mais necessário investirmos culturalmente
em mais comunicação, mais diálogo e mais partilha. A palavra e a música
constituem ferramentas fundamentais para a construção e preservação de memória
e de identidade, neste caso da nossa memória e da nossa identidade enquanto alentejanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Como atrás se disse, o ser humano é uno e indivisível tal
como a própria Vida. Por factores desconhecidos e inexplicáveis, umas vezes é
alentejano ou beirão; outras é cristão ou muçulmano; outras ainda é judeu ou
hindu; poderá nascer preto ou branco, homem ou mulher… Contudo, no fundo, a
essência vital que anima os corpos dos seres humanos é a mesma e eles estarão
“condenados” a entenderem-se e a interagirem como irmãos se quiserem que a
Civilização e a Cultura continuem e evoluam equilibradamente ao som da Música
das Estrelas que nos envolve e que nos inspira a brotarmos para fora das nossas
almas de alentejanos e de cidadãos do mundo aquele grito, aquele cante, que
tanto nos diz e que tanto nos encanta…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Vida, morte, colheita, terra, trabalho, pão, cultura,
vinho, alimento, partilha, campo, amor… História, Identidade, Património da
Humanidade... Tudo isto é Cante tudo isto é Alentejo!...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A Natureza Humana e o livre arbítrio – que
desafios?<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Entrámos e instalámo-nos no Século XXI da Era Cristã,
num mundo paradoxalmente marcado pela barbárie e pela selvajaria humanas, diria
antes sub-humanas, e onde estas tristes mas factuais realidades são moda, basta
olhar a televisão, a <i>net</i>, os jornais…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Nos dias de hoje, mais do que nunca, temos de olhar e
repensar a essência da natureza humana. Esta encontra-se a ceder aos mais
baixos instintos de animalidade, onde a emoção e o mental inferior se
desenvolvem perigosamente, pondo em causa uma evolução harmónica, equilibrada e
espiritual. A grande tentação das hegemonias e dos imperialismos,
olhados,pessoal ou colectivamente, quaisquer que sejam as suas colorações –
religiosas, económicas, culturais, civilizacionais –, conduzem a Humanidade a
cometer autênticos genocídios e inclusivamente deteriorando irreversivelmente a
própria vida natural do planeta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Choques de culturas, choque de civilizações, choque de
religiões, aliados à intolerância, ao despotismo e à prepotência, que
caracterizam e normalizam a acção humana, são o apanágio do homem contemporâneo
onde quer que ele se encontre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A pegada
ecológica humana marca negativamente o solo fértil de Gaia.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O planeta está a sofrer uma imensa e arriscada
provação. Falando metaforicamente, um Dragão Negro está a possuir e a dominar
as mentes, as consciências e, o que é mais grave, o coração dos homens,
transformando os valores de uma cidadania partilhada em práticas de predação,
de horror e de insensibilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Nunca as palavras Fraternidade, Religião e Amor, estiveram
tão vazias de sentidos e de sentir. O primado do ter sobrepõe-se irremediável e
perigosamente ao primado do Ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Lágrimas, terror, sofrimento chegam constantemente aos
nossos sentidos através dos <i>mass-media</i>.
Possuímos a <i>infeliz</i> capacidade
tecnológica de presenciar a(s) guerra(s) em directo. A enorme quantidade de
informação manipulada, distorcida e censurada, entorpece-nos o sentir. Olhamos,
vemos, ouvimos, tomamos partido, mas falta responder à grande questão: como
actuar? Como agir, enquanto indivíduos racionais e conscientes, perante este
caótico estado de coisas? Perante estas “normalizadas” atrocidades de lesa
humanidade, destituídas de qualquer ética?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Imaginemos, através de uma imaginação criadora, que
contemplamos a Terra dos altos céus: de imediato sentimos na nossa carne a
agonia dos seres vivos! A Terra encontra-se coberta de feridas, cheia de
cicatrizes, sangrentas, latejantes... causa de sofrimentos desmedidos...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">E que alternativas estão ao nosso alcance para
alterarmos positivamente este estado de coisas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Por certo que igualmente se recordarão das tão simples
e tão belas palavras de Jesus inscritas no Evangelho segundo São João (</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">XV-12</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">) – <i>“Eis o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.” </i>Fazer
a guerra à Humanidade é fazer a guerra a Cristo, é recusar, repudiar e
espezinhar a Sua palavra, o Seu exemplo, a Sua memória.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Lembremo-nos da grande verdade de que, não importa
quão vasta a escuridão, quão vasta a noite, contudo uma pequena chama de vela
detém essa grande escuridão. Na sua insignificância é invencível porque é Luz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Que cada um de nós mantenha acesa a sua pequena chama.
Cada qual, por si, pode tão só significar uma fraca luz, contudo a natureza de
todas as chamas é a mesma, é Una. E todas juntas, na sua Unidade Essencial, firmemente
dirigidas e erigidas aos céus ensombrados pelas densas nuvens negras do ódio e
da ignorância, poderão, a pouco e pouco, afastar as trevas e fazer surgir mais
uma vez e sempre a Grande Chama Universal, corporalizada pelo Sol a que os
antigos denominavam por Cristo Solar ou Logos Solar...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Mais Fraternidade, mais Compaixão e mais Amor são
precisos para que essa Chama Universal se manifeste e realmente se torne uma
Realidade viva e verdadeiramente transformante e transformadora nos corações e
nas consciências da Humanidade que é Una!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Temos dentro de nós próprios, enquanto seres humanos,
a possibilidade de sintetizarmos, de compreendermos e de reproduzirmos o <i>Kaos</i>e ou o <i>Cosmos</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O Holismo –
uma nova forma de Religião<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A partir de meados do século XX, uma nova abordagem
metodológica foi surgindo e começou a ser seriamente encarada pelos
investigadores dos nossos dias – a perspectiva Holística. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Um modo de pensar abarcante, total e unitário, que
olha as várias disciplinas do conhecimento do homem e da Natureza sempre em
relação umas com as outras, não compartimentalizando e não separando, mas
integrando o conhecimento, como um todo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Este método revolucionário, sendo relativamente
recente, não é novo pois que, o conceito <i>holismo/holístico</i>
que, por um lado significa <i>total</i> e
por outro <i>sagrado</i>, contrapõe-se
àquela maneira de ser que fragmenta a realidade e que toma a parte pelo todo,
que prefere a análise (separatividade) em detrimento da síntese (unidade). <span style="color: red;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Por outro lado, a perspectiva holística, para o homem,
é, afinal, o acordar da totalidade dele próprio e do seu enquadramento vital
criativo, no qual ele poderá desenvolver ou despertar a sua essência
espiritual. Consequentemente, a consciencialização desta Unidade, em si próprio,
confere ao homem uma imensa responsabilidade perante a Natureza, suas Leis e
Evolução.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Esta <i>nova</i>
descoberta poderá consequentemente provocar transformações radicais na ordem
estabelecida anteriormente, podendo surgir então uma nova Cultura, uma nova
Ciência e uma nova Religião. E porque não uma Nova Civilização?...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A aproximação holística apresenta-se como um fio
condutor que poderá unir as várias ciências e filosofias num novo movimento com
uma nova e consequente dinâmica de intervenção ao nível dos conceitos e das
práticas de <i>concepção do mundo</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Como consequência, a política, a economia e a
tecnologia poderão igualmente mudar de carácter, assim como poderá mudar
igualmente a relação de dependência Norte/Sul, do Ocidente em relação ao
Terceiro Mundo e em última análise, as relações que os homens estabeleceram
entre si e o Universo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Holismo, é portanto, um neologismo que se poderá
identificar com uma perspectiva globalizante da Vida numa visão macroscópica,
sistémica e ecológica. Deveria constituir a raiz de uma nova Educação, de uma
nova Ética para que possa surgir um Homem Novo.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Como conclusão:<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As palavras muito antigas<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">São como as sementes<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Que são semeadas antes das chuvas<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Depois, a terra é ressequida pelo sol<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A chuva vem molhá-la<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">A água da terra penetra nas sementes<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">As sementes transformam-se em plantas<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Então, desenvolvem as espigas de milho<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Assim tu, a quem acabo de dizer as Palavras
Muito Antigas,<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Tu és a terra<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Eu planto em ti a semente da palavra,<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mas é preciso que a água da tua vida penetre
na semente<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Para que a germinação da palavra tenha lugar.<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ensinamento
de um griotMandinka<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 18.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">ANEXOS<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">H. P. BLAVATSKY E A TEOSOFIA</span></i></b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">I<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A LEI FUNDAMENTAL<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A unidade radical da essência
última de cada parte constitutiva dos elementos compostos da Natureza, desde s
estrela ao átomo mineral, desde o mais elevado </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">DhyānChoan<i> ao mais humilde dos infusórios, na completa
acepção da palavra, quer se aplique ao mundo espiritual, intelectual ou físico
– esta é a lei una fundamental na Ciência Oculta.</i></span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">(ver Nota 6)</span></i><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">NOTA
da Sr.ª Ianthe H. Hoskins:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“A filosofia esotérica enfatiza que existe
uma Realidade única por trás do variado mundo de nossas experiências, a fonte e
a causa de tudo o que foi, é e será. O grande divulgador da tradição Védica, <i>Sri Śankarāchārya</i>, afirma-o com bastante
simplicidade: não importa a forma dada à argila modelada, a realidade do
objecto permanece sempre sendo a argila, o seu nome e a sua forma não são mais
do que aparências transitórias. Do mesmo modo, todas as coisas, tendo-se
originado do Uno Supremo, são em si mesmas esse Supremo na sua natureza
essencial. Desde o mais elevado até ao mais inferior, do mais vasto ao mais
diminuto, os infinitos fenómenos do universo são o Uno, revestido por um nome e
por uma forma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Este ensinamento da
Unidade fundamental é o ponto principal do sistema teosófico. Conclui-se, assim,
que nenhuma doutrina baseada numa dualidade última – do espírito e da matéria
separados eternamente, de Deus e do homem como essencialmente distintos, do bem
e do mal como realidades eternas, – pode ter lugar na Teosofia.”</span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">(ver Nota 7)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">II<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><i><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">QUATRO IDEIAS
BÁSICAS</span></u></i></b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">(ver
Nota 8)</span></i><b><i><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></u></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">“(…).<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Não importa
o que se estude na Doutrina Secreta, a mente deve manter com firmeza as
seguintes ideias como base de sua idealização:<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">(a) A
UNIDADE FUNDAMENTAL DE TODA A EXISTÊNCIA. Esta unidade é algo completamente
diferente da noção comum de unidade - como quando dizemos que uma nação ou um
exército está unido, ou que este planeta está unido a outro por linhas de força
magnética, ou algo semelhante. O ensinamento não é esse, e sim o de que a
existência é UMA COISA, não uma colecção de coisas colocadas juntas.
Fundamentalmente existe UM Ser, que possui dois aspectos: positivo e negativo.
O positivo é o Espírito, ou CONSCIÊNCIA; o negativo é a SUBSTÂNCIA, o sujeito
da consciência. Esse Ser é o Absoluto em sua manifestação primária. Sendo
absoluto, nada existe fora dele. É o SER TOTAL. É indivisível, pois de outro
modo não seria absoluto. Se fosse possível separar-lhe uma parte, o restante
não poderia ser absoluto, pois surgiria imediatamente a questão da COMPARAÇÃO
entre ele e a parte separada, e a Comparação é incompatível com a ideia de
absoluto. Consequentemente, é evidente que essa EXISTÊNCIA ÚNICA, ou Ser
Absoluto deve ser a Realidade existente em cada forma que existe.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O Átomo, o
Homem, o Deus são, separadamente ou em conjunto, o Ser Absoluto em última
análise; e isto é a sua INDIVIDUALIDADE REAL. Este é o conceito que se deve
manter sempre no fundo da mente para servir de base para toda concepção que
surgir do estudo da Doutrina Secreta. No momento em que esquecemos isso (o que
é fácil acontecer quando estamos envolvidos com um dos muitos aspectos
intrincados da Filosofia Esotérica) sobrevém a ideia da SEPARAÇÃO e o estudo
perde seu valor.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">(b) A
segunda ideia a manter com firmeza é a de que NÃO EXISTE MATÉRIA MORTA. O mais
ínfimo átomo está vivo. E não poderia ser de outra forma, pois cada átomo é
fundamentalmente por si mesmo o Ser Absoluto. (…). O verdadeiro conceito é o de
que cada átomo de substância, não importa de que plano, é ele mesmo uma VIDA.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">(c) A
terceira ideia a manter é a de que o Homem é o MICROCOSMO. Assim sendo, todas
as Hierarquias dos Céus existem nele. Mas em verdade não existe nem Macrocosmo
nem Microcosmo, mas UMA EXISTÊNCIA. O grande e o pequeno só existem como tais
quando vistos por uma consciência limitada.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">(d) A quarta
e última ideia é aquela expressa no Grande Axioma Hermético que, na verdade,
resume e sintetiza todas as outras:<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Como o
Interno assim é o Externo; como o Grande, assim é o Pequeno; como é acima,
assim é abaixo; só existe UMA VIDA E UMA LEI e o que atua é o ÚNICO. Nada é
Interno, nada é Externo; nada é GRANDE, nada é Pequeno; nada é Alto, nada é
Baixo na Economia Divina.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">(…)”.</span></i><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">*<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">* *<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 18.0pt;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">NOTAS BIBLIOGRÁFICAS<o:p></o:p></span></b></div>
<ol start="1" style="margin-top: 0cm;" type="1">
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Hermes
Trimegistos – <b><i>CORPUS HERMETICUM E DISCURSO DE INICIAÇÃO (A Tábua de Esmeralda)</i></b>,
Hemus-Livraria Editora, L.<sup>da</sup>, São Paulo, Brasil, 1978 (pág.
127).<o:p></o:p></span></li>
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Helena
Blavatsky – <b><i>A VOZ DO SILÊNCIO</i></b>, Col. Sete Estrelo, n.º 6, Ed. Assírio
& Alvim, Lisboa, 1998 (tradução e notas de Fernando Pessoa¸ pág. 96).<o:p></o:p></span></li>
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Fernando Pessoa – <b><i>POESIAS INÉDITAS (1930-1935)</i></b>,
Lisboa, Ed. Ática, 1955 (págs. 98-99 ).<o:p></o:p></span></li>
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mabel
Collins – <b><i>LUZ SOBRE O CAMINHO</i></b>, Col. Sete Estrelo, n.º 10, Ed.
Assírio & Alvim, Lisboa, 2002 (tradução de Fernando Pessoa¸ pág. 21).<o:p></o:p></span></li>
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Nicolás
Buenaventura Vidal – <b><i>PALAVRA DE CONTADOR</i></b>, Colecção
“redes & enredos”, n.º 8, Ed.
Apenas Livros, L.<sup>da</sup>, Lisboa, 2007 (pág. 14).<o:p></o:p></span></li>
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">H. P. Blavatsky – <b><i>A
DOUTRINA SECRETA</i></b>, Vol. I - <i>Cosmogénese</i>,
Ed. Pensamento, São Paulo, s/d (pág. 267).</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></li>
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ianthe
Hoskins – <b><i>FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA ESOTÉRICA – H.P BLAVATSKY</i></b>,
Editora Teosófica, 2.ª edição, Brasília, 1993 (págs. 18-19).<o:p></o:p></span></li>
<li class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Ianthe
Hoskins – <b><i>FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA ESOTÉRICA – H.P BLAVATSKY</i></b>,
Editora Teosófica, 2.ª edição, Brasília, 1993 (págs. 23-25).<o:p></o:p></span></li>
</ol>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 18.0pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Rui Arimateia<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">rui.arimateia@gmail.com<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Centro de Recursos da Tradição Oral e do
Património Imaterial do Concelho de Évora<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Alandroal, 19 de Julho de 2015</span></b><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-22968515018266711592016-12-18T09:29:00.001+00:002016-12-18T09:29:13.650+00:00António Telmo o Poeta Pensador<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgra9PeWQ3LbKkNdAjj3A3abPlD30sBl7ATGRbwXM9EvEakKhTJSO9nrMLs7LM81PRYyjg8VgGs0FA-elOrMIqhZtLmFC7pQxq9EHKvLHmIemNIfPQzGP4AoG-FlLElszkP627ubwEjTIww/s1600/telmo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgra9PeWQ3LbKkNdAjj3A3abPlD30sBl7ATGRbwXM9EvEakKhTJSO9nrMLs7LM81PRYyjg8VgGs0FA-elOrMIqhZtLmFC7pQxq9EHKvLHmIemNIfPQzGP4AoG-FlLElszkP627ubwEjTIww/s1600/telmo.jpg" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-69370991985748889392016-12-18T09:27:00.003+00:002016-12-18T09:27:39.769+00:00SOBRE A POESIA DE ANTÓNIO TELMO<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Rui
Arimateia<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Apresentar
e falar sobre a figura e a Obra de António Telmo é sempre um desafio do “Arco
da Velha”, simultaneamente difícil e estimulante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Difícil,
devido à complexa idiossincrasia do Autor, estimulante porque a presença de
Telmo continua a inspirar-nos a constantemente re-trabalharmos (e não a repetirmos)
a sua obra em nós e entre nós para que o poder do pensamento criativo aconteça
e transforme e siga livremente para o Astro…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tal
como afirma António Telmo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">«A terra em que vivemos é apenas um
laboratório; no athanor da humanidade separa-se o subtil do denso. Esta não é a
terra definitiva. Para onde vai a energia que, pela entropia, constantemente se
perde? Transforma-se em energia espiritual. Tudo quanto de bom e de verdadeiro
se pensou e imaginou, e pensa e imagina, é o subtil que se separa do denso e
vai formar a Terra Prometida.»<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[A.T., <i>in <b>A Terra Prometida</b></i>, Edições Zéfiro,
Sintra 2014, pp.17-18]</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">.<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No que diz respeito à sua personalidade
única, poderemos socorrer-nos de uma auto-apresentação que o próprio António Telmo
escreveu, na <i>Carta-Prefácio</i> ao livro
de Alexandre Teixeira Mendes</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">
</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[“Barros
Basto – A Miragem Marrana” (p.12)]</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">, é muito ao seu jeito:</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">«Não serve então de prefácio esta
carta? É a obra de um marrano, cheia de paradoxos e de duplicidades, de desvios
súbitos, de contradições, de certezas e de incertezas. (…).»<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Daí que ao lermos e tornarmos a ler a
extensa obra que Telmo nos legou, a nossa evolução/criação interior, a nossa
reflexão que pretendemos séria, nos vai permitindo uma compreensão cada vez
mais profunda da dinâmica do pensamento criacionista do Autor. Pois que a
poesia para António Telmo é criacionista; uma vez que cria a realidade de que
fala. E importa reescrever e verbalizar esse pensamento porque, como ele
afirma, <i>“Só há pensamento, pelo menos
pensamento activo, através da palavra”</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em momentos de profunda crise física
(económica e financeira) e psicológica (carência de valores humanistas), como são
os que nos encontramos a viver, estas <i>Tardes
Télmicas</i> são fundamentais para a conservação e o fortalecimento da Cultura
Portuguesa, da sua Filosofia, da sua Poesia, do seu Humanismo… entre as nossas
comunidades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É um projecto generoso construído em
comum por homens e por mulheres preocupados com a <b>participação</b> e com a <b>assumpção
da palavra</b>, factores importantes e fundamentais para a coesão e a harmonia,
tanto social como espiritual. Um sentimento forte começa a nascer no mais
profundo de nós próprios quando reflectimos em conjunto estas matérias, e de
facto começamos a sentir que <b>o poder da
palavra </b>(do diálogo, da partilha) cada vez mais terá de se impor perante a <b>palavra do poder</b>…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Diz-nos
António Telmo, numa entrevista a Américo Rodrigues, que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">«(…). Não me considero um mestre.
Eu não considero e qualquer desses que aí estão no livro </span></i></b><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[António
Telmo e as Gerações Novas]</span></i></b><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> não podem dizer que são meus
discípulos, porque eu ainda não lhes disse que eram, não é? Porque o mestre é
que diz quem é o discípulo.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E
um discípulo não pode escolher um mestre?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não pode. Podíamos estar sujeitos a
que qualquer cavalheiro dissesse que era discípulo. Agora seguidor, aceito. Eu
gosto muito da expressão “olhar a mesma estrela”. Eu aceito que eles todos
olhem a mesma estrela mas isso não me põe a mim na situação de mestre.
Companheiro mais velho, talvez.» <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[António Telmo, <i>in</i> «A Terra Prometida», Ed. Zéfiro,
Sintra, 2014, pág.185.]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E
são sobre as palavras de poesia daquele Companheiro mais velho que gostaria de
tecer algumas breves considerações, tentando continuar a <i>“olhar a mesma estrela”</i> que muitos de nós partilharam e vivenciaram
com António Telmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não
queria deixar de felicitar a querida Amiga, a Escritora e Poeta Risoleta Pedro,
cujo trabalho de compilação e de apresentação dos poemas, agora reunidos neste
VI livro das Obras Completas de António Telmo, foi extraordinário e
esclarecedor para quem se quiser debruçar mais aprofundadamente sobre os textos
poéticos de Telmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não
queria também deixar de agradecer o convite que me foi feito pelo Amigo Pedro
Martins para fazer esta pequena apresentação, dando-me a oportunidade de a
partilhar com os presentes. E a todos os Amigos e Amigas do <i>Projecto António Telmo</i> que, continuando
a trabalhar e a publicar a Obra de António Telmo, estão a contribuir
decisivamente para o tornar imorredouro…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sendo
estas sessões também para nos reaproximarmos da obra de António Telmo,
recorrerei à sua palavra sempre que a mesma for esclarecedora, sempre que nos
dê mais claridade, sobre algum assunto mais complexo, dúbio ou esotérico
apresentado nos poemas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Elegi
meia dúzia de poemas. Os que pela sua leitura, e neste momento, me tocaram mais
fundo e que suscitaram uma ou outra reflexão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Então,
e para “entrar a matar”, recordemos que, para António Telmo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">«As ideias são comunicadas pelos
anjos! Só que há quem as pense e quem as não pense. O pensamento é que é
nosso. </span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[pág.
57]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">(…)</span></i></b><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Acho que a poesia não tem intenções
porque a poesia é também o resultado da colaboração do homem com o anjo. Claro
que eu não digo que o anjo é que escreve os poemas, é o homem que escreve os
poemas ajudado pelo génio! O génio era esse anjo que a gente vê nas “Mil e uma
Noites”, os génios que são educados.
(…).» </span></i></b><b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"> </span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[págs.183-4]</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[António Telmo, <i>in <b>A
Terra Prometida</b></i>, Edições Zéfiro, Sintra 2014, pp.183-4]</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Após
esta consideração, indicarei então alguns dos poemas que me tocaram e que me
fizeram alargar a consciência para outra Poeta, Beatriz Serpa Branco, cujas
palavras considero estarem em perfeita sintonia com António Telmo e que
inclusivamente se conheceram e trocaram publicações nos idos anos de 1982, em
Évora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Confesso
que me diverti imenso a ler a poesia agora reunida de António Telmo e, sem
esforço, ler as frases, olhar as palavras, sentir e desocultar os sentidos
esotéricos e exotéricos das construções poéticas. Contudo obra inacabada,
continuamente retrabalhada… sempre que me <i>apropriar</i>
de um poema e lhe fizer uma nova leitura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dionísio</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">,
poema da juventude, em que António Telmo faz desocultar a relação entre o
menino e sua mãe, num jogo onde a vida e morte nos alertam para o tempo mítico
da criança. Obrigou-me a olhar para o tempo mítico da minha infância.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">Para António
Telmo – criança é o ser que cresce, o adulto em devir; a criança, através da
educação deverá atingir o estado adulto com uma inofensividade (<i>ahimsa</i>, conceito espiritual que os
orientais tanto prezam) que a tornará um <i>“príncipe,
isto é, um ser que em si tem o seu princípio e do qual o Infante é o seu
perfeito símbolo.”</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;"> Tal como o <i>Infante</i>
do poema <i>Eros e Psique</i> de Fernando
Pessoa:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">“(…).<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">E, inda tonto do que houvera,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">À cabeça, em maresia,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">Ergue a mão, e encontra hera,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">E vê que ele mesmo era A Princesa que dormia.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">A Inofensividade é um estádio de evolução psicológica
e espiritual que acontece após a fase de inocência da criança; é um estádio em
que a reflexão e o autoconhecimento constroem um homem novo. Nos contos do
maravilhoso, o Príncipe e ou a Princesa, no início da saga encontram-se
normalmente num estádio de graça onde a inocência impera! Através das provas
físicas e psicológicas, através da experiência perigosa de contacto com o mundo
real, vão adquirir força, beleza e sabedoria interiores suficientes para
assumirem a transformação/crescimento do Ser e, através da escolha e do livre
arbítrio transmutam a inocência (estádio inconsciente) em inofensividade
(estádio consciente). O autoconhecimento tem aqui um papel fundamental.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">Apresento-vos então um poema de Beatriz Serpa Branco,
em casa de quem tive o prazer de conhecer António Telmo na Primavera de 1982, retirado
do seu livro de poemas “<i>A face e as
sombras</i>” </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">[Colecção Daimon, Évora, 1959]</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;">:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-fareast-theme-font: minor-fareast;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“o menino é um recém-chegado de
outros mundos.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">anunciador de uma distância íntima.
de onde nascer<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">é revelar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">sinal de uma viagem a um viver
separado.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">memória. vaga memória. de brisas
além da terra<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">em mares de aprofundar.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">ele é o Anjo enviado de nossos reinos
secretos. a este<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">mundo de fora onde depois da infância nos encontrámos<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">habitando. sem saber de outro
lugar.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">mas o menino é de longe. a Boa Nova
soada de praias<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">além do mar.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">rosto voltado aos cantos da
distância.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">olhos despertos ao acenar do longe.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de onde vieste e ainda lembras sem
saber lembrar?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">eco de mundos de silêncio o teu
silêncio. menino<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de silêncio olhando.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">presença de um Real chamando.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">além das vozes. das coisas. e dos
gestos.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Narciso</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">,
poema também da época da juventude de António Telmo. Utiliza neste seu muito
longo poema, uma riqueza de metáforas e mais metáforas. Para António Telmo, e segundo
António Cândido Franco, <i>“a arte poética é
o exercício da metáfora”</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
metáfora da água que António Telmo utiliza generosamente neste extenso poema, e
ao longo de toda a sua obra poética, remete-me para uma quadra do cancioneiro
popular alentejano dotada de uma profundidade de significado que importa ter em
conta nas nossas pesquisas sobre a criação poética portuguesa, a saber:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Não me
inveja de quem tem <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">carros,
parelhas e montes <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">só me enleva
quem bebe <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">água em
todas as fontes.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A <i>água em todas
as fontes</i> terá de ser bebida para que o Amor aconteça… para que o Amor
prevaleça…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O <b><i>cante</i></b> alentejano, através do seu
cancioneiro tradicional, contém em si vestígios de uma muito antiga <i>sageza</i>, sem idade… Uma sabedoria oculta,
subterrânea, ancestral, que nos diz que todos os homens são irmãos, que todos
detêm um saber que está para além da propriedade material das coisas, dos
objectos. Como consequência directa, todos poderão partilhar e simultaneamente
usufruir as riquezas espirituais comuns, colocando-se cada qual disponível para
ouvir o outro e partilhar com ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Nos dias que correm é cada vez mais necessário que
cada um de nós queira e consiga “beber água em todas as fontes” para que as
diferenças de todos possam ser compreendidas e aceites por todos. Para que
aquilo que diferencia os homens uns dos outros seja um factor de aproximação e
não um factor de desavença e de desentendimento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Terra escura de carne dolorida</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">, poema em que António Telmo
continua a cantar a água e o sol…<b><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT;">Refere a certa altura o canto
do rouxinol, <i>De lunar</i> <i>sentimento</i> <i>embriegado</i>, talvez porque sinta em si próprio o tempo sem tempo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT;">Na nossa notável tradição
galaico-portugueza relembremos a poesia de Afonso X, <i>o Sábio</i>, nomeadamente as suas “Cantigas de Santa Maria”. Ora
justamente uma dessas Cantigas (a CIII) canta-nos a história de “</span><i><span style="font-size: 12.0pt;">Como Santa
Maria fez estar o monge trezentos anos ao canto da passarinha, porque lhe pedia
que lhe mostrasse qual era o bem que avian os que eran en paraiso”</span></i><span style="font-size: 12.0pt;">. </span><span style="font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Reza assim:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">“Certo
monge rogava a Deus em instantes súplicas, que lhe desse em vida uma pequenina
amostra dos gozos do paraíso. Eis senão quando um dia chegou aos seus ouvidos o
canto dum passarinho, mas tão suave e melodioso que, no desejo de mais perto o
ouvir, saiu do seu convento e foi prostrar-se junto do sítio onde a avezinha
estava poisada. Sempre enlevado, ali se quedou algum tempo, segundo ele
pensava, até que o alado cantor se afastou, dando fim aos seus trinados. O bom
do monge voltou então ao cenóbio, mas grande foi a sua admiração, quando viu o
exterior mudado, e maior ainda, ao saber do porteiro que nenhum dos seus
antigos confrades lá estava. À vista da sua insistência em afirmar que poucas
horas havia que dali saíra, perguntaram-lhe o nome do seu abade; foi então que,
consultados os anais da casa, se reconheceu que trezentos anos se tinham
passado entre a sua partida e chegada. Pouco tempo sobreviveu o santo homem à
estranha aventura, voando o seu espírito de aí a pouco para o seio de Deus.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt;">[<i>O
Monge e o Passarinho – Uma Lenda Medieval</i>, José Joaquim Nunes, Academia das
Sciências de Lisboa, Separata do «Boletim da Segunda Classe», Vol. XII,
Coimbra, Imprensa da Universidade, 1919.]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Fecunda a terra o sol do amor
perfeito. / Meu coração fica todo florido.”</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> – Não remeterão
estes dois versos para a realidade inefável de uma passagem de uma
transformação… de uma Iniciação? Onde de novo faz todo o sentido o tempo sem
tempo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Outros
poemas me saltaram à vista e ao sentimento:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O
teu amor não veio moça? Choras.</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> – Utilização pelo
Autor de Metáforas. Imagens de grande riqueza poética a cantar o Amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
família é quando se dorme.</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> – O jogo simbólico da
luz com a sombra. Duas faces da mesma moeda. O Inefável… o indiscritível…
Novamente as crianças, aqui aparecem como intermediárias entre os homens e
Deus!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
minha fé tem a medida do que sou / Que se passou na infância que não lembro</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">
– Dois poemas que fundindo-os se constrói um soneto que trata de duas
realidades psicológicas determinantes na obra e na reflexão de António Telmo: a
assumpção da máxima <i>“Eu sou o que sou”</i>
e o facto da Memória encontra-se ligada em profundidade à Inteligência! Sem
inteligência não há memória e sem memória não acontece a inteligência…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
mim próprio </span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">– poema em que se adivinha a luta humana
do eu e do não eu. A Gnose e as contradições da natureza humana em busca da
perfeição ou da Morte<i>. “Não sei como
tentar e, se sei, temo / O fulgor essencial que mata ou cega.”<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Uma
vez conheci pelo Espírito Santo</span></i></b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">
</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">–
Conhecer é recordar e novamente a frase iniciática <i>“Sou aquilo que sou”</i> saltam-nos aos sentidos e fazem sentido enquadradas
pelo Espírito Santo o Senhor das Linguagens e dispensador do entendimento –
novamente a máxima platónica do “conhecer é recordar”, continuamente utilizada..<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mestria / Rotina</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">
– poemas que remetem para a realidade simbólica ou menos simbólica da Maçonaria.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No primeiro poema, António Telmo dá-nos
a descrição sumária da vivência íntima da passagem do Grau de Companheiro para
o Grau de Mestre Maçon. Pondera a eficácia de todo o cerimonial…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No segundo poema, António Telmo, critica
o comportamento de maçons no interior da Maçonaria. Maçon porquê? Para quê?...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Levaram luz pr’a onde reina a treva
</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">–
novamente António Telmo<b><i> </i></b>fala-nos sobre a autenticidade da
Maçonaria nos dias de hoje.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Lembremos, a propósito, um pequeno
trecho de António Telmo sobre o assunto:<b><i><o:p></o:p></i></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“(…)
É espantoso como foi possível conservar, ao longo dos séculos, inalteráveis, no
que lhes é essencial, ritos e símbolos maçónicos, quando enormes forças, cá
dentro como lá fora, tudo têm feito para os adulterar e corromper (…).”<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">[António Telmo, <i>in</i>
A Terra Prometida, 2014, pág. 108].<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: Calibri;"><br />
</span><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">Breve
conclusão:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: Calibri;">Diz-nos Carlos Aurélio, Amigo e Companheiro de
longa data de António Telmo que </span><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">“A sua vida e a sua obra são metáforas mútuas, reflexos similares da
mesma alma inquieta por Deus e por Portugal, a sua criatividade é fértil porque
exposta à expectativa do espírito, ao espanto de se estar vivo.” </span></i><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">[Carlos Aurélio, <i>António Telmo (1927-2010) e Vila Viçosa</i>,
<i>in</i> “Callipole”, n.º 18, Ed. Câmara
Municipal de Vila Viçosa, 2010.]<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: Calibri;">Mais uma vez recorro às sábias palavras de
António Telmo quando refere que <i>“Os
grandes poetas fazem-nos esquecer as imagens visuais com que nos falam. Tudo,
sob a sugestão encantatória do ritmo, se dissolve em sons, cheios de
«espírito», cada vez mais altos e profundos, em que ideias e sentimentos se
confundem numa mesma, única e indefinível vibração.” </i></span><o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -123.6pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">*<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -123.6pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">* *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Termino com a leitura e a partilha de dois pequenos
poemas de Beatriz Serpa Branco exactamente sobre “o poeta”:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">todo o poeta é profeta<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">só ele sabe antes do tempo<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">como acontece a verdade<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">e onde é verdade a cidade<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">aquela antiga cidade<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">da unidade e da altura<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">só ele sabe essa lonjura<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">terra em amor prometida<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">depois do tempo acabar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">todo o poeta é profeta<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">só ele faz nascer o dia<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">antes de o sol o criar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -123.6pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">*<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -123.6pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">* *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">deixa a Visão ficar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">deixa o poeta morar ah deixa<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">deixa que o poeta viva em ti<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">ele vem a acordar o poeta que em ti
era<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">e da infância esqueceste<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">pelos caminhos da terra<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 18.0pt;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -123.6pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">*<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 141.6pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -123.6pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">* *<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Rui
Arimateia – Sesimbra, 10 de Dezembro de 2016.<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Sessão
de apresentação do Vol. VI das <i>Obras
Completas</i> de António Telmo<i> </i>– <i>VIAGEM A GRANADA SEGUIDA DE POESIA</i>, na<i> </i>Biblioteca Municipal de Sesimbra, dia
10 de Dezembro de 2016, 15:00.<i><o:p></o:p></i></span></b></div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-16692375807362363982015-06-11T10:08:00.001+01:002015-06-11T10:08:13.961+01:00SANTOS POPULARES<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7-VRL5Ox20Ee9kwE9RZoADAawhyC-8nYzumzEvXeXK6n5xaTfXSq1te_CsEjoqE3Dfw3oDOV7SYBPCPr5Ln4fyMZpCK6r6X6l2PYvCKviE6dhQrLgSp121eKP_aaLUFQl57ekmIwwK3P7/s1600/antonio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7-VRL5Ox20Ee9kwE9RZoADAawhyC-8nYzumzEvXeXK6n5xaTfXSq1te_CsEjoqE3Dfw3oDOV7SYBPCPr5Ln4fyMZpCK6r6X6l2PYvCKviE6dhQrLgSp121eKP_aaLUFQl57ekmIwwK3P7/s320/antonio.jpg" width="234" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-51046822368001082752015-06-11T10:06:00.000+01:002015-06-11T10:09:02.738+01:00MEMÓRIA DE FESTEJOS POPULARES DE SANTO ANTÓNIO NA ÉVORA DE OITOCENTOS<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
«(…).</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Nos festejos
ao taumaturgo português o Largo de S. Francisco apresentava, nessas noites, <i>lindíssimos tronos com imensa profusão de
lumes</i> e onde não faltavam barricas de alcatrão espalhando luz de efeitos
seguros e surpreendentes, graciosos mastros aramados artisticamente, com seus
arcos triunfais, festões de murta e flores, o habitual concurso de duas
filarmónicas, tocando alternadamente. Outro divertido espectáculo era a alegria
das raparigas solteiras comprando, entre galhofas, alcachofras e maçarocas de
alfazema, grilos e rouxinóis em coloridas gaiolas, bem como os tradicionais
vasos de manjericos, com preferência pelos da tia Manuela, vendedeira do
mercado, por as suas curiosas quadras populares melhor estimularem os sonhos
ingénuos das cachopas, como esta:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i>Anjo meu, se por acaso<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i> Este
vaso às mãos te for,<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i> Dá-lhe
o teu seio por vaso<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i> Rega-o
com beijos de amor!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
(…).»</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Silva Godinho, 1982-83, “Temas Oitocentistas
Eborenses” (II Série)<b> </b>in <i>A Cidade de Évora</i>, n.º 65-66, Boletim de
Cultura da Câmara Municipal, n.º 65-66, Évora, p.175.<b><o:p></o:p></b></div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-23608591368335842302015-05-22T08:34:00.001+01:002015-05-22T08:34:20.608+01:00Carro Alentejano<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhviE0pNgxTzUxEcmuq89MPwMe6P5bsaWjctdL-OVNv9A2KZQchVBJCZzttPdUwQC4Vx_Bo6Nwf9BoyZhrMIEZtDq9wVymggAJbXrLE7HIq-xl_hDGDPuNTeH5VtB6TZO6hahczbj58x59v/s1600/carro+alentejano+de+canudo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="202" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhviE0pNgxTzUxEcmuq89MPwMe6P5bsaWjctdL-OVNv9A2KZQchVBJCZzttPdUwQC4Vx_Bo6Nwf9BoyZhrMIEZtDq9wVymggAJbXrLE7HIq-xl_hDGDPuNTeH5VtB6TZO6hahczbj58x59v/s320/carro+alentejano+de+canudo.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-3045857794013185722015-05-22T08:30:00.002+01:002015-05-22T08:37:37.849+01:00Uma viagem entre Lisboa e Evora antes de haver o caminho de ferro<div class="MsoNormal">
<b><i><u><span style="font-size: 14.0pt;">Sciencias & lettras<o:p></o:p></span></u></i></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Eis como a
descreve a penna elegante do distincto escriptor o sr. Ramalho Ortigão, n’uma das suas
correspondências para a <i>Gazeta de
Noticias</i> do Rio de Janeiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
«Antes da
abertura do caminho de ferro do sul, a viagem a Lisboa fazia-se em tres dias.
No primeiro ia se a Montemor, no segundo a Pegões, e no terceiro, como Vendas
Novas ficava perto de mais, pernoitava-se em Aldeia Gallega, esperando a falúa
da carreira ou o vaporsinho da manhã seguinte.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os quatro
irmãos Cabreiras, – o Luiz, o Gabriel, o Antonio e o Romão – que tinham vindo
de Hespanha em pequenos com a mãe viúva, faziam as recovagens e transporte de
viajantes em carros alemtejanos entre Evora e Aldeia Gallega.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Na solida
carreta, toldada de lona encerada e pintada de verde, acamavam-se primeiramente
os sacos da mercadorias e os odres. Em cima da carga colocavam-se os colchões,
e sobre os colchões acomodavam-se os passageiros, com os alforges, o farnel e a
borracha com o vinho da jornada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O <i>Graviel</i>, de barba feita para o caminho e
camisa lavada, prendendo o colarinho desgravatado com dous grossos botões
reboludos, o calção de briche novo, com fivelas e abotoadura de prata, a cinta
de lã escarlate, o chapéo com o diâmetro
de uma mó, armado de dous <i>pampous</i>, a
grande carteira de carneira verde – com a nota das encommendas dentro – na
algibeira interior do jaleco, sentava-se com garbo sobre a lança, entre as
mulas de troncos, dizia um monosyllabo ao gado, e tudo trotava alegremente por
ahi fora ao estrepito argentino dos guizos, entre os rolos da poeira
ennovelados no ar, ou sob a chuva, riscando o espaço n’uma pauta alvadia e
transversal entre as longas orelhas abanadas da parelha de guias.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ora, há muita
gente em Evora que ainda hoje tem saudades das recovagens dos Cabreiras.
Ataca-lhes os nervos o bem conhecido <i>silvo
da locomotiva</i>, que tanto incremento
tem dado no paiz, não só ao commercio, mas á eloquencia parlamentar, e que
ainda ha pouco eu ouvi citar, na camara dos deputados, como sendo uma das mais
gloriosas conquistas do partido regenerador, querendo-se dar a entender ao
reconhecimento publico, que quando os comboyos andam, é o sr. Fontes Pereira de
Mello quem assobia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os simples
viajantes acham menos divertido os vagons de primeira classe, do que os carros
do Cabreira, e preferem abertamente ao entroncamento da Casa-Branca o antigo
encontrão do odre nos solavancos da estrada velha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Chega a haver
antigos negociantes que, por baixo dos seus capotes ao fundo das lojas da rua
Ancha, para o próprio transporte das mercadorias, suspiram ainda pela tracção
do gado muar, como por uma terra de saudosa recordação da mocidade, jurando que
o extincto macho carroceiro, quando nas unhas de quem lhe soubesse falar á mão,
era muito mais ligeiro do que o vapor, em que tanto gosta de apitar a
rethorica, consideravelmente menos fervida no transporte comercial dos odres do
que na taverneação politica dos votos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O caminho de
ferro – dizem ainda – ligando-as estreitamente com Lisboa, absorvem para a
capital a antiga importancia d’Evora como centro de provincia, e dissolveu uma
grande parte da intensidade da sua vida autonoma.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O novo theatro
sumptuoso e vastíssimo, se chegar a concluir-se, não terá quem o frequente,
porque todos os rapazes e todas as senhoras novas das ricas familias eborenses
preferirão ir a Lisboa ouvir a opera de S. Carlos, a comedia de D. Maria, ou a
opereta da Trindade, a gastar o seu dinheiro com os amadores da terra.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E o que
succederá com o theatro sucede com muitas outras fontes de trabalho, de
commercio e de industria local, que o caminho de ferro vai sucessivamente
empobrecendo e extinguindo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Que demonio há
de fazer a modista, o alfaiate elegante, o mercador de chapéos de seda e de
pannos finos, o marceneiro, o joalheiro, o luveiro, o camiseiro, o relojoeiro,
etc., numa terra distante apenas seis horas de Lisboa, e lendo em cada manhã o <i>Diario de Noticias</i> do mesmo dia com o
programma dos espectaculos da noite, com o <i>menu</i>
dos restaurantes, com as reclames dos alfaiates e das costureiras da baixa e
com os annuncios do Gardé, da Emilia de Abreu, da Loja do Povo, da Aguia de
Ouro e do Cento e três?!...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Além disso, o
caminho de ferro encareceu em Evora o custo de todos os viveres, sugando-lhe
como por uma enorme bomba aspirante para o estomago de Lisboa todos os generos
alimenticios que n’ella abundavam: os frangos, os perús, os cabritos, os ovos,
as perdizes, os repolhos e as laranjas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
De resto, com
o no fundo das lamentações dos velhos retrogrados de Evora existe a melancólica
afirmação de um facto perfeitamente positivo, eu receio bem, ao deixal-a com
toda a minha sympathia de escriptor e de portuguez, que d’aqui a duas ou três
gerações esta velha cidade, tão litteraria e tão artistica, cujo esplendor
portanto tempo competiu com o de Lisboa, não venha a ser mais do que uma ruina
monumental e um duplo deposito das mais gloriosas tradições para a nossa
historia, e dos melhores géneros alimentícios para a nossa praça da Figueira.»<br />
<b style="text-indent: 35.4pt;">Ramalho Ortigão</b><br />
<b style="text-align: right;"><i>in </i>“Progresso do Alentejo”,
III anno, n.º 269,</b><br />
<b style="text-align: right;">Évora, Quarta-feira, 28 de Abril de 1886.</b></div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-42354859349320729992015-04-22T10:01:00.003+01:002015-04-22T10:01:39.890+01:00Castelo de Kilchum - Loch Awe - Escócia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn03Q09zBAFZLLtCo06ciXymA3XXR1Nbnq_Nh131MQ4AkXpJUVTZBN06UefZTB_tXxkSBrXFdb3Ask85QaQ7hbQNcHtvOSEAVHVg8NqNwOtyLW4PujfGyHELVAABInidlbhrq613-V5oc8/s1600/Kilchurn_Castle_Loch_Awe_Scotland_05.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhn03Q09zBAFZLLtCo06ciXymA3XXR1Nbnq_Nh131MQ4AkXpJUVTZBN06UefZTB_tXxkSBrXFdb3Ask85QaQ7hbQNcHtvOSEAVHVg8NqNwOtyLW4PujfGyHELVAABInidlbhrq613-V5oc8/s1600/Kilchurn_Castle_Loch_Awe_Scotland_05.jpg" height="195" width="320" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-90033556417904808922015-04-21T23:53:00.000+01:002015-04-22T09:56:35.545+01:00O conto do Castelão e do Carvoeiro<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 16.0pt;">ou o homem transformado em mulher<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Era uma vez, há
muitos, muitos anos e numa terra muito, muito distante, havia o costume de um Senhor Castelão, abrir o
seu castelo, um dia por ano, a todos os camponeses, habitantes no seu domínio,
que o quisessem visitar. Durante esse dia comeriam e beberiam os mais
deliciosos manjares e bebidas, ouviriam as mais delicadas e harmoniosas
músicas, usufruiriam das riquezas do castelo a seu bel-prazer. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Contudo, o rei
punha uma condição: durante a estadia no castelo cada um dos seus súbditos
deveria estar preparado para partilhar e contar uma história.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ora um
carvoeiro que há anos gostaria de fruir esse dia de festa e de fartura no castelo,
nunca o tinha feito porque não tinha história alguma para contar. Nesse ano
porém, encheu-se de coragem e foi, pensando que o Senhor, com tanta gente no
castelo nesse dia, com certeza não lhe iria perguntar sobre a sua história.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Se bem o
pensou, melhor o fez, misturou-se com os seus vizinhos e entrou no castelo.
Ficou deslumbrado com tanta luz, tanta beleza e tão grande fartura de comidas e
bebidas. Muitas músicas, danças e alegrias se sentiam naquele dia no castelo. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Às tantas
chegou o Senhor do Castelo com a sua comitiva para solicitar a um ou a outro
convidado que lhe contasse uma história. Ao chegar ao salão onde estava o
carvoeiro, dirigiu-se-lhe directamente e pediu-lhe que contasse uma história.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O pobre do
carvoeiro, aflito e muito envergonhado, baixou os olhos e disse baixinho que
não sabia qualquer história, mas que abandonaria já o castelo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mas o Castelão,
postando uma cara de zangado, disse que não o autorizaria a sair antes dele
pagar a afronta feita. Assim, teria que ir para o lago que ficava junto ao
castelo, onde estava um barco sua propriedade e haveria de remendar um buraco
no fundo do mesmo até ao final do dia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E o carvoeiro
lá foi, acabrunhado e envergonhado por ter sido descoberto e por perder tão
bonita festa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Chegou à
margem do enorme lago, lá descobriu o barco e viu que realmente deixava mesmo entrar um pouco de água. E pôs-se a trabalhar.
Tão entusiasmado estava que não reparou o aparecimento repentino de uma
tempestade que fez agitar as águas, desencalhar o barco e o transportou no seu
anterior para o centro do lago onde ficou à mercê da tormenta e em risco de
perder a própria vida nas suas águas agitadas e profundas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Durante um
tempo que lhe pareceu uma eternidade andou ao sabor das vagas e dos ventos até
o céu aclarar e o barco ir encalhar numa praia lindíssima, de areias finíssimas
e douradas e com uma luminosidade feérica. A paisagem à sua volta era magnífica
e indiscritível, tal a sua beleza… Extenuado saiu do barco e caiu no chão. Ao
levantar a cabeça reparou que qualquer coisa tinha mudado: olhou para as mãos e
não viu as habituais mãos calejadas e escuras de um carvoeiro, sentiu-se mais
leve e despreocupado! Ao debruçar-se junto de um pequeno espelho de água
tranquila, olhou a sua figura reflectida e viu que se tinha transformado numa formosíssima
donzela!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ainda
atordoado com a inesperada e tão radical mudança pôs-se a andar pela praia.
Entretanto chega um garboso cavaleiro junto dela que lhe diz ser dono daquelas
terras e a convida para o seu palácio que está muito próximo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tão linda é a
donzela que o cavaleiro se apaixonou por ela e a pediu em casamento, tendo ela
aceitado.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Viveram
felizes naquela terra de sonho durante anos, sem nada lhes faltar. A donzela
entretanto foi mãe de duas lindas crianças que criou com todo o amor e afeição.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ora, um dia, num
fim de tarde ameno, tendo a donzela ido passear à praia, viu um barco meio
abandonado e lembrou-se vagamente da sua chegada àquela terra. Resolveu subir
para o barco. Nisto e repentinamente desenvolveu-se uma grande tempestade que
levou o barco da praia para o meio do lago onde a donzela mal se conseguia
segurar devido à forte ondulação, ao terrível vento e à chuva que caía
intensamente e sem parar. Ao fim de algum tempo o barco bateu em terra firme,
com o seu passageiro mais morto que vivo devido ao cansaço e pelo enorme
esforço de se segurar com medo de não cair à água. Tinha então o barco chegado
à margem do lago, junto a um castelo que se encontrava todo iluminado e de onde
se ouviam músicas encantadoras. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Quem saiu do
barco foi o carvoeiro que, admiradíssimo, seguiu em direcção ao castelo e
entrou. Logo o Castelão o viu e se lhe dirigiu, perguntando:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
– Então
Carvoeiro?! Talvez agora já tenhas alguma história para contar!?...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">OBSERVAÇÕES:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">Conto tradicional escocês contado pela Prof.ª
Isabel Cardigos no dia 8 de Abril de 2015 no CEAO / Universidade do Algarve: “<span style="background: white; color: #222222;">Emily Lyle mo contou quando
regressávamos de um congresso em Innsbruck (Áustria), enquanto o avião nos
levava. Escocesa, dirigia uma revista (Celtic & <i>Scottish Studies</i>).”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Temos por outro lado, a informação do Dr. Luis Correia Carmelo</span><span class="apple-converted-space"><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">, sobre o conto</span></span><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;"> “o homem transformado em mulher”, diz ele: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">“Eu ouvi esta
história a Ben Haggarty, narrador inglês, que por sua vez a ouviu a Betsy
Whyte, uma informante escocesa de uma família itinerante que foi muito famosa
no movimento revivalista de narração no Reino Unido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">A história,
tanto em estrutura, como em tema, remete-me sempre para outras, claro.</span><span style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;"><br />
<span style="background: white;">Passei por uma história semelhante (sem a
transformação em mulher) na leitura de uma colecção de contos escoceses (uma
reescrita, não uma recolha). No Mahabhârata figura uma narrativa parecida
(também sem a metamorfose), mas que se assemelha muito à versão que conto, já
que é a propósito de ir buscar água por ordem de alguém que a personagem se vê
numa aventura fantástica, onde casa e tem filhos. Quando regressa, pouco tempo
passou.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">De outra
forma, Jean Claude Carrière, na Tertúlia dos Mentirosos, inclui uma narrativa
indiano de um rei que se transforma em mulher e vive a mesma experiência do
personagem do nosso conto em questão. Infelizmente, como é hábito, o autor não
nos deixa uma fonte precisa.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">Podemos também
encontrar uma versão curtíssima em J. Krhisnamurti (1977), <i>in</i> “Liberte-se do Passado”, Ed. Cultrix, 5.ª Edição, São Paulo (pág.
65):<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">«Sou tentado a repetir a
história de um grande discípulo que foi a Deus pedir que lhe ensinasse a
verdade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt;">Disse o "pobre" Deus:
"Meu amigo, hoje está fazendo muito calor; por favor, vai buscar-me um
copo d'água". O discípulo sai e vai bater à porta da primeira casa que
encontra e uma linda jovem lhe abre a porta. O discípulo dela se enamora, os
dois se casam e têm vários filhos. Então, um dia começa a chover, a chover sem
parar. Os rios se engrossam, as ruas se inundam, as casas são arrastadas pelas
águas. O discípulo se agarra à mulher, põe sobre os ombros os filhos e. ao
sentir-se arrastado pela torrente, brada: "Senhor, imploro-vos que me
salveis". E o Senhor responde: "Que é do copo d'água que te
pedi?" (...).»<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-12469643727147797052014-03-23T09:12:00.002+00:002014-03-23T09:12:32.421+00:00Mestre Azulão e Bezerra do Ceará<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzYD2vhJ-Lvov_R_I0iJO58f0Cn0JHnB8wy2I0agu0vzqBQ_DCwp1Z18yT6jupiQT1Vn11HdvxswMXOq4_1Cc4uGpSLLEQdz5bMWmzwTmcMisZtVMbeetVPlf_chaCVww9QBBvF7hPvbbm/s1600/Scan0001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzYD2vhJ-Lvov_R_I0iJO58f0Cn0JHnB8wy2I0agu0vzqBQ_DCwp1Z18yT6jupiQT1Vn11HdvxswMXOq4_1Cc4uGpSLLEQdz5bMWmzwTmcMisZtVMbeetVPlf_chaCVww9QBBvF7hPvbbm/s1600/Scan0001.jpg" height="320" width="226" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-76261753872637225352014-03-23T09:05:00.000+00:002014-03-23T09:15:10.760+00:00CORDEL REPENTE E VIOLA EM PORTUGAL COM MESTRE AZULÃO E BEZERRA DO CEARÁ<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br />
Meu abraço
aos portugueses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Desta cidade
princesa</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Évora, um
reduto histórico</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Dotada por
natureza</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aonde guarda
e preserva</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
A Cultura
Portuguesa</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aqui agente
admira</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
As suas
belezas mil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Terra dum
clima saudável</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E de umpovo
gentil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que valoriza
os poetas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Filhos natos
do Brasil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Portugueses,
Brasileiros,</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Unidos
apertam as mãos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Como amigos
patriotas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E fervorosos
cristãos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Numa amizade
mútua</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De dois
países irmãos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aqui não se
vê mendigo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nem criança
abandonada</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Se vê na
face do povo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Felicidade
estampada</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aqui nem uma
pessoa</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Diz que já
foi assaltada</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Évora cidade
climática</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Com pureza e
primasia</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
No verão seu
clima seco</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aquesse
durante o dia</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
A noite uma
brisa mansa</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Leva o calor
e esfria</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Tem jardins
e monumentos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Comigrejas e
mosteiros</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Conventos e
faculdades</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que nos
ensinos ordeiros</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Dão orgulho
aos portugueses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E delírio
aos brasileiros</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Tem dentro
do jardim Público</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Um ês
Palácio Real</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Suntuoso
monumento </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De estrutura
coloçal</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
A Casa Dom
Manuel</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Grande Rei
de Portugal</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Um magestoso
Corêto</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Bem no
centro do jardim</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Com todos
traços Reais</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Como quem
nos diz assim</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Eu sou uma
obra eterna</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que nunca
mais terei fim</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Todos
canteiros floridos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Com cravos,
jasmins e rosas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Exalando
seus perfumes</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Essências
deliciosas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Assim
perfumando as môças</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Elegantes e
formosas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Seu povo é
muito católico</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Amigo e
hospitaleiro</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
É no mundo
cultural</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Preservador
e herdeiro</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Amante das
boas obras</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E irmão do
brasileiro</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Láfomos bem
recebidos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E
recepcionados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Num hotel
granfino e calmo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Ficamos lá
hospedados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Com todas as
regalias</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E excelentes
cuidados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Onde as
môças nos trataram</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Como
bondosas irmães</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E se tornaram
de nós</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Admiradoras
fans</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Alegrementes
serviam</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nosso café
das manhães</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E todos
funcionários</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Da Câmara
Municipal</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nos
atenderam felizes</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Com atenção
cordial</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Sempre
dizendo, bem vindo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Ao nosso
Portugal</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Também os
chefes da Câmara</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Unidos na
mesma idéia</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Fizeram em
nosso favor</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Reunião de
Assembléia</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Os senhores
Paulo Lima</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E Rui
Arimatéia</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Paulo e Rui
Arimatéia</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Usaram
antecipação</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Providênciando
logo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nossa
remuneração</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nos pagando
antes mesmo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Da nossa
representação</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Para à
Cidade de Beja</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Também fomos
convidados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Onde catamos
repentes</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Entre
artistas animados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Lá fomos por
todos eles</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aplaudidos e
abraçados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Durante toda
a viagem</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Entre campos
de oliveiras</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Fazendas e
mil pomares</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De vinhas e
cerejeiras</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Encantados
nos lembramos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nossas
frutas brasileiras</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Um ônibus trouxe
de volta</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nós e
artistas cubanos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Falando das
nossas músicas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nossos shows
e nossos planos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E
instrumentos diversos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Espanhóis e
Italianos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Teve
artistas portugueses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Repentistas
de primeira</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que cantaram
seus repentes</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Do seu
estilo e maneira</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Mostrando a
sua cultura</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Lá da Ilha
da Madeira</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Artistas do
Alentejo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Mostraram a
sua cultura</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Onde tocaram
e dançaram</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Comarte
nativa e pura</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Gente que
conserva a música</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E cultiva
agrícultura</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nós fomos
considerados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Lá por todos
portugueses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Como
estrelas brasileiras</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Entre espanhóis
e franceses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E com
futuros convites</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Pra irmos lá
outras vêzes</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Pois em todo
conteudo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Da nossa
apresentação</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Foi feito um
evento histórico</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De passado e
tradição</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Dos
intelectuais</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que
enobreceram a nação</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Guerreiros,
religiosos,</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E poderososn
Reais</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que deixaram
grandes nomes</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E se
tornaram imortais</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De muitos
séculos passados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Dos tempos
medievais</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De Pedro
Alvares Cabral</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E suas
proesas mil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Atravessando
o Atlântico</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E em vinte e
um de abril</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Do ano mil e
quinhentos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aportou no
meu Brasil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Os índios preseciaram</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
A vinda dos
portugueses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Mas no
Brasil já se achavam</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Exploradores
franceses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que se
debatiam em lutas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Com índios e
holandeses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Esses tais
exploradores</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Levavam
muito sutil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Ouro e
pedras preciosas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De grandes
valores mil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E madeira
cor da brasa</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Que deu o
nome ao Brasil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Estes e
outros passados </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Muitos antes
de Cabral</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Itália,
França, Alemanha</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E toda
Europa em geral</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Descrita por
grandes vultos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De Espanha e
Portugal</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Nós os vates
repentistas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Voltamos
regosijados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Pelo o trato
que tivemos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E carinhosos
agrados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Dos bons
irmãos lusitanos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Alegres e
educados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Trouxemos de
Portugal</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Uma
excelente impressão</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De um povo
generoso</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
E de um bom
coração</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Com todos os
requisitos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Duma
civilização</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Um país
organizado</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
De paz e
tranquilidade</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Ordem,
respeito e justiça</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Sem violência
e maldade</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Trazendo á
sua nação</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Progresso e
prosperidade</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Portugal
abençoado </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Pelo clima e
a beleza</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Ruas, praças
e jardins</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Tem muito
zelo e limpeza</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Mostrando ao
mundo que tem</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Civilidade e
riqueza</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Aonde nós
recebemos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Zelo cuidado
e carinho</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
União entre
os artistas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Leais em
todo caminho</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Assim foi em
Portugal</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
O país meu
avosinho</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Fim </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Autor: José
João dos Santos (Mestre Azulão)</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
05/06/2001</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Programa Cultural do Colóquio Interdisciplinar CULTURAS POPULARES EM PORTUGAL SÉCULOS XIX E XX</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
ÉVORA, Palácio D. Manuel, 24 de Maio de 2001</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Endereço do
Mestre Azulão</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Rua Celina
Lima n.º 11 – Engenheiro Pedreira – Japeri – RJ</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Estado do
Rio de Janeiro. CEP. 26.381-000</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Telefone:
(03121) 2664-2159</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Esta
literatura de cordel foi patrocinada pelo o Sr. Prefeito de Japeri, Doutor
Carlos Moraes Costa, numa homenagem a cultura nordestina.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-55373237826408577742014-03-17T09:25:00.001+00:002014-03-17T09:25:11.344+00:00Cecília Meireles<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP-uiGTj-bCPohKekOQLcfyfzHRyXuLnb2S8KA4Nfh0zqwUPiO2w6_UXv-_kyjxI1VD8QjehCbTVSp0ZVfnr_9gKVfBPKpKn2tlitgEf0tn5oWME_cg0lnF3qC0nyMtxnHVzkFyV7rdHk_/s1600/Cec%C3%ADlia+Meireles.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP-uiGTj-bCPohKekOQLcfyfzHRyXuLnb2S8KA4Nfh0zqwUPiO2w6_UXv-_kyjxI1VD8QjehCbTVSp0ZVfnr_9gKVfBPKpKn2tlitgEf0tn5oWME_cg0lnF3qC0nyMtxnHVzkFyV7rdHk_/s1600/Cec%C3%ADlia+Meireles.jpg" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-60906586451793624932014-03-17T09:22:00.003+00:002014-03-17T09:22:23.693+00:00Poema Entrelaçado<div class="MsoNormal">
<span style="color: #333333; font-family: "Arial","sans-serif";">Évora
branca, marmórea, ebúrnea,<br />
de lírios, nuvens, pombos e cisnes,<br />
camélia, cal, amêndoa e lua,<br />
imaculada...<br />
<br />
“Lembrai-vos, porem, Senhora,<br />
do Geraldo Sem Pavor:<br />
- que outros o chamem de bravo,<br />
nós o chamamos traidor.<br />
Chegou-se tão disfarçado,<br />
conquistou nosso favor.<br />
Depois de amante fingido,<br />
tornou-se vil agressor.<br />
Sobre as pedras que estais vendo,<br />
corre uma fita de cor:<br />
corre uma fita encarnada,<br />
sangue mouro, em tanto alvor,<br />
destas cabeças cortadas,<br />
que pesam sobre o valor<br />
do ardiloso comandante,<br />
cruel Geraldo Sem Pavor.<br />
<br />
Por mim não diria nada:<br />
mas não hei de chorar por <br />
esta moura, minha filha,<br />
que mal podia supor<br />
ser por ele degolada,<br />
dando-lhe senhas e amor?”<br />
<br />
Évora branca, marmórea, ebúrnea,<br />
cera, alabastro, magnólia, jaspe...<br />
Sal das tristezas, coluna de horas<br />
ultrapassadas... <br />
<br />
“Lembrai-vos, porém, Senhora, <br />
de Geraldo Sem Pavor!<br />
Vede nestas armas claras <br />
nossas mascaras de dor...”<br />
<br />
Évora, 1953<br />
<br />
<br />
Cecília Meireles<br />
<i>in</i> “Poesia Completa”<br /><br /><o:p></o:p></span></div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-45442522073612658602014-03-02T16:01:00.002+00:002014-03-02T16:01:14.773+00:00Uma Brinca de Évora<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXz6sLmQtOimVUYzwAqP4yvIFVS0fQS8P45zxZkkvAJ4WGAvHBthbgBnEGWv7MqL-qHkAoqUi6zrvGztkJsdEvRgRzDvCVi61Kp_K09hA8WYM2hOpndl_fC3Pb5PnH8JTy7o2tAMuAy1NK/s1600/Scan0006.tif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXz6sLmQtOimVUYzwAqP4yvIFVS0fQS8P45zxZkkvAJ4WGAvHBthbgBnEGWv7MqL-qHkAoqUi6zrvGztkJsdEvRgRzDvCVi61Kp_K09hA8WYM2hOpndl_fC3Pb5PnH8JTy7o2tAMuAy1NK/s1600/Scan0006.tif" height="215" width="320" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-71691254940442098702014-03-02T15:53:00.000+00:002014-03-02T19:14:32.143+00:00AS BRINCAS DE ENTRUDO DE ÉVORA EM 2014<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">NOTÍCIA
SOBRE AS <i>BRINCAS</i> DE ÉVORA <o:p></o:p></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">As <i>Brincas</i> do Entrudo de 2014<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Neste Entrudo do ano de 2014 só
irá sair para a rua uma <i>Brinca</i> de
Carnaval – a do Bairro de Almeirim / Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo e
irá apresentar-se por diversos locais do Concelho de Évora, principalmente nas
freguesias rurais e quintas ao redor de Évora. Irá também apresentar-se no
Centro Histórico (Praça do Giraldo e Praça de Sertório). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">No Sábado, dia 1 de Março,
participou no Festival Entrudanças, em Entradas / Castro Verde, evento cultural
organizado pela Associação PédeXumbo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Recordemos que...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">As
<i>Brincas</i> são das manifestações
tradicionais mais representativas do Carnaval de Évora. Consistem numa
manifestação cultural tradicional, ainda hoje viva, sendo únicas pela forma e
pelo conteúdo, pela originalidade e pela criatividade. São um sub-género da
dramatização popular, musicadas e coreografadas, tendo por base um <i>fundamento</i> constituído por um “corpus”
de décimas, tão características do Alentejo, e um dos pilares das oralidades da
cultura popular alentejana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Excertos de um
fundamento escrito por Mestre Raimundo, “As Encantadas”...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Foi
assim apresentada a “fórmula” do Mestre iniciar o fundamento no “Grupo das
Encantadas”:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">MESTRE<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">1.ª<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Senhor
venho-o cumprimentar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Com a
minha delicadeza<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">E
pedir-lhe a fineza<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Se nos
deixa aqui apresentar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Nada
podemos falar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Sem a
sua autorização<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">O
Senhor é o patrão<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Eu
cumpro o meu dever<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Faz
favor de me dizer <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Se me
á licença ou não<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">2.ª<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Fico-lhe
grato senhor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Que
atenda o meu pedido<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Eu
fico-lhe agradecido<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Muito
obrigado pelo favor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Já
tenho a rua ao dispor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Pois
irei o sinal dar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">O povo
está a esperar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">A
nossa apresentação<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Dou-lhe
um aperto de mão<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">E
vamos já iniciar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">3.ª <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">A
todos muito boa tarde<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">A
todos muita saúde<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Que
Deus os ajude <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Com
sua bondade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Esta
mocidade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Vem
aqui alegremente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Cumprimentar
toda a gente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">De
dentro do coração<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Peço-lhe
muita atenção <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">E não
cheguem muito para a frente <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">4.º<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Isto é
um divertimento<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Que
nós mandámos fazer<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Mas
devem de gostar de vir<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Este
nosso entretimento<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Não é
um fundamento<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Com
toda a perfeição<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">É a
revolta de uma nação<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">É a
vida que foi vencida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Com um
filho anda fugida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">E
muitos assuntos se verão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">../...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Continuando a falar sobre as
Brincas...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">As
mensagens da <i>brinca</i> abalam de facto as
estruturas sociais mais sólidas: a família, a autoridade, a igreja, o poder
instituído, a moralidade e os bons costumes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">Se
o <i>fundamento</i>, na <i>brinca</i>, representa a narração de uma situação normal (<i>normalizada</i>) que caracteriza toda uma
ordem quotidiana, a principal figura da <i>brinca
</i></span><span style="font-family: Symbol; mso-ascii-font-family: "Bookman Old Style"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode"; mso-char-type: symbol; mso-hansi-font-family: "Bookman Old Style"; mso-symbol-font-family: Symbol;">-</span><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";"> o
Palhaço/o <i>Faz-Tudo</i> </span><span style="font-family: Symbol; mso-ascii-font-family: "Bookman Old Style"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode"; mso-char-type: symbol; mso-hansi-font-family: "Bookman Old Style"; mso-symbol-font-family: Symbol;">-</span><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";"> personifica a desordem, o caos, o
diabo, a loucura, em suma, a ausência de ordem, de lei, de respeito, realizando
ele, no decorrer de toda a dramatização, a inversão total dos valores
veiculados pelos seus restantes companheiros, que fazem os possíveis e os
impossíveis para o ignorar </span><span style="font-family: Symbol; mso-ascii-font-family: "Bookman Old Style"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode"; mso-char-type: symbol; mso-hansi-font-family: "Bookman Old Style"; mso-symbol-font-family: Symbol;">-</span><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">
ele, para eles, não existe...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">Deste
modo, será legítimo afirmar que o <i>Faz-tudo</i>
põe em causa <b>tudo</b>, inclusive a própria <i>brinca
</i>e o seu <i>fundamento</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">É
exactamente por este emaranhado de situações, mais ou menos complexas, que só
faz verdadeiro sentido nós encararmos a <i>brinca</i>
no contexto mais amplo do próprio Carnaval, inserido este no calendário das
principais Festas Cíclicas (Agrárias) Anuais. Não o Carnaval <i>domesticado</i>, <i>legitimado</i>, <i>vendido</i>, <i>bem educado</i>, isto é, o Carnaval citadino
e urbano, mas sim aquele tempo de festa, de jogo, onde a <i>transgressão</i>, a <i>loucura</i>,
o <i>imoral</i> deveriam ter sido, em eras
passadas, os únicos valores, ou melhor, <i>anti-valores</i>
aceites num tempo e num espaço de renovação, de exaustão do <i>velho</i> e do <i>gasto</i>, para que o <i>novo </i>(ou
renovado) pudesse emergir, ressuscitar, germinar com o aparecimento da
Primavera. Daí o denominar-se, tradicionalmente, desde tempos imemoriais, de <b><i>Entrudo</i></b>
(<i>Entrada</i>) esta época de caos e desordem
que antecedia paradigmaticamente a génese da organização natural e humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">Entrudo para uns e Carnaval para
outros...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">O
tempo do Carnaval era tradicionalmente tempo de festa, de jogo, onde a
«transgressão», a «loucura», o «imoral» e a «paródia» deveriam ter sido, em
eras remotas, os únicos valores aceites de um tempo de renovação, de exaustão
do «velho» e do «gasto» para que o «novo» pudesse ressuscitar, germinar com a
Primavera. Talvez daí o facto de se chamar, desde tempos imemoriais, de Entrudo
(Entrada) a esta época de caos e desordem que antecedia paradigmaticamente a
génese cíclica da transformação natural e da organização social.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Notícias antigas sobre as
Brincas de Carnaval de Évora...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">O Carnaval<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Acerca das festas
e divertimentos carnavalescos, publicou hontem o governador civil do districto
d’Évora, sr. dr. Domingos Rosado, um edital que contem as seguintes
disposições:<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">(…).<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">3.ª – As danças,
revistas, ou quaesquer grupos de mascaras nas ruas e logars públicos só podem
ser consentidas quando vão munidas de licença da autoridade policial, e sempre
de forma que não impeçam o transito e o socego publico.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">(…).<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Notícias de Évora</span></i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">, n.º 6951 de 28 de Fevereiro
de 1924 (à pág. 2)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Ainda o Carnaval
nas quintas do Louredo e Espinheiro</span></i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Com grande animação,
realisaram ali as festas nos 3 dias de Carnaval, uma sociedade de rapazes,
organizando umas danças, em que se apresentaram decentemente, sendo os
promotores das danças, os srs. Jasuino Carrageta e Joaquim da Cândida e outras
sociedades. Houve opiniões da maioria, que as danças mais aplaudidas foram as
do sr. Jasuino Carrajeta.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Felicitamos as
sociedades do Louredo e Espinheiro.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Notícias de Évora</span></i><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">, n.º 6962 de 14 de Março de
1924 (à pág.1)<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">O que eram as Brincas...<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">Tradicionalmente,
as <i>Brincas</i> eram constituídas somente
por homens, travestindo-se, se necessário, para o desenrolar do <i>fundamento</i>, numa média de quinze a
vinte: um <i>mestre</i>, dois ou três
palhaços (os <i>faz-tudos</i>), meia dúzia
de músicos, onde a <i>bateria</i> (bombo e
caixa) e a concertina têm um papel fundamental, um porta-estandarte e os
restantes figurantes para a execução/representação do <i>fundamento</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">Convém
clarificar que se denomina <i>brinca</i> o
grupo de homens ou rapazes que se organizam anualmente (ciclicamente) para a
construção e execução de uma dramatização popular durante a época festiva do
Carnaval. No entanto, poderá igualmente entender-se por <i>brinca</i> toda a acção dramatizada (o <i>fundamento</i>), musicada (a contradança, a valsa, a canção, etc.) e
coreografada (as diferentes formações que têm lugar ao longo de toda a acção:
as <i>rodas</i>, etc.). que esse grupo
assume nas várias representações que realiza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">No
que diz respeito ao <i>fundamento</i>, em
termos formais é constituído por décimas de versos rimados. É a <i>alma da brinca</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif"; mso-bidi-font-family: "Lucida Sans Unicode";">O
<i>fundamento</i>, apresenta um <i>enredo</i>, com princípio, meio e fim,
podendo este focar diferentes realidades sócio-culturais e históricas.
Diversificada poderá ser a temática desse enredo: episódios da Bíblia, da
História de Portugal, da realidade social alentejana, da guerra, contos
populares tradicionais, do comum quotidiano, entre outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";">Évora, 2 de Março de 2014<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: "Bookman Old Style","serif";"><a href="mailto:rui.arimateia@gmail.com">rui.arimateia@gmail.com</a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3XU8Hq3SzqOq5dhAyUgAx_rcizmOVvnKtyisAG5MpdEdRN3a85guBFmVbqkLobGsbC1yvr47Fi1AJtsKo3wSc4c9Npz5-a9Kc0oGobqzi0niQS5DQsPG4quNHg-P_-XceefZ0D3QabyT7/s1600/cartaz+Brincas+2014.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3XU8Hq3SzqOq5dhAyUgAx_rcizmOVvnKtyisAG5MpdEdRN3a85guBFmVbqkLobGsbC1yvr47Fi1AJtsKo3wSc4c9Npz5-a9Kc0oGobqzi0niQS5DQsPG4quNHg-P_-XceefZ0D3QabyT7/s1600/cartaz+Brincas+2014.jpg" height="320" width="226" /></a></div>
<o:p></o:p>Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-27807076415611923742014-02-11T22:00:00.001+00:002014-02-11T22:00:02.962+00:00O Conto dos Coelhinhos, ilustr. de António Couvinha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzGZPy4XPTwHQsSlTWaSxuWYsUBYuo_80A5L3YywK7k0DmxrG0UAuSil3X7Gz9keumrpzQ6HdP6JQem59OS6G2w3OAHrduXAvwZ_xbzYVrCrTzPoqvoRYsI68NJCY2ZH8aJ7U-mxfLTiV-/s1600/O+Conto+dos+Coelhinhos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzGZPy4XPTwHQsSlTWaSxuWYsUBYuo_80A5L3YywK7k0DmxrG0UAuSil3X7Gz9keumrpzQ6HdP6JQem59OS6G2w3OAHrduXAvwZ_xbzYVrCrTzPoqvoRYsI68NJCY2ZH8aJ7U-mxfLTiV-/s1600/O+Conto+dos+Coelhinhos.jpg" height="320" width="231" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-58072755261128945862014-02-11T21:58:00.000+00:002014-02-11T21:58:19.957+00:00Contar e recontar o conto tradicional<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 8.0pt;">“Deus inventou o homem para o ouvir contar
contos”.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 8.0pt;">Ditado
Popular<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O conto tradicional, que chegou até
nós hoje, é a forma sobrevivente da narração oral no decorrer da sua mais ou
menos longa vida, transmitido de boca a ouvido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Tal como afirma Italo Calvino, “Quem
faz o conto é o ouvinte”, na medida em que o transmite, lhe confere existência
e continuidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A temática do conto tradicional, do
conto de encantar, do conto do maravilhoso, poderá ser enquadrada por muitas
perspectivas e enfoques científicos. Uns de natureza mais antropológica e
sociológica, outros focando mais a psicologia e a psicanálise, outros ainda podendo
ser abordados através do ponto de vista global da filosofia ou mais
concretamente da filosofia da educação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A problemática do conto tradicional
agora abordada insere-se numa área em que todas as perspectivas acima referidas
são tocadas de um modo integrado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Este conjunto de eventos agora
proposto servirá para, a curto prazo, enquadrar um conjunto de
inquéritos–recolha sobre e de contos tradicionais no Concelho de Évora, ao
longo de toda a área geográfica do concelho, rural e urbano. Pensamos assim que
nos permitirão compreender a complexidade do contar e do recontar contos
tradicionais, pelos diferentes actores sociais que hoje habitam o Concelho de
Évora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Tradicionalmente se o conto não for
ouvido, nem for contado, é esquecido, morre, desaparece. Se o processo contar /
ouvir / contar… for interrompido, esse processo circular de comunicação tradicional
e secular, o conto, resultado e veículo da Tradição, desaparece das nossas
memórias. Para o erudito Professor José Leite de Vasconcelos os contos
tradicionais assemelhavam-se aos “calhaus rolados”, uma vez que os contos têm
de ser contados, têm de ser muito “rolados” para se tornarem perfeitos na sua
narração e sobrevivência enquanto tradição oral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Nos nossos dias atrevamo-nos a
pesquisar o seguinte, sobre o conto tradicional:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> -
quem o conta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> -
como conta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> -
quando conta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> -
porque conta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> -
a quem conta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A Tradição Oral ou, um pacto através
da palavra – a importância sublime do contar e do escutar… é o desafio que nos
propomos a nós próprios descobrir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Encontramo-nos hoje a
redescobrir os <i>Contos de Encantar</i>.
Apesar de tudo teremos ainda em primeiro lugar de readquirir, de reaprender o
conhecimento e a vivência espirituais imanentes no acto de contar um conto, sem
complicações conceptuais nem preocupações didácticas... O acto de contar um
conto, o acto de ouvir um conto, à noite, seja junto à lareira, ao redor de um
aquecedor eléctrico, a olhar as estrelas... contém em si próprio qualquer coisa
de ritual, de místico, de totalizante... Se não, experimentemos, contemos um
conto – de fadas, de gigantes e de anões, de bruxas e lobisomens, de bichos
falantes e encantamentos, de varinhas de condão e de cavalos voadores, etc. – a
uma criança e tomemos, ao mesmo tempo, atenção ao que se passa nessa relação,
observemos a criança: ela está a viver no seu interior o que escuta
exteriormente, absorve as imagens que se desenrolam perante ela – ela
lembra-se, ela sente, ela entrega-se totalmente à acção e às imagens psíquicas
que se formam na sua pequena cabeça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> E conseguiremos reviver o estádio de
infância que, qual Mito do Paraíso Perdido, se encontra à espera de um estímulo
nosso para que desperte e, de certo modo, nos guie na nossa enfadonha caminhada
de adultos, procurando <i>a verdade absoluta</i>
e passando ao lado das muitas pequenas verdades que constituem a vida real do
dia-a-dia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Tal como diz o Poeta</span> [Beatriz
Serpa Branco -<i>A Face e as Sombras</i>,
Évora,1969 (p.29)]:<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">não se gastou nem
se perdeu a infância<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> a nossa infância<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> ficou junto escondida em qualquer canto da vida<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> sem mudança igual a ser<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> como a vida que mora por
dentro do viver<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Importante é também esta pequena
reflexão sobre a infância em nós, adultos, por Franz Hellen [</span> Cit. por DURANT, Gilbert - <i>a imaginação simbólica</i>, Lisboa, 1979 (p. 85 - ‘Nota’ 45)<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">]:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">«A infância não é
coisa que morra em nós, que seque uma vez cumprido o seu ciclo. Ela não é uma
recordação. É o tesouro mais vivo, tesouro que continua a enriquecer-se à nossa
custa... Infeliz aquele que não consegue recordar a sua infância! voltar a
captá-la em si como um corpo no seu próprio corpo, um sangue novo no sangue
velho: esse terá morrido quando ela o deixou.»</span></i></b><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Goethe, um dos grandes poetas da
humanidade e que cantou na sua obra poética muitos temas da Tradição Oral
Popular, dizia dever o seu talento ao facto de ter tido uma infância rica em
fantasia. É, de resto, conhecido um depoimento de sua mãe; afirmava ela:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 35.45pt; text-align: justify; text-indent: -35.45pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">«O ar, o fogo, a água e a terra, apresentava-lhos eu
como lindas princesas e toda a natureza tomava um sentido mais profundo.
Inventávamos estradas entre as estrelas e as grandes cabeças que encontrávamos.
Ele devorava-me com os olhos. E se o destino de qualquer um dos seus favoritos
não era o que ele desejava, eu via isso logo na sua cara ou nos seus esforços
para conter as lágrimas. Uma vez ou outra interrompia dizendo: – “Mãe, a
princesa <i>não</i> casará com esse
miserável alfaiate, mesmo que ele mate o gigante”. Aqui, eu parava e adiava a
catástrofe até à noite seguinte. Assim, a minha imaginação era frequentemente
substituída pela dele; e quando, na manhã seguinte, eu arranjava o destino em
conformidade com as suas sugestões, dizendo “Tu adivinhaste, foi assim o que
aconteceu”, ele ficava todo emocionado e podia-se ouvir o bater do seu coração».
</span></b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">[</span> Cit. por BETTELHEIM, Bruno - <i>Psicanálise dos Contos de Fadas</i>, Lisboa,
1984 (p. 195).<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">]<b><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Segundo Bruno Bettelheim:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 49.65pt; text-align: justify; text-indent: -49.65pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> <b><i>«Os contos de fadas, para além de uma
deliciosa forma de entretenimento, têm um papel fundamental a desempenhar na
estruturação da personalidade. São uma obra de arte elaborada ao longo dos
séculos; uma dádiva de amor a que todas as crianças têm direito.»</i> <o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 49.65pt; text-align: justify; text-indent: -49.65pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> E é ainda Bettelheim quem afirma:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 49.65pt; text-align: justify; text-indent: -49.65pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">«A história de fadas é essa dádiva
de amor a ser partilhada por pais e filhos. É o presente que a humanidade lega
às suas crianças e que ninguém tem o direito de impedir que sejam as crianças a
desembrulhá-lo com felicidade!»</span></i></b><b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 49.65pt; text-align: justify; text-indent: -49.65pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Também a<i> </i>conhecida escritora de contos e histórias para a infância, Alice
Vieira, refere:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 42.55pt; text-align: justify; text-indent: -42.55pt;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">«Pode haver coisa
mais bonita do que ouvir uma estória ao colo da mãe, do pai ou da avó? É como
se as crianças pensassem: – “Há bruxas e papões mas eu estou segura, tenho quem
olhe por mim”. É isto que eu chamo de “medo necessário”, um sentimento positivo
que só faz bem à criança. O mal não é existirem bruxas nas histórias. É, sim, o
de poucas mães ou avós terem tempo de as contar.»</span></i></b><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Percorramos todos aqueles velhos contos
que nos foram tão generosamente legados pela tradição dos séculos e, por toda a
parte, se conseguirmos reter em nós o olhar perspicaz e pleno de confiança e
inofensividade da criança, descobriremos os Sentidos da Vida, descobriremos a <i>Palavra Perdida</i>...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> O homem de hoje, tal como o homem de
ontem, busca qualquer coisa – chamemos-lhe Realidade, Verdade, Deus,
Felicidade, Sentido para a Vida...–, e tem-na procurado desde as mais remotas
idades e em todas as Civilizações e Culturas. Aquela <i>Palavra Perdida </i> que a
Humanidade incansavelmente procura deverá encontrar-se, sem dúvida, incluída em
todos os mitos, em todas as fábulas, em todos os <i>contos de encantar</i> que a própria humanidade murmura para si mesma,
há incontáveis séculos, se não milénios, tal como uma avozinha a contar
histórias maravilhosas aos seus netos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> E a criança aqui é um elemento-chave
fundamental, pois tradicionalmente se considera ser preciso possuir o espírito
de uma criança para conceber e para conhecer a Verdade encerrada em todos esses
mitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Fazemos hoje ressurgir os contos de
encantar, compilamo-los, reeditamo-los, estudamo-los e discutimo-los de novo. E
contudo, eles são tão antigos quanto o próprio ser humano. Não terá este
ressurgimento, este renascimento cultural, que ver com todo um complexo
aparelho psicológico de defesa do ser humano? Não estará a nossa sociedade, tal
como a concebemos, a desestruturar-se nas suas fundações? Não estará um futuro
desenraizado a desenhar-se à nossa frente? Não estarão as diferentes linguagens
modernas – qual enorme nova Torre de Babel – incapacitadas para darem resposta
aos novos desafios, que constantemente surgem diante dos homens, e
incapacitadas para responderem aos anseios mais interiores e perenes da
humanidade?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> É muito possível que uma das respostas
nos seja dada mais ou menos indirectamente pelos contos, mais concretamente
pelo acto de contar um conto, através da RELAÇÃO verdadeiramente humana que se
estabelece nesse momento entre os seres envolvidos na acção. Uma relação onde
impera principalmente a afeição, a partilha de um mistério, o amor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> A relação que tradicionalmente se
estabelece entre o contador de contos e os ouvintes – crianças, quase sempre –
não poderá ser provocada, forçada, com objectivos artificiais, terá que fluir
sem escolhos de qualquer espécie, terá de acontecer naturalmente, terá que
brotar espontaneamente, de dentro para fora, e ir ao encontro do OUTRO. E
porque o sentimento dominante é a afeição, o estar e o ser traduzem-se pela
disponibilidade de contar e de escutar, daqui resultando um ganho interior em
sensibilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> O acto de contar um conto nos tempos
remotos das nossas memórias acontecia naturalmente, tanto quanto o desabrochar
de uma flor ou o colher de um fruto maduro... acontecia e era um momento vivido
como se fosse uma verdadeira dádiva dos deuses... quaisquer que eles fossem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> A importância de um Sentido para a Vida
era nesse acto transmitido e apreendido cabalmente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> A
dimensão universal das histórias de encantar tem uma correspondência directa
com a verdade universal da nossa natureza humana enquanto legado comum. Em
comum possuem aquela dinâmica universal resultante da eterna luta entre o bem e
o mal, a guerra e a paz, a vida e a morte, a tolerância e a crueldade, a
honestidade e a corrupção, a verdade e a mentira, a luz e a sombra....<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Ao atentarmos à actual sociedade moderna
onde nos inserimos, poderemos ver que ela gera elementos desestruturantes, no
sentido de não permitir a disponibilidade necessária para os homens, as
mulheres e as crianças viverem, enquanto indivíduos, a Unidade de Vida
veiculada por aquela mensagem arquetípica dos <i>contos de encantar</i>. Não esqueçamos, contudo, que em muitas
histórias sobre a Criação e sobre Cosmogonias, a origem de tudo é descrita como
um estado de Unicidade ou de Unidade, do qual emergem – e para o qual voltarão
– os incontáveis seres e coisas deste mundo fenoménico manifestado. Essa
Unicidade é também o coração de tudo; é o <i>nosso
</i>SER mais profundo...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Assim, o<i> homem moderno</i> terá de encontrar uma perspectiva diferente sobre os
<i>contos de encantar</i> tradicionais, ou
com o maravilhoso que é parte integrante de nós e nos rodeia permanentemente,
mas perdemos a pureza do olhar e do gesto, e não conseguimos vê-lo. Contudo, há
o outro lado do espelho, e há que descobrir o segredo da passagem e conseguir
viver aquém e além da <i>fronteira</i> do
espelho, símbolo do símbolo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Recordemos Victor Hugo quando afirma
que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">«É no interior de
nós próprios que é preciso olhar o exterior. O profundo espelho sombrio
encontra-se dentro do homem. É lá que está o claro-escuro terrível... </span></i></b><b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">[sem sombra]<i> Ao debruçar-nos sobre este poço, nós aí apercebemos a uma distância
abismal, num círculo estreito, o mundo imenso...».</i></span></b><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span></i></b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Não será o poço aqui referido o próprio ser humano? Não
obstante, no conto de fadas, o poço representar a abertura de acesso ao mundo
subterrâneo, onde se encontram as águas purificadoras das profundezas, onde
está oculta a <i>Pedra Filosofal</i> dos
antigos Alquimistas…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> E termino a <i>contar um conto de encantar</i>, recriado admiravelmente por Fernando
Pessoa [</span><i>Poesias</i> , Colecção
‘Poesia’, Lisboa, 1942 (pp.239-241)<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">],
que o denominou <b><i>EROS E PSIQUE</i> :<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> <o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 108.0pt; text-align: justify; text-indent: 36.0pt;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Conta a lenda que dormia<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Uma
Princesa encantada<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> A
quem só despertaria<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Um
Infante, que viria<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> De
além do muro da estrada.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Ele
tinha que, tentado,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Vencer
o mal e o bem,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Antes
que, já libertado,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Deixasse
o caminho errado<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Por
o que à Princesa vem.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> A
Princesa Adormecida,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Se
espera, dormindo espera.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Sonha
em morte a sua vida,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> E
orna-lhe a fronte esquecida,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Verde,
uma grinalda de hera.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Longe
o Infante, esforçado,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Sem
saber que intuito tem,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Rompe
o caminho fadado.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Ele
dela é ignorado.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Ela
para ele é ninguém.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Mas
cada um cumpre o Destino–<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Ela
dormindo encantada,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Ele
buscando-a sem tino<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Pelo
processo divino<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Que
faz existir a estrada.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> E,
se bem que seja obscuro<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Tudo
pela estrada fora,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> E
falso, ele vem seguro,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> E,
vencendo estrada e muro,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Chega
onde em sono ela mora.<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> E,
inda tonto do que houvera,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> À
cabeça, em maresia,<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Ergue
a mão, e encontra hera<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> E
vê que ele mesmo era<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> </span><b><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">A Princesa que
dormia.»</span></i></b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">´<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Rui Arimateia <o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
rui.arimateia@gmail.com</div>
<br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/rui/Desktop/ERA%20UMA%20VEZ_Contar%20e%20Recontar%20o%20Conto%20Tradicional%20RUI%20ARIMATEIA.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> </div>
</div>
</div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-19781087105749844982013-06-15T11:27:00.001+01:002013-06-15T11:27:30.972+01:00Túlio Espanca - 1913-2013<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglbsXv3Rr2vXLKzedj4eyQDR15vKPlS026vA4SeM7LNqGoXbqbtrKG0la8W5Iml3-Kq3f_XyWxuivVYXHjl8UMXsfJdFqgp1veCOV2nfwCFktkNJvT8rfqH97oDXvayRzWStAkuk_yJwx7/s1600/Espanca+Se+Evora_Abril+1982.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglbsXv3Rr2vXLKzedj4eyQDR15vKPlS026vA4SeM7LNqGoXbqbtrKG0la8W5Iml3-Kq3f_XyWxuivVYXHjl8UMXsfJdFqgp1veCOV2nfwCFktkNJvT8rfqH97oDXvayRzWStAkuk_yJwx7/s320/Espanca+Se+Evora_Abril+1982.JPG" width="228" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-9199540522458249432013-06-15T11:24:00.003+01:002013-06-15T11:24:38.239+01:00IN MEMORIAM TÚLIO ESPANCA – ÉVORA, MAIO DE 2013
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Fez
no dia 3 de Maio vinte anos que Túlio Espanca deixou fisicamente de conviver
connosco. Contudo, a sua Obra e a sua Presença por esta Évora nos alvores do
III Milénio, perdura.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Por
outro lado, comemorou-se a 8 de Maio o Centenário do seu Nascimento.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Para
quem com ele conviveu de perto, a sua memória continua viva. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Para
falar um pouco sobre Túlio Espanca, para o apresentar às gerações mais novas e
que não tiveram o privilégio de privar com ele, não basta dizer para lerem a
sua imensa Obra escrita! É importante falar sobre a sua própria pessoa: sobre a
sua postura inconfundível, o seu sorriso, o seu olhar, a sua disponibilidade em
ensinar sobre a História de Évora e do Alentejo. Importa falar da sua
sensibilidade artística e humana. Falar da sua capacidade de encantar através
da palavra e da escrita. Encantar o cidadão comum pela oralidade, assim como
encantar o erudito pela sua escrita competente e rebuscada. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Mas
afinal quem era Túlio Espanca? Como se formou? Quem o formou? De onde, de que,
para quê e para quem falava e escrevia? A quem se dirigia?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">São
questões que, em parte, todos quantos o conheceram de perto saberão responder.
Contudo estão ainda por desocultar muitas facetas daquele que foi, por
excelência, o inventariador da História da Arte do Alentejo<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Túlio
Espanca, se ainda estivesse fisicamente entre nós teria completado no passado
dia 8 de Maio 100 anos de idade. O que quer dizer que, durante praticamente os
seus oitenta anos de vida atravessou e viveu diferentes tempos históricos,
culturais e sociais por que passou a Sociedade Portuguesa. Formou a sua
personalidade base durante os conturbados tempos dos finais da 1.ª República.
Viveu os dramáticos tempos das duas Guerras Mundiais. Desenvolveu a sua formação
intelectual durante todo o período do Estado Novo. Não era, importa dizer, um
simpatizante do antigo regime de Salazar, embora parte significativa da sua
obra se tivesse desenvolvido nesses tempos difíceis para um homem da sua
sensibilidade e postura perante a vida e a sociedade. Viveu intensamente o dia
25 de Abril de 1974, com o reaparecimento da Democracia e da Liberdade em
Portugal.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Em
Julho de 1940, Túlio Espanca foi nomeado «cicerone» da Comissão Municipal de
Turismo de Évora, tinha sido o melhor classificado no curso de «cicerones»
organizado no ano anterior pelo Grupo Pro-Évora. A partir desta altura, a
presença de Túlio Espanca era praticamente obrigatória em qualquer visita à
Cidade de Évora. Não só de eminentes personalidades visitantes da Cidade, como
por exemplo, a da Rainha Mãe da Bélgica em Janeiro de 1947, e a do Presidente
da República General Francisco Higino Craveiro Lopes a 29 de Junho de 1952.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Em
Janeiro de 1943, Túlio Espanca acompanhou, numa visita à Sé e ao Museu
Regional, o Director do Museu de Arte Antiga, Dr. João Couto. Anos mais tarde,
a 15 de Maio de 1948, e por iniciativa deste, foi lida na Academia Nacional de
Belas Artes em Lisboa um trabalho de Túlio Espanca intitulado “Pintores em
Évora nos Séculos XVI e XVII”, sendo posteriormente publicado no Boletim “A
Cidade de Évora” n.º 15-16 do mesmo ano. Este trabalho e a publicação regular
do Boletim “A Cidade de Évora” – de que foi Editor deste o primeiro número até
à data da sua morte – foi causa de notoriedade por parte de importantes
personalidades ligadas à História e à Arte e que anos mais tarde culminaria com
o convite a Túlio Espanca para ser o compilador e organizador dos Inventários
Artísticos do Concelho e Distrito de Évora e, já nos anos 80 do Distrito de
Beja.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Já
nos anos 60, e por proposta do Arquitecto Raul David, Presidente da Comissão
Municipal de Turismo, em sessão de Câmara de 1 de Outubro de 1964, organizou-se
um ciclo de Visitas Guiadas aos principais monumentos artísticos da cidade e do
seu aro suburbano, orientado pelo crítico de arte Túlio Espanca. Este Ciclo de
Visitas Guiadas teve uma periodicidade anual praticamente até aos finais dos
anos 80, com algumas interrupções, mas sempre muito concorrido por gentes de
toda a condição social e intelectual, que acorriam para melhor conhecerem a
Cidade através dos olhos e da palavra de Mestre Espanca. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;"> Túlio Espanca foi um
erudito local que teve dois grandes enquadramentos institucionais ao longo da
sua carreira: o Grupo Pro-Évora e a Câmara Municipal de Évora, nomeadamente a
Comissão Municipal de Turismo, tendo sempre como pano de fundo a investigação
sobre Évora e sobre o Alentejo.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Haverá
que continuar a estudar e a trabalhar a personalidade e a Obra de Túlio
Espanca, figura ímpar da nossa Memória e da nossa História, responsável pela
desocultação e posterior publicação e divulgação de incontáveis documentos, de
factos históricos, de memórias há muito esquecidas, verdadeiro <i>operário da
escrita</i> e co-responsável pela preservação da Cidade de Évora, das suas
ambiências histórico-culturais, a par com o Grupo Pro-Évora e com o Município
Eborense, cujo corolário foi a Classificação de Évora como Património Mundial
pela UNESCO em 25 de Novembro de 1986.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Mas,
falemos um pouco mais desta extraordinária personagem.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Túlio
Espanca foi uma personalidade ilustríssima da Cultura e da História portuguesas
do Século XX,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Túlio Espanca nasceu em
Vila Viçosa no dia 8 de Maio de 1913. Vem aos sete anos viver para a Cidade de
Évora, que adoptou e pela qual foi adoptado, transformando-se, por assim dizer,
no mais cidadão dos cidadãos eborenses.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Homem
dos sete ofícios, foi operário corticeiro na Rua das Alcaçarias, foi aprendiz
de chapeleiro à Porta Nova, foi aprendiz e mestre de barbeiro na Rua de Aviz e
na Praça do Giraldo, foi militar voluntário, foi desenhador durante o tempo da
tropa, foi músico na Academia dos Amadores de Música Eborense, foi cicerone dos
monumentos de Évora da Comissão Municipal de Turismo, foi historiador –
historiógrafo, como ele se apressava a corrigir – foi, enfim o comunicador nato
que todos quantos privaram com ele poderão ainda recordar e testemunhar com
saudade e alguma nostalgia.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Ninguém
como o Senhor Espanca, como nos acostumámos a tratá-lo, sabia sobre Évora e os
seus monumentos, sobre as suas gentes e as suas histórias. <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Como
exemplo deste seu conhecimento quase enciclopédico sobre Évora, passo a referir
uma descrição que, na <i>Conta-Corrente</i>, faz Vergílio Ferreira sobre um
episódio passado em Évora, acerca da erudição famosa de Túlio Espanca:<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><br />
<div class="MsoBodyText2" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><i>«(...).
Há lá em Évora o Sr. Espanca, homem erudito das coisas eborenses que jamais
deixou sem resposta uma pergunta que lhe fizéssemos. Um dia, li na Fénix
Renascida (4 volumes) do século XVII uma referência aos excelentes vinhos de
Évora. Como no meu tempo não havia lá vinhos, caí na imprudência de falar no
caso ao Sr. Espanca. O que eu fui dizer. Inundou-me de tal forma sobre os
vinhos que ali houve outrora, que ao fim da explicação eu já me sentia quase
bêbado. A gente interrogava-o sobre uma pedra mais destacada de uma rua ou
viela e ele tinha logo uma informação abundante que metia reis e batalhas e
servidores subalternos em torno da pedra em questão. Nós sonhámos o sonho
impossível de o encavacarmos com uma pergunta impertinente a que não soubesse
responder. Até que um dia o Infante lhe pôs esta questão:<o:p></o:p></i></span></span></div>
<i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– Senhor Espanca: qual é a diferença
entre as arruelas e os besantes?<o:p></o:p></span></i><br />
<i><span style="color: #ff6600; font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> <span style="color: black;">- </span></span></span></i><i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">São duas rodelas,
dizia, absolutamente iguais com o feitio de queijinhos de cabra. Espanca
encordoou. Não sabia. Foi um dia glorioso para nós. Espanca, afinal, não era em
tudo divino. Tinha as suas ignorâncias mortais.»<o:p></o:p></span></i><br />
<i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></i><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="mso-bidi-font-style: italic;">[<i>in </i></span>VERGÍLIO FERREIRA – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">conta-corrente 3</i>, Livraria Bertrand, Lisboa,1983 (passagem
referente ao ano de <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">1981 </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">– </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">15
de Março (domingo)</i><span style="mso-bidi-font-style: italic;">,</span> às
págs.277-278).]<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt; mso-bidi-font-style: italic;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Folheemos
as suas obras e lá veremos referências à Sé e ao Templo Romano, ao Museu e aos
Conventos, às Igrejas e Ermidas, aos Palácios e às Casas Senhoriais assim como
aos seus recheios artísticos, às Ruas e à Toponímia, mas também aos episódios
pitorescos acontecidos ao longo dos anos, descritos nas centenas e centenas de
obras e de documentos que ao longo da sua vida consultou, leu e releu, que
editou – os Inventários Artísticos de Évora e de Beja, o Boletim "A Cidade
de Évora", os "Cadernos de História e Arte Eborense", etc.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">A
extensa obra escrita que nos legou é qualquer coisa de fenomenal, de grandioso.
Recordemos que as habilitações literárias de base de Túlio Espanca ficavam-se
pela antiga 4ª Classe da Instrução Primária do seu tempo de menino. Mas, que
lições ele dava a professores universitários que amiúde passavam por Évora
aquando das suas pesquisas sobre a História da Arte ou sobre a História de
Portugal.<o:p></o:p></span></div>
C<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">omo
testemunhos registados deste facto atentemos às palavras de Santos Simões num
artigo publicado no Boletim “A Cidade de Évora”, sob o título “Alguns Azulejos
de Évora”, onde, a certa altura refere, no texto inicial de apresentação do
artigo: <o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">«(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Antes
de passar à frialdade descritiva desejo patentear aqui o meu mais sincero
reconhecimento pelo valioso concurso recebido da Comissão Municipal de Turismo
de Évora para a minha investigação, muito principalmente aos Ex.<sup>mos</sup>
Snr. Dr. António Bartolomeu Gromicho – cujo amável acolhimento foi o principal
incentivo para o prosseguimento do trabalho – e Snr. Túlio Espanca, companheiro
constante e competentissimo piloto nêsse<span style="mso-spacerun: yes;">
</span></span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">mare
magnum<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> que é a Cidade de Évora.<o:p></o:p></i></span><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tomar, Outubro<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-bidi-font-weight: bold;">1943</span>.<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>João dos Santos Simões»<o:p></o:p></span></i><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>[<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">in</span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«A Cidade de Évora», n.º5, Dezembro de 1943
(pág.4).]<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Recordemos,
pela sua singularidade e grande importância cultural, as celebérrimas Visitas
Guiadas, realizadas durante décadas aos sábados de tarde, a que ocorriam
incontáveis interessados e curiosos, eborenses e não só, que iam literalmente
beber as palavras de Mestre Espanca: desde a dona de casa ao senhor professor
do liceu, desde o estudante até ao funcionário público…, todos escutávamos com
enlevo as vividas descrições do assalto ao castelo de Évora durante a crise de
1383-85, ou então outras descrições que sobre o mesmo período Fernão Lopes nos
deixou nas suas Crónicas e que Mestre Espanca tão bem enquadrava e citava, de
cor, ou então as vindas da Corte, dos Infantes e da Nobreza para Évora e da sua
permanência, ou então falava-nos daquele pormenor da pequena imagem de um
Menino Jesus que teria sido oferecido ao Convento do Paraíso por uma dama da
alta nobreza que... e ia por aí fora e o tempo passava e passava e quase não
dávamos por ele passar, ficava tão só a voz de Espanca e Évora e mais Évora, e
História<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e Arte...<span style="mso-bidi-font-style: italic;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; mso-bidi-font-style: italic;">A propósito das Visitas Guiadas à cidade podemos
ler no semanário “A Defesa”, na sua edição de 31 de Maio de 1947, à pág. 4, no
artigo de actualidade “Vida Civil – III Curso de Cicerones Eborenses”:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">«(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<span style="color: windowtext; font-family: "Lucida Sans Unicode";"><em><span style="font-size: x-small;">A lição de amanhã será dada sobre os Loios, S. Antão, Santa
Clara e Mercês, pelo sr. Túlio Espanca, informador oficial da Comissão de
Turismo e primeiro diplomado do I Curso de Cicerones Eborenses. (...).»<o:p></o:p></span></em></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">E,
sobre o mesmo assunto, no jornal local diário “Notícias d’Évora”, de 3 de Junho
do mesmo ano, à pág.1, inserido no artigo intitulado “III Curso de Cicerones
Eborenses”:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">«(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Continuando
esta iniciativa do Grupo Pró-Évora, realisou se, no passado domingo, dia 1, a
sua 5.ª lição.<o:p></o:p></span></i><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Pelas
15 horas, cerca de 60 pessoas, reunidas no adro da Igreja de S. João
Evangelista (Loios), visitaram este monumento, acompanhadas pelo sr. Tulio
Espanca, que lhes ia fornecendo as necessárias e curiosas explicações.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Percorridas
as dependências e o claustro do antigo convento, os assistentes deslocaram se
depois, á Igreja de St.º Antão, longamente pormenorizada e admirada.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Seguiram-se as
antigas igrejas de Santa Clara e das Mercês, terminando a lição junto do
Palácio de D. Manuel, no Jardim Público.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Todos
os presentes se confessaram encantados, com o que, de curioso e interessante,
lhes fora dado a admirar, nesta larga visita de estudo e prazer espiritual,
pela arte e valores que a revestiram de princípio ao fim, uma profusão de
apontamentos em datas e referências históricas, reveladoras do profundo
conhecimento, saber e competência do sr. Túlio Espanca.<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">(...).»<o:p></o:p></span></i><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Túlio
Espanca esteve ligado, desde a sua génese, aos famosos ciclos de visitas
guiadas á cidade, foi ele o garante da continuidade das visitas que chegaram
até aos anos 80, com uma frescura e uma eloquência que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a todos encantava e a todos instruía de modo
exemplar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">A
própria edilidade recebeu no seu quadro de funcionários Túlio Espanca,
compreendendo na altura o importante papel cívico e educativo que representava
esta iniciativa, instituindo os ciclos de visitas guiadas pelo historiógrafo,
conforme se pode confirmar por notícia impressa no Boletim Oficial da Comissão
Municipal de Turismo “A Cidade de Évora”, n.º 47, às págs. 227-228 e intitulado
“As Visitas Guiadas e a Cidade de Évora”:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>«(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Segundo
proposta do arquitecto Raul David, Presidente da Comissão de Turismo, em sessão
camarária de 1 de Outubro de <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">1964,</span>
imediatamente patrocinada pela edilidade Municipal de Évora, realizou-se, com
início em Outubro de 1964 e conclusão em Junho de ano seguinte, um curso livre
de história local, constituído por um ciclo de </span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">26 Visitas Guiadas<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> aos principais monumentos artísticos da
cidade e do seu aro suburbano, que foi orientado pelo crítico de Arte Túlio
Espanca.»<o:p></o:p></i></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Poderá
muito justamente dizer-se que Túlio Espanca foi o Autor que mais contribuiu
para a divulgação do Património Cultural de Évora e do Alentejo, e
consequentemente para a Classificação desta Cidade como Património Mundial,
pela UNESCO, em 25 de Novembro de 1986.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;"> A par de ilustres
figuras tais como Joaquim Augusto Câmara Manuel, Armando Nobre de Gusmão,
Jerónimo de Alcântara Guerreiro, Júlio César Baptista, José Filipe Mendeiros,
Mário Tavares Chicó, João António Rosa, Manuel Carvalho Moniz, António Silva
Godinho, Celestino David, Henrique da Silva Louro, António Bartolomeu Gromicho
e muitos outros que seria fastidioso citar, Túlio Espanca destacou-se como
sendo um erudito local, seu contemporâneo, e que desempenhou um papel
fundamental na procura e na caracterização de uma imagem para Évora e para o Alentejo,
nomeadamente a partir dos anos de 1940, altura em que inicia o trabalho como
guia intérprete na Comissão Municipal de Turismo, e altura em que trabalha os
Arquivos Históricos da Câmara Municipal de Évora, realizando um hercúleo
trabalho de sistematização, leitura e inventariação de documentos históricos
que lhe viriam a permitir compreender e trabalhar na sua globalidade a História
da Cidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Refere-se-lhe
o Prof. Dr. Vítor Serrão:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">«Túlio Espanca foi
um dos grandes historiadores da arte portuguesa de sempre, o nosso mais
acertado inventariante do acervo patrimonial, e grande homem dos valores do
espírito e da cultura viva.»</span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">
<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span>[<i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">in</span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"> “A Cidade de Évora”, II Série, N.º1,
1994-95, pág. 39.]<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;"><o:p> </o:p></span><span style="color: windowtext;"><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;">Contudo o seu
interesse pela História e pela Arte aparece muito cedo, nomeadamente através da
influência de seu tio paterno João Maria Espanca, negociador de antiguidades em
Vila Viçosa e que frequentemente lhe emprestaria livros sobretudo de Arte e de
História.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: windowtext;"><o:p><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;"> </span></o:p></span><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;">Como já atrás foi dito, o interesse de Túlio
Espanca pela História e Arte Eborenses não se inicia com a sua frequência do I
Curso de Cicerones organizado pelo Grupo Pro-Évora no ano de 1939.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Túlio
Espanca deixou-nos uma colecção de memórias manuscritas, assim como um conjunto
de criações literárias da época da sua juventude, escritas entre os finais dos
anos 20 e os anos 40, altura em que iniciou a sua actividade profissional como
Guia Intérprete da Comissão Municipal de Turismo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="color: #ff6600;"><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Temos
notícia dele próprio “editar” originais, manuscritos e desenhados, que
partilhava com os amigos e camaradas de brincadeiras e aventuras, onde o texto
e os desenhos se articulavam com um estilo dinâmico e revelador de leituras que
exigiam uma preocupação não meramente de passatempo mas de instrução e
aprendizagem. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Túlio
Espanca deixou escrito nos seus "Diários", importantes referências
para conhecermos o ambiente sociocultural de Évora da primeira metade do século
XX. Refiramos a existência de diversos cadernos datados entre 1930 e 1940, onde
nos descreve as suas aventuras juvenis; onde nos faz descrições de Évora e dos
seus monumentos; onde nos apresenta em traços vividos as principais
manifestações cívicas, públicas, militares e políticas do seu tempo. Faz-nos
igualmente o retracto das suas relações familiares; dos seus namoricos; dos
desportos e jogos que praticava; das suas viagens; descreve-nos os cinemas e os
teatros, as festas e as romarias que presenciava e frequentava; fala-nos da sua
vida como militar voluntário e como músico amador na Escola dos Amadores de
Música Eborense. Tempos de intensa relação de sociabilidade.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Interessante
será termos em conta algumas passagens dos escritos que Túlio Espanca nos
deixou nos seus “Diários”:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">A
22 de Julho de 1931, durante a sua passagem pelo Serviço Militar, como
voluntário, refere: </span><i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">«Estive a terças (leite) o que me poz
em maior estado de debilidade. Deram entrada na mesma enfermaria dois doentes
do meu regimento. / Sob a dolorosa estadia neste execrando hospital escrevi uma
curta narrativa mais realista e empolgante do que socialmente verídica;
encontrando-se incluída na Cartuxa Silenciosa ou Misterios dum Convento...»</span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">
</span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Apontamentos
referentes aos dias 26 e 28 de Maio de 1935, aquando de umas festas realizadas
na Escola Primária de S. Mamede: </span><i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">«Evocar páginas de
S. Mamede, é sentir a nostalgia aguda da saudade invadir o meu coração e minh’alma.
/ Amo tanto as lembranças infantis que vertiginosas perpassam em cavalgadas de
sonho ante a minha memoria... hó amo tanto a época inegualável da Escola!.»</span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Túlio Espanca foi extremamente motivado pelos seus tempos de Escola, daí
que nunca tenha deixado de escrever, de ler, de exercitar a palavra escrita até
ao extremo de, nos primeiros cadernos dos seus “Diários”, ele escrever uma
primeira passagem a lápis e posteriormente passar todo o texto a tinta, e são
centenas de páginas manuscritas.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">No
dia 16 de Dezembro de 1935, a propósito das suas influências literárias, Túlio
Espanca escreve: </span><i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">«Muito jovem ainda, naquéla infancia
que as leituras romanêscas de Conan-Coyle, Arnoud Galopim ou Michél
Zévaco,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nos prendem completamente, nos
ofuscam os sentidos e o nosso maior prazêr é antegosar a imitação dos heróis
semi-deuses d’aquelas obras, tentei rivalizar Passavant, Francinett ou Sherlok
Holmes, realisando apuradas peregrinações sob aguaceiros medonhos, incursões
nocturnas em locais perigosissimos, penetrações em Conventos, egrejas, fortes,
escaladas arriscadas e lutas titanicas para o triunfo coroar de glória a missão
que propuzéra cumprir. /<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Almas
românticas existem poucas e, eu, sonhador plumitico </span></i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-style: italic;">[</span>quereria Túlio Espanca dizer <i>platónico</i>?<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-style: italic;">]<i>, adorador coerente do bélo, da virtude, da
natureza inteira, como protésto de dedicação amiga, aos leais companheiros que
me auxiliaram nesta historia salutar e culta “o têrmo será ambiguo, contudo é a
expressão pura da verdade”, aqui lhes deixo tributado o meu reconhecimento. <o:p></o:p></i></span></div>
<span style="font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;">Túlio Espanca»</span></em></span><br />
<o:p> </o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Finalmente,
uma última referência, que pela sua singularidade vale a pena anotar, de
Novembro de 1930, escreve Túlio Espanca no seu Diário: <i>«</i></span><i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">DIA
23.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>Das duas horas em deante, eu,
José Fontes e Socrates, andamos vesitando uma parte da cidade nobre, como as
edificações romanas do roqueiro palacio dos Bastos; o portico renascença
adaptado ao ‘Conventinho’; a entrada do patio de S. Miguel, com as trese
arruelas brasonadas; a profanada ermida dos ‘Cavaleiros d’Evora’; as traseiras
da admiravel catedral, com a testeira da ábside em marmore, aquitectada pelo
prussiano J. F. Luduvicius, no pomposo reinado de D. João V; a sugestionante frontespício
da universidade henriquina, rodeada de claustros marmoreos; as vetustas ruelas
da idade-media que se mostram timidas e romanticas; acompanhando-mos depois, a
estrada de circunvalação, até o Rossio, ao local que antigamente denominavam do
‘Outeiro da Corredoura’. Aí, em casas novas, mas já velhas pela miseria
expoente do sofrimento, da egnomia, exprime-se o caracter dos extigmas da desolação.
Barracas entelhadas com velhas latas, ocultam o interior, duma luta simbolica
dos miseros que vivem á margem da vida. Farrapos imundos, encobrem a nudes
descarnada de mulheres mendigas, no tudismo da escoria, na união das almas. Aí
morre-se egnobilmente, atrosmente, enquanto que, a verdadeira cidade dos
monumentos, se bamboleia arrogante, na admiração dos forasteiros, que só isso
vêem e nada mais!.»<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<i><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 11pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></i><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;">Ao ouvir-se ler este texto parece que o achamos em
contradição com o que nos habituámos a ouvir a Túlio Espanca nas suas
conferências, palestras, visitas de estudo aos e sobre os monumentos de Évora.
Sente-se uma escrita de revolta e simultaneamente de denúncia, descrevendo, por
assim dizer, uma imagem negra de Évora. Olhando não só o monumento mas olhando
e mostrando preocupação por uma situação de injustiça social.</span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Lucida Sans Unicode;"> É este aspecto humano que reencontramos, ao longo
das leituras dos diários e memórias manuscritos, o saudoso e amigo Túlio
Espanca.</span></div>
<br />
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Lucida Sans Unicode;"> </span></o:p><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">São
depoimentos escritos por um jovem, na altura dos escritos com a idade
compreendida entre os 17 e os 22 anos, possuidor de reduzidíssimos estudos
académicos, demonstra um aturado trabalho de leituras e de um exercício da
escrita. É extremamente interessante acompanhar a evolução da linguagem escrita
do autor, de ano para ano, vendo nós a progressiva complexificação do
pensamento e da escrita a par de um gradual desaparecimento de erros
ortográficos e de palavras inventadas e por vezes sem nexo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Em
1990, como corolário de toda uma investigação e publicação de índole
científica, finalmente Túlio Espanca é reconhecido pelas hierarquias académicas
e o Senado da Universidade de Évora confere-lhe o título de Doutor <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Honoris Causa </i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no dia 31 de Outubro, anteriormente os seus
dotes de investigador tinham sido já reconhecidos pela Academia Portuguesa da
História, pela Fundação F.V.S. de Hamburgo (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Prémio
Europeu da Conservação dos Monumentos Históricos</i>, em Maio de 1982),<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pela Academia Nacional de Belas Artes
(atribuição da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Medalha de Mérito </i>em
Dezembro de 1982), pela Câmara Municipal de Évora (atribuição da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Medalha de Ouro da Cidade</i> em Novembro de
1982) e pela Presidência da República Portuguesa (atribuição do Grau de<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago
da<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Espada</i> em Novembro de 1982).<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><br />
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Olhando
a sua extensíssima obra percebemos que a palavra escrita é um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">continuum</i> na vida de Túlio Espanca.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">A
palavra escrita ordena, memoriza e expressa o pensamento. Túlio Espanca modelou
o seu próprio pensamento, orientando-o para as temáticas do seu interesse – a
História da Arte, Évora e o Alentejo –, escrevendo as memórias do seu
quotidiano. Através da escrita tentou compreender e dominar a realidade que o
cercava. Através da escrita tomou consciência da própria realidade,
registando-a e simultaneamente transformando-a. Com esta prática tornou-se
aquilo que sempre disse que era, assumidamente: historiógrafo.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Recordar
Túlio Espanca é dar-lhe vida. Ler a sua Obra é preservar uma Memória que
pertence a todos nós eborenses e amantes da História de Évora e do Alentejo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";">Mestre
Túlio Espanca, obrigado e... até Sempre!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"><o:p> </o:p></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Rui
Arimateia<o:p></o:p></span></b></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode"; font-size: 10pt;">Évora,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Maio de 2013.</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Lucida Sans Unicode";"> <o:p></o:p></span></b><br />
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-81881427499160385112013-06-10T22:20:00.001+01:002013-06-10T22:20:46.065+01:00A centenária Feira de São João de Évora<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF9sD1F5Uma1-a6dWuCrfp5_LW9yXq0f06GJQX_aZg-RAorxgtIrOCjAvFRoayOpCcg9bbToY69G50asdz9Lep-c8wrCl8gg3CmQSMwbyPCKrXNkV9rVf3iEAYrRJ5n1t8FRJxkQ_XCmWr/s1600/Feira+S%C3%A3o+Jo%C3%A3o+1901.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="132" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF9sD1F5Uma1-a6dWuCrfp5_LW9yXq0f06GJQX_aZg-RAorxgtIrOCjAvFRoayOpCcg9bbToY69G50asdz9Lep-c8wrCl8gg3CmQSMwbyPCKrXNkV9rVf3iEAYrRJ5n1t8FRJxkQ_XCmWr/s320/Feira+S%C3%A3o+Jo%C3%A3o+1901.JPG" width="320" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-24396717477613014912013-06-10T22:17:00.000+01:002013-06-10T22:17:54.866+01:00A Feira de São João em Évora: etnografia, história e tradição
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Évora festeja desde há muito o dia de S.
João. Deste antiquíssimo costume permaneceu principalmente a Feira de S. João,
tal como nos habituámos a chamá-la desde o momento em que juntávamos as sílabas
para tentar pelas primeiras vezes, balbuciando, a Comunicação através da
Palavra. Momento tradicionalmente grandioso para as gentes de Évora e dos
arredores, em que se faziam negócios e combinavam contratos; se compravam os
fatos, o calçado, as mantas, as louças, os queijos e até os capotes alentejanos
e as peças de fazenda; se adquiriam por atacado um nunca mais acabar de
produtos para a casa e para o seu gasto durante o ano que agora re-começava...
E para as crianças, as principais atracções eram os carrosséis e os carrinhos
de choque; as farturas ou brenhóis e o algodão doce; eram as barracas de
quinquilharias e de brinquedos; e era o Circo!...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Circo com os palhaços e os leões, os malabaristas
e os equilibristas; eram as cores e a música, eram os cheiros, eram um nunca
mais acabar de sentires e de desejos, de deslumbramento e de espantos... Era a
Feira de São João.” </i>[Rui Arimateia,<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> in
“Diário do Sul”</i>, 24 de Junho de 1997].<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 16pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">1. Curiosidades Históricas –
os antecedentes:<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Feira de Santiago</b> – criada no reinado
de D. Afonso III por carta régia, em 5 de Julho de 1275. Tendo sido
transformada em <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">feira franqueada</i></b>, a 16 de Fevereiro de 1279, por D. Dinis.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
No reinado de
D. Afonso V (1438-1481), faz-se público um <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Regimento</i></b> que determina <i style="mso-bidi-font-style: normal;">«como se devem escrever e assentar os gados
para evitar que sejam levados para Castela»</i>. Datado de 1455, esse <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Regimento</i></b>
impunha aos lavradores<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">que</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fizessem
escrever e assentar todo o seu gado</i>, em cada ano no dia de S. João.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
No reinado de
D. Manuel I, a 6 de Abril de 1501, este monarca, ouvindo o que a Câmara lhe
manda dizer por João Mendes Cicioso, responde que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">«ha por bem que façam a eleição dos almotacés por um ano somente e que
começará por S. João de 1501, em diante»</i>.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
A 22 de Abril
de 1513, o mesmo rei, manda passar um <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Alvará</i></b> nesta cidade de Évora,
dirigido ao Juiz, Vereador e Procurador de Évora, afirmando que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">«por assim sentirmos por bem e por boa
governança da cidade, havemos por bem e nos prás que de S. João em deante em
que os Oficiais novos entrarem nos ofícios desta cidade, fique sempre um dos
Vereadores do ano passado aquele que é mais antigo para servir o ano que vem
como Vereador com os dois que se elejam… no dito dia de S. João que vem , em
deante.»<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">A
primeira Feira de S. João realizou-se no Rossio de S. Brás no dia 24 de Junho
do ano de 1569.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
A 7 de
Novembro de 1574 aparece um <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Alvará</i></b> de D. Sebastião (assinado
pelo Cardeal Infante D. Henrique, seu tio), regulamentando a Feira de S. João
no Rossio de S. Brás.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
A 31 de Agosto
de 1620, o rei Filipe II, manda de Lisboa um <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Alvará</i></b> determinando <i style="mso-bidi-font-style: normal;">«que os contratos que a Câmara fizer com os
marchantes, sejam de S. João a S. João e não de Páscoa a Páscoa, como até agora
se faziam.»<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
Outras Feiras
tiveram lugar ao longo dos tempos no Rossio de São Brás, de que deixamos uma
curta relação:</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 54pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 54.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span>A Feira de Santiago, com notícia desde o reinado
de D. Afonso III, em 1275;</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 54pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 54.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span>A Feira Franqueada de D. Dinis, desde 1286;</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 54pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 54.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span>A Feira dos Pucarinhos ou das Candeias, do
reinado de D. João III, em 1525;</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 54pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 54.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span>A Feira dos Estudantes, do reinado de D.
Sebastião, em 1569;</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 54pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 54.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span>A Feira dos Ramos, desde 1839;</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 54pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 54.0pt; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span>A Feira Nova de S. Cipriano, desde 1900.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
Como sugestão
para um maior aprofundamento histórico e literário da temática da Feira de São
João de Évora sugiro a consulta do livro “As Feiras de Évora” da autoria do Dr.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Manuel Carvalho Moniz</b>, uma edição da
Câmara Municipal de Évora datada de 1997, na Colecção: “Novos Estudos
Eborenses”, n.º 1.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 16pt;">2. A Feira de São João
de Évora nos alvores do Século XX<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Feira
de tendas onde os mercadores e ofícios tinham uma importância fundamental. As
arruadas arrumavam-se pelos ofícios e mesteres tradicionais: cirgueiros, cerieiros,
curtidores de courama, mercadores de panos de cor, oleiros da loiça, ourives do
ouro e da prata, filateiros das fiações, tecelões, caldeireiros, sapateiros,
etc.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">A
movimentação na cidade nesta altura da Feira era enorme: mercadores,
barraqueiros… assim como o policiamento da cidade durante o período de duração
da Feira. Havia comboios especialmente fretados para trazerem pessoas para a Feira
– de Lisboa e das cidades do Alentejo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Era
uma Feira que se impunha em termos económicos em todo o Sul do país,
principalmente no que diz respeito ao comércio de gados. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">A
Feira de S. João era um certame fundamental enquanto instrumento de regulação
dos preços dos produtos agro-pecuários – gado, trigo, farinhas, batata, azeite,
vinho lãs, etc. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Período
igualmente importante para as Estalagens existentes na época e posteriores
Hotéis.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Durante
muitos anos Évora foi a segunda cidade do Reino, daí a importância das feiras
aqui realizadas para a economia da Região e do País.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">A
Feira de São João constituía-se enquanto a grande mostra dos produtos e das
riquezas regionais.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Os
dias mais festivos da Feira de S. João serviam como o espelho da moda de então:
as toilettes e o social.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">As
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">cabanas</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">casas de pasto</i> e os vendedores de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">droga</i> e de fruta, os queijos e os enchidos. Dentistas e pedicuros.
Todas estas actividades detinham a sua quota-parte na animação económica da
feira.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Eram
utilizadas as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">carretas</i> e os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">carros de canudo</i> alentejanos, para o
transporte de mercadorias e das famílias.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">A
Feira de S. João enquanto espaço de diversão: as touradas e as cavalhadas; os
Circos, Teatro e os Robertos; as barracas de répteis e outros <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fenómenos</i>; barracas de jogos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pim pam pum</i>; as barracas de fotógrafos e
os Museus Científicos; os Animatógrafos; as Filarmónicas Civis e as Bandas
Militares dos Regimentos. O fogo de artifício.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Contribuía
a Feira igualmente para o desenvolvimento do Teatro e da Música Filarmónica,
pois nesta época muitas Companhias e Bandas Filarmónicas se deslocavam à cidade
para apresentar as suas produções artísticas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">A
própria família real visitou o certame por duas vezes, D. Carlos de Bragança e
D. Amélia de Orleans estiveram na Feira de São João em 1889 e em 1903.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Após
1940 – o folclore e as inaugurações governamentais do Estado Novo marcaram
presença transfigurando o aspecto tradicional da feira de São João.
Re-organizou-se o terrado, apareceram as decorações ao gosto estético da época.
Realizaram-se os cortejos do Trajo dos anos 60, tendo implícita a ideologia“
imperial” do Estado Novo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Após
o 25 de Abril – o Poder Local Democrático continuou a tradicional Feira de S.
João, modernizando-a, e conferindo-lhe outras valências não só culturais mas
também económicas: os concursos gastronómicos, as propostas socioculturais, o
desenvolvimento tecnológico… Apesar de tudo a Feira de São João continuou como
espaço e tempo catárticos dos cidadãos eborenses, fundamental para o equilíbrio
funcional e emocional da sociedade eborense ao longo do restante ano de
trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div align="center" class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">*<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div align="center" class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">*<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>*<u><o:p></o:p></u></span></div>
<br />
<h5 style="margin: 12pt 0cm 3pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="font-size: 12pt; font-style: normal; font-weight: normal; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-font-weight: bold;">Neste ano de 2013 em que se comemora o Centenário do Nascimento de
Túlio Espanca, não queria deixar de partilhar a vivência deste nosso Amigo e
grande historiador de Évora e do Alentejo, dos seus tempos de juventude. Túlio
Espanca assenta praça como voluntário no Regimento de Artilharia Ligeira n.º1
em Évora no dia 25 de Fevereiro, onde permaneceu como militar até 1933, tendo
sido licenciado como cabo condutor. Apresentamos de seguida o depoimento que </span><span style="font-size: 12pt; font-style: normal; mso-bidi-font-style: italic;">Túlio
Espanca</span><span style="font-size: 12pt; font-style: normal; font-weight: normal; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-font-weight: bold;"> deixou escrito nos seus </span><span style="font-size: 12pt;"><em>Diários</em></span><span style="font-size: 12pt; font-style: normal; font-weight: normal; mso-bidi-font-style: italic; mso-bidi-font-weight: bold;">, sobre a Feira de S. João em Évora, decorrendo ano de 1931, nas entradas
referentes aos dias 19, 23 e 24 de Junho:<o:p></o:p></span></h5>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“No rossio de São Brás, armavam-se já
bastantes barracas, e a animação da tradicional feira de São João principiara.
Os esqueletos do Cine-Teatro Rentini, companhia extravagante de comedias
lofuquistas, e do velho barracão dos Três Irmãos Unidos, cujos fantoches eram
os mais afamados que corriam de terra em terra. Rufando incessantemente e
acompanhado pelos sons guturais dum realejo roufenho, mostrava-se ao começo do
campo, uma escusa barraca com pequena esplanada na frente, onde se empoleirava
um homensinho de grandes guias, bradando em altos gritos a propaganda de sua
casa de clichés de cristal, num elenco formidável, mostrando as colossais
caçadas ao leão africano, ao tigre indiano, ao elefante de Ceylão, à pantera do
Senegal, ao ypophotamo, ao urso polar, etc., etc.; as grandes viagens de Cristóvão
Colombo e a descoberta da América, a celebre travessia do Atlântico pelos
arrojados aviadores Coutinho e Cabral, a terrível batalha de Marne etc.
Cervejarias modernas, tombolas, quinquelharias, apareciam continuadamente nas
ruas da feira, assim como jogos diversos, da argola, da bola nos palhaços,
roleta, tiro ao pucarinho, ao alvo, ao canhão, ao pombo, às surpresas.
Carrousseis, defrontavam-se dois abaixo do monumento aos Mortos, de troupes
muito extravagantes.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dia 23. </i></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fui escalado para ordenança de ronda à
feira, da tarde à uma hora da madrugada, sendo oficial da mesma, o aspirante
Carrilho.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Dia 24. </i></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Entrei de cabo da guarda à cavalariça. São
João em Évora.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A feira animava-se: chegavam os circos Excelsior e Mexicano,
representando este as feras amestradas e ilariantes clowes; a sensação do homem
mais pequeno do mundo, o basar das surpresas universais etc, mas eu
(fatalidade) continuava em serviço no quartel, sem poder sair.”<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
*</div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
*<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>*</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Pela
sua actualidade de análise e de linguagem será interessante a leitura de um
artigo publicado em 1901 na Revista <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Serões”</b>,
publicada na capital, e intitulado:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<o:p><span style="font-family: Comic Sans MS;"> </span></o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt;">A FEIRA DE EVORA<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p> </o:p></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Com o volver dos tempos as feiras vão
perdendo a sua antiga importância económica. É natural a evolução. Nos
organismos sociais como nos vivos, os órgãos sofrem as modificações
correlativas à intensidade dos eu exercício, desenvolvendo-se ou atrofiando-se
consoante o predomínio da função que desempenham; outras vezes por adaptações
sucessivas aos meios novos de existência, de sua natureza também variáveis, os
órgãos transformam-se tão profundamente que na aparência se torna difícil
estabelecer-lhes a derivação. As feiras obedeceram às leis gerais. A mais
simples observação descobre a verdade banal do conceito. Em passadas épocas,
quando a carência ou a dificuldade de comunicações e de transportes interrompia
a circulação necessária dos produtos agrícolas e industriais, onerava de
despesas e riscos a deslocação, quando a intensidade do movimento comercial não
atingia a aceleração febril que hoje o domina, quando a especulação inteligente
e produtiva não acendia disputas de concorrência tão calorosas como as que
actualmente aquecem a vida económica universal, nem se feriam batalhas de tão
numerosos combatentes a disputar primazias ou preponderâncias decisivas na
conquista das riquezas, como as que a cada momento agora abalam o mundo dos
negócios; era evidente que as feiras representavam uma acção muito importante
na economia, eram órgãos de principalíssimas funções. Claro está também que a
meio tão diverso do antigo, a nova condições e circunstâncias, as feiras
transformaram-se radicalmente, multiplicaram-se, generalizaram-se nos mercados
especiais, de periódicas que eram tornaram-se permanentes. E, curioso aspecto
de regressão atávica, tendo principiado por serem festas, adquirindo depois
conjuntamente as funções utilitárias de mercados, vão hoje outra vez
restringindo-se à sua primitiva feição espectaculosa, à medida que perdem a
importância comercial. Junto dos grandes centros de população a mudança é
completa, embora as feiras vão lutando sempre pela vida, buscando alento na
tradição, que nos mecanismos sociais representa o benefício de volante,
vencedor dos pontos mortos e regularizador do movimento. Basta recordar para
confirmação do asserto as diversas fases por que foram passando nestes últimos
vinte ou trinta anos as memoráveis feiras de Belém ou do Campo Grande em volta
de Lisboa. E ainda, esta regressão tão característica é que mesmo na história
das exposições internacionais ou universais, desde a primeira de Londres à mais
recente de Paris, essas grandes feiras da indústria e do comércio modernos, se
reconhece o caminhar apressado para a festa espectaculosa e deslumbradora que a
crítica económica aprecia severamente; porque na verdade, em obediência às leis
gerais da vida, as exposições também se diluíram, se parcelaram, se
subdividiram e se tornaram permanentes no mercado universal.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Todavia como preenchem funções
indispensáveis, as feiras subsistem onde ainda as necessidades comerciais e o
maior ou menor desenvolvimento do meio económico exigem o exercício daqueles
órgãos. No nosso país ainda há anualmente feiras duma importância considerável,
embora atenuada em comparação com períodos anteriores. Andam quase sempre
ligadas às comemorações religiosas que constituíam em antigos tempos o
calendário do povo, mnemónica tradicional de fácil uso; realizam-se por isso,
conforme as localidades e segundo os objectos especiais a que se dedicam, pelas
festas do Espírito Santo, pelo S. João, pelo S. Mateus, ou pelo S. Miguel, em
elucidativa correlação dos trabalhos da lavoura com as épocas do ano, em
enumeração cronológica ou em compreensivo registo de contratos e de
vencimentos.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Entre as feiras
actuais, a de Évora pelo S. João é ainda uma das mais importantes do país, não
obstante a diversão casual e festiva substituir já em grande parte a actividade
de transacções que outrora nela se realizavam. Feira de lãs, reguladora de
preços para a estação; feira de gado e de artigos de lavoura; enorme mercado de
utensílios domésticos e de fornecimentos caseiros; exibição característica,
pitoresca de costumes alentejanos, de aspectos de vida provincial, tão
fortemente acentuada no nosso país, e tão desastradamente comprimida pela
centralização administrativa, absorvente, niveladora, geométrica na disposição,
nos preceitos e nos processos.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A feira chama à cidade
uma concorrência extraordinária, curiosa capital das regiões de além rio, do
sul do país, como o Porto é do norte, e anima a vida normalmente concentrada,
monótona, pouco exterior das suas ruas e das suas praças, tão pouco
denunciadoras da riqueza que ela encerra ou representa. No vasto rossio
alinham-se as barracas e as fileiras abundantemente fornecidas dos diversos
objectos para venda. Ao fundo, junto da orla do arvoredo acumulam-se num ele-mêle
indescritível os carros, os animais, e os homens, onde vivem durante os dias de
feira, porque o carro alentejano com sua cobertura característica de lona
branca, para defesa das ardências do sol no estio e dos ventos gelados no
inverno, constante confirmação da ciência pelo uso, das teorias da reflexão e
da emissão do calor segundo as cores pela experiência dos séculos, o carro
serve de casa, de leito, de hospedaria volante nas longas jornadas através das
extensas charnecas da província. Mais além agrupam-se os animais para venda, as
muares e os burros, os bois e os cavalos, das raças próprias da região ou
mescladas das importadas de Espanha. Aqui lavradores entendidos, alquiladores
de profissão examinam atentamente, debatem, numa técnica de difícil compreensão
para profanos, as qualidades e os méritos duma bela parelha de muares
resistentes, ou dum cavalo do tipo Alter ou do tipo luso-andaluz na sua
variedade alentejana, elegante e graciosa à vista apesar das modificações que
tem experimentado na grossura dos membros, crinas abundantes, finas, ondeadas,
orelhas espertas, estreitas, bem plantadas na cabeça seca e longa. Acolá, sob a
tenda formada com o auxílio do carro que se transformou em loja de bebidas,
senão em casa de pasto, fecham-se transacções avultadas, contam-se maços de
notas, onde há anos se ouvia em contagem rápida o metálico som do ouro em
libras a transbordar de bolsas de couro bem providas. Lá em cima, regulam-se as
compras de lãs dos barros, avalia-se o rendimento utilizável na indústria,
separam-se as categorias de aplicação. Além, naquele terreiro, apresentam-se os
sofredores, e sóbrios burros, resignados apesar da sua teimosia, aptos para
todos os serviços de lavoura, prestáveis a todos os transportes.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Assim se vai passando em revista na vasta
feira d’Évora toda a casta de animais agrícolas e todos dos produtos que dos
montes e as herdades do distrito, e mesmo da região sul, acodem àquele
tradicional mercado, conjuntamente com os pandeiros e adufes onde em
acompanhamento monótono de reminiscências mouriscas se percute o ritmo das
canções campesinas ao S. João, dolentes e arrastadas; e destes variados
aspectos se dá ideia geral nas fotografias documentais que acompanham estas
linhas descritivas.”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></i>[<i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i> “<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Serões</i></b>”, s/a,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Revista mensal ilustrada, Vol. 1, Nº 4, Lisboa,
Julho de 1901, págs. 251-253]<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 16pt;">3. A Etnografia e a Feira
de São João de Évora <o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 16pt;"><o:p> </o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">De trabalho anterior de minha autoria,
publicado no “Diário do Sul” <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>na edição
do dia 24 de Junho de 1997, retiro alguns excertos sobre o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“São João de Évora e a Tradição”</i>:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
«…/…</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
Passando muito
rapidamente pela tradição etnográfica portuguesa, verificamos que as Festas de
São João constituem tradicionalmente a reminiscência de antiquíssimo rito
pagão, muito anterior ao cristianismo que, tal como muitos outros, a Igreja
assimilou à sua própria liturgia – constituem aquelas festas, na verdade, a
adaptação cristã do longínquo culto do fogo através do qual os povos primitivos
acompanhavam e celebravam a evolução solar ao longo das estações do ano. Neste
caso, assinalavam com enormes fogueiras a passagem do solstício de Verão, em
que o Sol atinge o seu máximo esplendor, e daí que o São João se celebre a 24
de Junho, com a abundância de fogueiras e folguedos à sua volta.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 36pt;">
<span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Podemos ler no jornal eborense <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Sul”</i></b>, datado de 22 de Junho de
1882:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>«Diz a<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>tradicção que o santo popular costumava festejar o seu dia com tal
estrondo, com tão ruidosas festas, que d’ahi procediam as trovoadas, que n’essa
epocha do anno nos atormentavam os ouvidos. Deus, para pôr termo a taes
excessos, condemnou-o a dormir durante os dias 23, 24 e 25, de modo que S. João
não póde festejar o seu anniversario.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Allusivas ao somno, que a tradição
menciona, conhecemos algumas quadras:<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Se
S. João bem soubera<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>quando
era o seu dia,<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>viria
do céu á terra<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>com
prazer e alegria.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Desperta,
João, desperta<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>que
já chegou o teu dia;<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>vem
ver como te festejam<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>com
prazer e alegria.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span><o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>S.
João adormeceu<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>nas
escadinhas do côro;<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>deram
as freiras com elle<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>depenicaram-no
todo.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Embora esteja condemnado a esse somno de
tres dias, S. João não deixa de revolucionar, especialmente, as cabeças das
raparigas, que na proxima noite de sexta-feira tentam a sorte, para ver se hão
de morrer solteiras ou casadas.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Estas experimentam a alcachofra, aquellas a
gema do ovo lançada no copo da agua; umas deixam ao sereno a bacia em que
mergulharam as sortes onde estão escriptos os nomes dos mais queridos do seu
coração, outras lançam á meia noite do alto das escadas o velho sapato que, se
chega ao patamar, lhes dá a triste noticia de que hão de morrer<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>solteiras, e, se fica parado em qualquer
degrau, lhes annuncia quantos annos hão de esperar pelo matrimonio.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A noite d’amanhã é, pois, anciosamente
esperada pelas que desejam saber se o escolhido do seu coração ainda estará
muito tempo sem lhes pertencer.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Até á meia noite, hora destinada para se
effectuarem taes crendices, reina o delirio dos bailes e dos descantes em volta
da fogueira: e, depois d’uma pequena paragem, proseguem até manhã clara, para á
noite reviver com o mesmo enthusiasmo.»<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sobre as festividades
do São João de Évora, refere-nos o Professor <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">José Leite de Vasconcellos</b>, por ocasião de uma sua visita à cidade,
na companhia de Gabriel Pereira no ano de 1888 [</span>José Leite de
Vasconcellos – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ensaios Ethnographicos</i>,
Vol.IV, Livraria Classica Editora, Lisboa, 1910, págs. 317-320]:</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>«(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Á hora marcada, no dia 23 de Junho,
embarcámos no Terreiro do Paço (...). Em breve cortavamos, no mais agradável
convivio, as agoas mansas do Tejo, para logo em seguida entrarmos no comboio do
Barreiro, que, através de extensas planicies, charnecas e vinhas, nos conduziu
sem incidente a Évora.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Das janellas do vagão avistavam-se ás vezes
na orla extrema do horizonte fogueiras a arder. Eram as manifestações populares
em honra do Precursor do Messias.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Quando os Moiros na
Moirama<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Festejam a S. João,<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">no
dizer da trova, não admira que nas nossas populações esteja vivo o sentimento
de respeito e veneração a elle, embora esta festa não seja de origem catholica,
e se filie em velhos cultos naturalisticos: poucas festas tem mesmo
significação tão bem conhecida e estudada.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Chegámos de noite. Na estação havia
extraordinaria agglomeração de gente á espera de forasteiros que, como nós, iam
á feira de S. João. (...).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Parte da feira tinha assento diante d’este
templo </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Symbol; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-char-type: symbol; mso-hansi-font-family: "Times New Roman"; mso-symbol-font-family: Symbol;"><span style="mso-char-type: symbol; mso-symbol-font-family: Symbol;">[</span></span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">ermida
de S. Brás</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Symbol; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-char-type: symbol; mso-hansi-font-family: "Times New Roman"; mso-symbol-font-family: Symbol;"><span style="mso-char-type: symbol; mso-symbol-font-family: Symbol;">]</span></span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Por todos os lados se erguiam barracas de
panno com botequins improvisados, tendas de quinquilharias, lojas de dôce, - e
se ouvia algazarra enorme e confusa, em que o habitante do extremo Sul do reino
misturava a sua algaravia com as pragas rudes do calão dos Ciganos.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Depois atravessámos ruas tortas e
estreitas, apesar de uma d’ellas se denominar pomposamente Rua Ancha, passámos
debaixo de arcadas, silenciosas como claustros, e installámo-nos por fim em
casa de Gabriel Pereira(...).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Apesar de ser vespera de uma grande feira
de anno e noite de S. João, o casamenteiro das velhas e gracioso galanteador
das moças, no interior de Evora não se percebia o menor ruido (...).<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A minha illusão desvaneceu-se de pressa,
porque, quando eu me preparava para dormir, começaram a passar na rua bandos de
raparigas, que cantavam ao som de adufes, em toada monotona e prolongada:<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>S. João perdeu a
capa<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>No caminho do
estudo...<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Ajuntem-se as moças todas,<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Façam-lhe uma de
velludo.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>S. João, vós sois
ôrives,<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Porque é que não
trabalhaes?<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Quem me dera ser
thesôro<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Do dinhêro que
gánhaes.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Esta toada, com o seu quê de mourisco,
divergia muito das do Norte e centro do reino (Porto, Beira), que são mais
alegres e mais vivas. Por fim tudo cahiu em silencio (...).</span></i><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="mso-tab-count: 2;"> </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Refiramos
ainda algumas tradições curiosas recontadas por <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">José Leite de Vasconcellos</b> de Norte a Sul do País [José Leite de Vasconcellos,
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i> “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Etnografia Portuguesa - Tentame de Sistematização”</i>, Vol.VIII,
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1982, págs.378-425]:</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow";"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial Narrow";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“O Sol, ao nascer, na manhã de S. João, vem a dançar... dá três
voltas... ou sete voltas...<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Que festa haverá aí
tão popular como a do São João? – “‘Té os moiros da Moirama/ Festejam a S.
João.” (Do «Romanceiro» de Almeida Garrett).<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A noite de São João é
a noite das fantasias e do amor: as feiticeiras vão na casquinha de um ovo para
a Índia; as mouras encantadas saem dos penedos e das fontes, e estendem os seus
tesouros por sobre a relva verde à luz da lua...<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tudo nessa noite é
reboliço e vida, tudo é juventude e amor...<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ao saltarem as
fogueiras, nove vezes, com um ramo na mão, diz-se: – “Viva São João/Nosso
Senhor nos dê muito pão!”, ou, saltam as moças nove vezes a fogueira e dizem de
cada vez: – “Em louvor de São João/Que me dê um homem rijo e são!”, e ainda,
pega-se numa bacia com água muito clara, passa-se nove vezes sobre a fogueira e
depois miram-se na água; se virem a cara, chegam ao resto do ano, se não, não.<o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Pelo São João as moças
saberiam o nome do futuro marido... queimavam alcachofras e ervas pincheiras ou
deitavam ovos em água para saberem o futuro... <o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Por outro lado, as
moiras encantadas aparecem cá fora, saídas das fontes e das grutas, são
espíritos das Naturezas, despertados em época tão santa e especial - quando os
frutos começam a aparecer.” <o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow";"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow";"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial Narrow";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Rocha Peixoto</b>, outro eminente etnógrafo português, vê na crença das
mouras encantadas, que nesta noite aparecem associadas à água a mostrarem
tesouros escondidos, persistências da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“simbólica
do Sol renascendo da Terra e triunfando do Inverno; encanto: a luz dominada
pela sombra; meadas de ouro: a vitória plena da luz.”</i> [Rocha Peixoto, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">in</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Etnografia
Portuguesa”</i>, Col.’Portugal de Perto’, nº20, Publicações Dom Quixote, Lisboa,
1990, págs.57-64].</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 45pt;">
…/…».</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 45pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 16pt;">4. A Tradição do São
João<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 45pt;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
As
festividades de São João Baptista e de S. João Evangelista, respectivamente a
24 Junho e a 27 de Dezembro são coincidentes com os solstícios. Assim,
periodicamente, somos levados a reflectir na importância simbólica e espiritual
do fenómeno solsticial, inserido este no período de um ano e directamente
relacionado com o posicionamento do Sol face à Terra, ou vice-versa. Com
efeito, no Solstício de Inverno inicia-se a fase ascendente do ciclo anual;
marcando o Solstício de Verão o início da fase ascendente. No simbolismo
greco-romano têm o nome de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">portas
solsticiais</i> e são representadas pelas duas faces de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Janus</i>, que por sua vez, deram origem aos dois São João, de Inverno
e de Verão. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">porta invernal</i> introduz
a fase luminosa do ciclo enquanto que a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">porta
estival</i> está relacionada com o, a partir desse momento, progressivo
obscurecimento.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Realidade
Natural que se faz sentir com toda a certeza desde os primórdios da Criação,
foi contudo aproveitada pelos Homens Sages para fazer transportar para as
vivências da Humanidade outras Realidades, qualitativamente superiores, estas
de cariz mais Espiritual e ligadas às tradições dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mistérios</i>.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nada
melhor que o simbolismo de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Janus</i> – o deus
das duas caras – para que pudesse ser transmitido aos homens o conceito de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">princípio permanente</i>, pois que, este
deus de cara dupla simbolizava o Uno Imanifestado que ligava o passado e o
futuro no Único e Eterno Presente.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os
antigos iniciados dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mistérios</i>
romanos faziam representar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Janus</i> com
duas caras, uma, jovem, simbolizando o ano crescente, a outra, velha, símbolo
do ano moribundo. Contudo, porque símbolo do Sol, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Janus</i> não passava de uma realidade virtual, pois a Realidade
Última, perene e inefável, teria que ser apreendida para além da manifestação
dualística e exterior.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As
festas ritualísticas dos dois São João, como em certa medida toda a celebração
litúrgica, repousam pois sobre o seguinte postulado: o tempo cósmico e humano
está sujeito à regeneração perene, sendo este vai-vem rítmico dos solstícios
como que uma imagem e um reflexo sensível e natural desta lei universal.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Muito
mais se poderia dizer e especular e argumentar, sobre as diferentes iniciações
mistéricas, perante as diversas culturas e épocas, sobre superstições e
realidades, sobre costumes bizarros e cultos atávicos, contudo, gostaria tão só
referir alguns conceitos e realidades energéticas, porque ao meditá-los sinto a
possibilidade de transformação de mim próprio, via um autoconhecimento que se
pretende cada vez mais profundo.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
SOL, a primeira realidade fundamental e elemento chave das Festas de S. João. Os
solstícios são dois momentos cruciais no Ciclo da Natureza e do Ano. Realidades
ligadas à transformação, à purificação, à mudança, ao crescimento e à colheita,
à luz que combate as trevas - física, psicológica e espiritualmente. Manifestação
de Arquétipo Universal.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
FOGO, realidade ligada desde o primeiro momento com a criação, a manutenção da
Vida e a Iniciação aos Mistérios da Humanidade. Associada à Terceira Pessoa da
Trindade da Tradição Cristã - o Espírito Santo, mas indissociável a esta
Tradição está também<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cristo</i> e o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Baptismo</i> pelo Fogo. Manifestação de Arquétipo.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
FESTA, novamente a Iniciação aos Mistérios. A importância da dramatização dos
Rituais. A Consagração do Sol, do Fogo, da Natureza, do Cristo - enquanto
Realidades Cósmicas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vêm também as
Fogueiras, a Magia Naturalista das Mouras e das Fontes, os Encantamentos e a
Adivinhação, a Poesia, a Aldeia e o Paganismo. Manifestações de Arquétipos.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Espiritualmente,
todas as Realidades Arquetípicas, quando vividas com autenticidade, amor,
tolerância, são Verdadeiras.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A cadeia do
saber mistérico, iniciático e tradicional, encontra-se mergulhada nos
arquétipos eterno presente. O princípio e o fim fundindo-se e transmutando-se
na alquimia da Vida, numa génese única do Ser. A Egrégora Eterna…. A Iniciação
Solar... Tão bem transmutada e transmitida através do simbolismo perene de São
João e das suas festividades milenares.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tenhamos
então e em conta as palavras de Mestre Jesus, chegadas até nós pela palavra de
S. João Evangelista no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Evangelho Segundo
São João</i>, XV,12-17, essência última da mensagem mais profunda da Religião
Cristã:<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt;">«Este é o meu
mandamento: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem maior
amor do que o daquele que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se
fizerdes o que eu vos ordenei. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe
o que faz o seu senhor: chamei-vos amigos, porque vos manifestei tudo o que
ouvi de meu Pai. Não fostes vós que escolhestes a mim; fui eu que escolhi a vós
e vos constituí, para que vades e produzais fruto e para que o vosso fruto seja
duradouro, a fim de que tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo
conceda. Isto eu vos ordeno: que vos ameis uns aos outros.» <o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 2cm 0pt; text-align: justify;">
<o:p> </o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">PAX<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>PROFUNDA <o:p></o:p></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt;">Rui
Arimateia <o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt;">rui.arimateia@gmail.com<o:p></o:p></span></i></b></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt;">Évora,
Junho de 2013</span></i></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Arial Narrow"; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></b></div>
Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7678614957261142903.post-90419382160219350822013-05-07T21:42:00.000+01:002013-05-07T21:42:25.820+01:00Maria Beatriz Serpa Branco<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRD9wxaOa7FHCxTXReSBZm-DvkYzAbEGxCZXza_z5pbpQ-9ApgOEqnd1rD4J5X_5fUhWn-emgPqJTOSNJuI0BMDTDnbmppqFz3LU-IY5EF4Md5g3HTcb9z1yiN3DbV-NB6wyKmYNWpshtD/s1600/Beatriz.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRD9wxaOa7FHCxTXReSBZm-DvkYzAbEGxCZXza_z5pbpQ-9ApgOEqnd1rD4J5X_5fUhWn-emgPqJTOSNJuI0BMDTDnbmppqFz3LU-IY5EF4Md5g3HTcb9z1yiN3DbV-NB6wyKmYNWpshtD/s320/Beatriz.jpg" width="287" /></a></div>
<br />Emanuelhttp://www.blogger.com/profile/16275686784038745382noreply@blogger.com0